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Avanço a passos largos

Para algumas pessoas, o ortopedista é aquela figura de branco, no cenário de um pronto-socorro, que examina a chapa de raios X, minutos antes de imobilizar a região traumatizada do paciente. A imagem é simplista, mas, se é a que lhe ocorre, sorte sua. Sinal de que você nunca se meteu numa encrenca da pesada, como o piloto Nélson Piquet, que, nos treinos de maio passado para a corrida das 500 milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos, bateu o carro a 342 quilômetros por hora. Assim, ele descobriu que os ortopedistas são capazes de muito mais por exemplo, reconstituir um pé esmagado. A façanha dos americanos, responsáveis pela cirurgia de Piquet, é uma amostra do que os especialistas em aparelho locomotor vêm conseguindo nos últimos anos, com a ajuda da mais alta tecnologia. Proezas realizadas aqui também, no Brasil, onde dois hospitais públicos são centros internacionais de referência o Hospital de Traumato-Ortopedia, no Rio de Janeiro, e o Sarah, em Brasilia.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 31 jul 1992, 22h00

Lúcia Helena de Oliveira

Nove em cada dez brasileiros ficam sem escapatória: ou já têm ou, do jeito que caminham, irão ter dores nas costas. A estimativa é de fisioterapeutas do Hospital de Doenças do Aparelho Locomotor, cujo prédio arrojado em Brasília é apontado pela população como sendo o do “Sarah”. Com este nome, por sinal, ele acabou conhecido no país inteiro, embora apenas o centro de reabilitação, em um edifício anexo, seja de fato chamado Sarah Kubitschek (este, aliás, é o popular “Sarinha”, no dialeto do Distrito Federal). A estatística, levantada a partir do dia-a-dia com os pacientes, não espanta. Pois, entre os 206 ossos que constroem o esqueleto de um adulto, são as 33 vértebras da espinha, eixo monumental do corpo humano, que às vezes pagam pelos pecados alheios.

“Um tornozelo pisando errado, durante uma inocente corrida dominical, é o suficiente para surgirem dores na região do pescoço. Corrida, aliás, é coisa para atletas profissionais”, adverte o fisioterapeuta paulista Oswaldo Plantier Filho, há treze anos no hospital.Todas as tardes, ele e sua equipe, o Grupo da Coluna, dão aulas de alongamentos especiais para pessoas interessadas em prevenir ou se livrar da maldita dor. Nos outros horários, o salão da Fisioterapia é ocupado por esforçados pacientes, geralmente em fase de pós operatório. Entre eles, é possível encontrar gente ilustre, como o ministro Francisco Rezek, do Supremo Tribunal Federal. Portador de uma doença congênita nas articulações, Rezek se internou no Sarah, pela primeira vez, há oito anos, para operar o punho direito. “Nunca mais senti qualquer problema na mão. Mas, infelizmente, no início deste ano foi a vez de o pé esquerdo aprontar”, conta com a voz mansa. As dores, aumentando gradativamente, atrapalhavam um de seus programas prediletos — o cooper matinal com a mulher Myréia, pelas quadras da Asa Sul de Brasília. No dia 25 do último mês de maio, Rezek entregou os pontos e apelou para a cirurgia.

Até julho, o jurista mineiro ia ao hospital uma vez por semana, vestindo camiseta e tênis. “Ele é obediente nunca reclama”, elogia a fisioterapeuta Denise Regina Matos. O ministro devolve os confetes: “Os melhores tratamentos para ossos e articulações não se encontram em Genebra, mas aqui”, afirma. “Você viu o embaixador do Haiti ali adiante?”, pergunta com riso discreto, querendo mostrar que diplomatas e pessoas extremamente humildes disputam os equipamentos fisioterápicos. Nenhum dos cerca de 250 atendimentos diários é cobrado.Na entrada, a cada quinze minutos, funcionários trocam imensos tapetes brancos, que os passantes carimbaram com pegadas cor de terra. O ritual simboliza a impecável higiene, que mantém o índice de infecção hospitalar à beira do zero. Um grupo, que deve reunir 150 pessoas até o final do ano, cuida da manutenção do prédio e da criação de aparelhagens hospitalares, projetados com a ajuda de computadores. Para completar, graças à equipe médica, o Sarah foi indicado no ano passado pela Organização Mundial da Saúde como um dos dez melhores hospitais do planeta, na área de distúrbios do aparelho locomotor.

Não é à toa, existem rumores de que o campeão Nélson Piquet pretende deixar os Estados Unidos, onde vem se recuperando, para continuar o tratamento no Sarah. “Ouvi a história”, admite o ortopedista Aloysio Campos da Paz, cirurgião-chefe e responsável pela criação do hospital, há dezesseis anos. “Por enquanto, nenhum parente do Piquet me procurou.” Incansável, o médico carioca fez sua manobra mais radical em dezembro passado, ao apresentar o chamado contrato de gestão — um sistema de administração, aprovado pelo governo.

Desse modo, surgiu no Brasil o primeiro hospital público sem funcionários públicos. Desvinculado do Ministério da Saúde, a instituição é que decide onde aplicar seus recursos. “Sem amarras podemos pagar salários compatíveis com o mercado e segurar conosco os grandes especialistas”, resume Campos da Paz. “Em compensação, perde-se a regalia da estabilidade de emprego.” Apesar de se desdobrar em dezenas de atividades diárias — ele entra no hospital às 7 da manhã, sem ter hora para sair —, Campos da Paz garante espaço na agenda para as cirurgias. “As de Ortopedia infantil são a minha grande paixão”, revela. Essas operações têm indicações cada vez mais precisas, isto é, os médicos conseguem localizar exatamente o ponto deficiente no aparelho locomotor da criança. Isso graças à parafernália de equipamentos que decora o chamado Laboratório do Movimento, localizado no térreo do hospital de Brasília. “Se examinássemos as mãos de um grande pianista, revelaríamos os segredos de sua destreza”, gaba-se a fisioterapeuta mineira Sheila Marques Denucci, que há seis meses coordena o lugar.

No dia-a-dia, porém, o laboratório é freqüentado basicamente por pessoas com problemas de locomoção. “Chegam aqui os casos mais complicados, em que o olho humano, por mais treinado que seja, pode se enganar.” De propósito, Sheila atravessa a sala, jogando exageradamente os quadris: “Quando os médicos viam uma criança caminhar deste jeito”, diz, repetindo a performance no trajeto de volta à cadeira “suspeitavam que ela tinha problemas na bacia. E muitas vezes chegavam a operá-la para corrigir esse defeito, sem obter resultados satisfatórios com isso. Porque a raiz do problema poderia estar na posição do joelho. O desvio dos quadris seria apenas uma conseqüência “, exemplifica. Para tornar a história mais clara, a fisioterapeuta compara o episódio imaginário da criança com a situação de quem está com o pé machucado: “Essa pessoa pisará torto, para driblar a dor”, supõe. “Com as devidas diferenças, aquela criança tentava driblar o defeito no joelho, jogando os quadris. Não é um mecanismo consciente: o corpo sempre tenta se mover da forma em que gasta menos energia.”No laboratório, para a análise começar, são colados 25 marcadores na pele do paciente. A sala fica em penumbra.

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Acendem-se lâmpadas estroboscópicas — aquelas que costumavam piscar desenfreadas nas discotecas dos anos setenta, causando a impressão de que as pessoas se sacudiam em câmara lenta. Mas, no caso, as lâmpadas emitem raios infra-vermelhos, que se refletem nos marcadores. O paciente, então, realiza uma breve caminhada. “Câmaras dispostas em ângulos diversos disparam uma série de fotografias”, conta o engenheira eletrônico José Aroldo de Assis Cavalcanti, o único da equipe nascido em Brasília. As fotos, porém, não dizem nada aos leigos, que notam apenas pontinhos brilhantes, como estrelas no céu escuro. Não é para menos, um técnico pode demorar horas, decifrando a imagem. “Isso porque é preciso informal ao computador o que é o quê”, diz outro engenheiro, o cearense Ariosto de Souza Júnior. “Por exemplo, se determinado ponto é o do joelho ou o do tornozelo.” Não é uma tarefa fácil, se levar em conta que, com cinco câmaras e 25 marcadores, devem-se localizar 125 pontos em cada instante clicado.”Com esses dados, o computador consegue medir a distância de cada passo, a inclinação exata dos pés e dos quadris, o ritmo da marcha”, diz Sheila, que depois se debruça para analisar os gráficos. “Às vezes, ainda fazemos a eletromiografia, isto é, a medição do trabalho dos músculos envolvidos em determinado movimento, com a ajuda de eletrodos.” Segundo o cirurgião infantil Álvaro Massao Nomura, a análise do movimento com o computador consegue simular uma cirurgia.

“Em crianças com deformações sérias, os músculos ficam encurtados e parecem travar os movimentos. Mas você não tem certeza se compensa fazer uma cirurgia, para estirar a musculatura. No laboratório, contudo, é possível injetar substâncias capazes de tirar esse músculo de ação por alguns instantes; é o suficiente para você prever o que aconteceria depois da cirurgia.”As operações para reconstruir essas também evoluíram bastante nos últimos anos, na opinião do ortopedista paulista Cláudio Solacci, acostumado a tratar pacientes com tumores, no Sarah. “O grande problema é que a maioria das pessoas procura o médico quando já sente dor há mais de ano nessa área”, lamenta. ” Diagnosticado precocemente, o câncer ósseo não é uma sentença de morte. Entre 60 e 80% dos pacientes conseguem sobreviver.” Além de extrair o tumor em si, o cirurgião deve raspar a área ao seu redor, por garantia, evitando deixar para trás alguma célula cancerosa. O resultado, previsível, é um tremendo rombo. “Para preenchê-lo, hoje em dia existem materiais, feito gomas, fisicamente parecidos com os ossos, ou seja, com certa elasticidade”, anuncia. Os ossos são ligeiramente flexíveis e irrigados por sangue como outras estruturas do organismo. “Eles não são nada parecidos com pedras”, brinca.

Podem até ficar deformados, conforme o impacto.”Junto com um arsenal de hastes; ou pinos, os cimentos ósseos também são usados para colar os caquinhos restantes de fraturas múltiplas, como as do pé esquerdo de Piquet. “As pessoas ficaram impressionadas com o aparente quebra-cabeça de identificar ossos. Mas essa é a parte menos complicada”, informa o cirurgião. “Quando há uma fratura muito feia, é preciso verificar se os vasos sangüíneos não foram arrebentados”, diz ele. Sem receber sangue, as células da região machucada acabam morrendo — o quadro triste acaba em gangrena, que leva à amputação. Felizmente, os especialistas em cirurgia vascular vêm utilizando instrumentos delicados para costurar até os vasos menores. Desse modo, a amputação tende a se tornar cada vez mais rara.As cirurgias para reconstituir ossos quase nunca são realizadas numa única etapa. “Se a fratura foi exposta, isto é, se o osso rasgou a pele, pode ter entrado de tudo dentro daquele pé, como areia, graxa, partículas do metal do carro”, fala Solacci. “Por isso, o procedimento normal é abrir novamente, passados dois dias da primeira cirurgia, para fazer uma verdadeira limpeza com soro fisiológico.” Solacci nota que os resultados das operações de reconstituição têm sido melhores, graças aos novos modelos de fixadores externos: “São fios que perfuram a pele e laçam o osso fraturado, mantendo-o firme na posição certa.”

Entre as cirurgias que mais lucraram ultimamente estão as de joelho. “Quando se tinha de substituir um ligamento, bastava desviar um milímetro do ângulo certo e aquela articulação nunca mais seria a mesma”, diz o cirurgião Demétrio Jabur. “Hoje em dia, porém, temos usado a artroscopia”, explica. “Com a ajuda de fibras óticas, conseguimos ver o que se passa dentro do joelho. Fica difícil errar.”Os joelhos também lucraram com os ligamentos artificiais, que lembram uma espécie de trança de carbono e poliéster: “É uma união perfeita”, comemora o bem-humorado ortopedista Lais Turqueto, do Hospital de Traumato-Ortopedia (HTO), no Rio de Janeiro. “Antes, existiam ligamentos de carbono, que por serem muito rígidos, costumavam desprender fragmentos, depois de certo tempo de uso. Isso causava inflamações.” O problema do poliéster era oposto ao do carbono: extremamente elástico, quando aplicado na fabricação de ligamentos, ele muitas vezes não resistia ao eterno encolhe-estica. “Agora, um material parece compensar os defeitos do outro”, diz Turqueto. O ligamento artificial, fique claro, não dura no joelho para sempre.

“Ele é um molde, em torno do qual o organismo vai criando um novo tecido conjuntivo. Portanto, o objetivo é servir de base para o próprio joelho regenerar.”O médico começou a usar o ligamento de poliéster e carbono ainda em 1989 no HTO — um centro reconhecido pela fabulosa equipe de cirurgiões. Em maio do ano passado, junto com o colega Idemar Monteiro da Palma, ele substitui os ligamentos do joelho direito na ginasta Eliane da Cunha Simão, 20 anos, atual medalha de ouro brasileira de cama elástica. No mês que vem, ela participará do campeonato mundial, na Nova Zelândia. “Eu caí de mau jeito, depois de fazer duas piruetas mortais no ar com as pernas esticadas”, conta a atleta, que então treinava para os jogos pan-americanos. Na verdade, Eliane foi desobediente: “Ela tinha ordem para não pisar numa cama elástica durante um ano”, diz Palma. “Quando o Turqueto descobriu que ela havia voltado a treinar poucos meses depois, deu-lhe uma bronca com dedo em riste”, lembra o ortopedista, rindo ao recordar a fúria do colega. Mas admite: “Eliane, claro, é uma exceção. Mas seu caso mostra que os ligamentos artificiais conseguem ser mais eficientes do que imaginávamos.”Também surgem novas próteses para pessoas com problemas nas articulações nos quadris. “Os modelos antigos eram presas com um cimento que, com o passar do tempo, danificava os ossos”, comenta o ortopedista Paulo César Rondinelli, diretor do hospital e especialista nessa área.

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“Recentemente, porém, começamos a usar próteses feitas de materiais extremamente porosos. A tendência é o osso do paciente crescer ao redor, entrando nesses buracos microscópicos e, dessa maneira, fixando ele próprio a prótese.” Os médicos concordam, porém, em que o osso natural tem características — ao menos por enquanto — insubstituíveis. “Um quadril artificial moderno não dura mais do que vinte anos”, diz Rondinelli. Já o esqueleto humano, por mais que se desgaste, é um legitimo herói da resistência. Por esse motivo, há dois anos, o HTO criou um banco de ossos de cadáveres.”Os ossos são completamente limpos, numa sala em que o ar é captado por filtros de velcro, capazes de reter qualquer tipo de partícula”, conta o ortopedista Edilberto Ramalho. “O primeiro passo é retirar uma amostra, para realização de testes, como o de Aids. Depois, mesmo para raspar os restos de cartilagem e outros tecidos, temos de nos vestir feito astronautas.” A indumentária especial é para evitar que o osso seja contaminado.

Segundo Ramalho, o banco do HTO obedece aos padrões do Primeiro Mundo. Só tem um porém: esbarra no preconceito: “As pessoas pensam que o doador irá ficar mutilado, o que não é verdade. Os ossos do cadáver são substituídos por próteses de plásticos”, avisa. Outro destaque no HTO são as cirurgias de coluna — especialidade que poucos médicos querem aprender. “Em primeiro lugar por causa dos riscos, já que nessa região passam muitos nervos”, especula o médico Luiz Cláudio Schettino. “Depois, são operações que duram até quatro horas. A gente sai estressado.” Para o médico, o maior progresso na sua área, nos últimos tempos, é um aparelho francês, o Cotreel-Dubousset: duas hastes e diversos ganchos corrigem colunas deformadas pela escoliose. “No terceiro ou quarto dia a pessoa já está andando”, ele conta. “E o melhor: sem aquele tradicional colete.”

Para saber mais:

Dor nas costas

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(SUPER número 4, ano 9)

Movimento volver

(SUPER número 3, ano 11)

Tratamento com design especial

No final da tarde, em Brasília, pode-se ver um ou outro paciente deitado tomando sol, nos jardins do Hospital Sarah. isso porque os internos ocupam camas equipadas com rodinhas, as camas-macas. Quando participou do seu projeto, em 1976, o arquiteto Cláudio Blois Duarte não tinha a intenção de promover esse tipo de passeio. “O objetivo era, em vez de espalhar equipamentos por todo o hospital, concentrá-los em determinados núcleos — salas de fisioterapia, por exemplo —, dando condições para o paciente ir até eles.”Além disso, a invenção diminui o índice de infecções hospitalares, ao evitar que um doente tenha de se deitar na maca que acabou de ser usada por outro. Hoje, Duarte dirige o EquipHos, como se chama o setor de equipamentos hospitalares. Nele, engenheiros, arquitetos e desenhistas industriais desenvolvem desde carrinhos para carregar refeições até muletas menos caras e mais confortáveis.Discreto, o brilho dos olhos entrega a paixão do arquiteto pelos projetos de sua equipe. A vibração só perece maior quando fala do hobbie de voar de planador. “Gostei também de ter ajudado a criar um colchão especial para pacientes com paralisia”, conta Duarte. “Bombas de ar simples, como as de aquário, vão enchendo ou esvaziando bolsões. Assim, o ponto de apoio do corpo vai alternando, evitando as escaras, que são terríveis.” Entre os protótipos que ainda está guardando, está o de um aparelho para paraplégicos, capaz de virar as páginas de um livro com um sopro.

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Um jeito alegre de ensinar e de aprender

O ambiente é alegre; nas salas, cercadas por jardins, espalham-se jogos coloridos. Trata-se da “Escolinha” do Sarah, encarregada de reabilitar crianças com paralisia cerebral. “O cérebro delas sofreu uma lesão, quando ainda não estava maduro”, explica a psicopedagoga Lúcia Willadino Brasa. “Isso pode acontecer, por exemplo, por falta de oxigenação no parto.”O problema engloba uma série de sintomas — entre eles, convulsões e, às vezes, retardamento mental. Em comum, essas crianças têm distúrbios de locomoção, que podem ser desde um leve arrastar de pernas até uma tetraplegia. Além de cuidar da Escolinha, a psicopedagoga se dedica a uma empolgante tese: quer mostrar que muitas crianças com a chamada coreoatetose — um dos tipos mais graves de paralisia cerebral— podem ser superdotados.”Elas não falam, não andam, não pegam objetos e, ainda, babam muito”, descreve a pesquisadora. “Por isso, os que as vêem passar pensam que são retardadas.” Só há pouco mais de uma década, os cientistas provaram que esses garotos têm, no mínimo, inteligência normal. Com uma haste especial, presa na cabeça, esses meninos conseguem apertar as teclas de um computador: “E impressionante a velocidade em que são alfabetizados e o vocabulário que usam em seus textos”. Ela conta que uma menina, aos 12 anos, somente três meses depois de aprender o abecê, digitou: “Tem uma fala dentro da minha cabeça, eu posso formular meus pensamentos.” Por isso, Lucinha defende vagas para esses garotos em escolas normais.

A ponte entre os ossos e os genes

Os geneticistas estão botando os pés na Ortopedia. “Devem-se procurar eventuais defeitos nos cromossomos. quando há dificuldades de crescimento”, defende a bióloga mineira Teresa Bounte de Carvalho, do Hospital Sarah. de Brasília.”Um adolescente pode ser muito baixinho porque seus genes determinam uma deficiência hormonal. A estatura, então, seria apenas um dos sintomas de disfunções mais serias.” De fato, uma série de distúrbios de locomoção tem raízes na herança genética: “Moléculas defeituosas de enzimas, fabricadas a partir de uma receita errada dos genes, se acumulam sobre os ossos. Daí, estes se deformam”, exemplifica o patologista Jaime Moritz Brun que, junto com Teresa, especializou-se em Genética nos Estados Unidos. “A análise dos fatores genéticos evita, às vezes, que as doenças se agravem”, diz ele. “E orienta os pais sobre os riscos de reincidência, caso desejem outros filhos.”

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Próteses na era dos robôs

Logo cedo, o biólogo Sérgio Romaniuc Neto dirige até o Instituto de Botânica de São Paulo. Ali, pesquisa as plantas que beiram os rios brasileiros, um estudo que o obriga a constantes viagens, para colher espécies com as próprias mãos — as duas eletrônicas. Isso porque, há três anos, Romaninc esbarrou em um fio de alta tensão no alto de uma árvore. Os braços tiveram de ser amputados e, em seu lugar, o biólogo usa próteses de última geração. “Dispositivos captam os sinais elétricos dos nervos nos músculos do coto que. amplificados, acionam os motores das mãos”, explica o cirurgião vascular Nélson De Luccia.Em 1990, o médico se afastou do consultório paulistano, para conferir o braço criado na Universidade de Utah, Estados Unidos. “É a prótese mais sofisticada do mundo”, garante o médico. Se o usuário contrai o músculo peitoral, o braço eletrônico flexiona: ao relaxá-lo, o cotovelo trava, na altura desejada. A partir daí, automaticamente, é a mão que passa a mexer. “Ou seja, a mesma contração do peitoral agora fecha os dedos”, descreve o paciente Romaniuc, com o braço de Utah. “Para abri-los, eu contraio o tríceps. Já a contração simultânea dos dois músculos devolve os comandos ao cotovelo, que se estende com uma nova ajuda do tríceps.”

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