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Amamentação pode salvar a vida de 800 mil crianças e 20 mil mães por ano

Apesar da licença-maternidade ainda ser curta, o Brasil foi um dos países do mundo que mais progrediram nessa questão, segundo estudo internacional.

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 11 mar 2024, 09h24 - Publicado em 3 fev 2016, 16h00

Segundo um estudo financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, difundir a amamentação no mundo todo teria um impacto imenso na saúde global. Mais de 800 mil mortes de recém-nascidos seriam evitadas por ano – 13% de todas as mortes de crianças de até dois anos. Também seriam evitadas cerca de 20 mil mortes de mães, causadas por câncer de mama – uma doença que é prevenida com a amamentação. O impacto econômico também seria impressionante: o estudo estima que o mundo perde em torno de 300 bilhões de dólares por ano apenas com os déficits cognitivos que seriam evitados com o leite materno. O estudo, que partiu de 28 outros estudos anteriores para calcular os dados globais, saiu publicado no jornal britânico The Lancet, um dos principais do mundo.

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Há farta evidência de que a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses protege as crianças de diversos males: diarreia, asma, pneumonia. Além disso, crianças que foram amamentadas na média são mais inteligentes e têm um sistema imunológico mais eficiente. Os benefícios da amamentação duram muito além da infância: crianças amamentadas têm maior expectativa de vida e, ao que tudo indica, taxas menores de diabetes e obesidade na vida adulta. No entanto, apenas uma em cada quatro crianças no mundo recebe amamentação exclusiva nos primeiros seis meses, como se recomenda.

O problema é grave nos países mais pobres, onde apenas 1 em cada 3 crianças de até seis meses é alimentada só de leite materno – mas é mais grave ainda no mundo rico, onde a taxa é de 1 a cada 5. “Amamentação é um dos poucos comportamentos saudáveis que é mais comum em países pobres do que nos ricos – mães pobres amamentam mais que as ricas”, disse ao Lancet o pesquisador brasileiro Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas, autor principal do estudo internacional. Realmente, os índices mais preocupantes de amamentação são de países que tem pouco mais para se preocupar: na Dinamarca só 3% das crianças de 12 meses tomam o leite da mãe, no Reino Unido a taxa é de menos de 1%. “Há um engano recorrente de que amamentação pode ser substituída por produtos artificiais sem consequências graves. Mas a evidência não deixa dúvidas de que a decisão de não amamentar tem efeitos negativos de longo prazo na saúde, na nutrição e no desenvolvimento das crianças, sem falar na saúde das mães”, afirma Victora.

Países mais pobres costumam ter índices bem melhores de amamentação até pela falta de competição com esses produtos artificiais, que são caros demais para serus mercados. Bangladesh, por exemplo, é citado no estudo como um país que conseguiu aumentar seus índices de amamentação em impressionantes 13% com algumas ações simples, como a licença-maternidade de seis meses.

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O Brasil, apesar de garantir apenas quatro meses de licença-maternidade, também alcançou progressos claros nas últimas décadas com campanhas de conscientização e de combate ao preconceito. O tempo de amamentação médio das crianças brasileiras subiu de 75 dias, nos anos 1970, para 14 meses, no início do século 21.

A principal barreira à amamentação, tanto em países ricos quanto nos pobres, continua sendo cultural. Ainda é comum que mulheres sejam constrangidas a não amamentar em público, o que pode ter consequências catastróficas para a saúde das crianças.

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