Se você, assim como o estagiário que vos escreve, não consegue ler no ônibus sem passar mal, já deve ter se perguntado por que isso acontece. O enjoo de movimento (também conhecido pelo nome em inglês motion sickness) acontece quando há uma discrepância entre o movimento que seus olhos percebem e o que seu aparelho vestibular percebe.
Esse aparelho com nome de prova fica no ouvido interno e é o responsável pelo equilíbrio e orientação espacial. Ele constantemente fornece informações sobre os movimentos e posição da cabeça e do corpo para o cerebelo e partes do cérebro. Daí vêm os sintomas: tontura, fadiga, dor de cabeça, incapacidade de concentração, pele pálida, náuseas e vômitos.
Em um passeio de carro, barco ou avião, você vê o movimento ao redor e seu aparelho vestibular sabe que está se mexendo. Mas seus músculos estão parados ou se movimentando num sentido diferente. O enjoo de movimento também pode aparecer ao jogar videogame, em que seus olhos percebem movimento, mas o resto do seu corpo não. O contrário acontece quando você tenta ler no busão.
Nada disso é novidade para a ciência. Contudo, os detalhes neurológicos desse processo não são nada claros. É isso que um grupo de pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, se propuseram a descobrir.
Em uma pesquisa, publicada no periódico PNAS, eles examinaram o cérebro de ratos; mais especificamente, neurônios ligados ao equilíbrio. Os neurônios de sete ratos foram ativados, e os pesquisadores acompanharam seu comportamento.
Depois de uma hora e meia, esses ratinhos percorreram um terço da distância de um grupo controle de cinco indivíduos (andar menos é uma atitude observada em ratos tontos, que passaram muito tempo girando). Eles também comeram menos depois da ativação das células, o que pode ser um sinal de náusea.
Os pesquisadores então analisaram geneticamente os neurônios. Eles descobriram células especialmente importantes para induzir os sintomas do enjoo, e que elas tinham um receptor já conhecido. Então, eles resolveram testar um medicamento que bloqueava esse receptor, chamado devazepida.
Dez ratos receberam devazepida e foram girados dentro de um dispositivo de rotação. Meia hora depois, eles caminharam três vezes mais do que os que receberam o placebo antes do gira-gira. Isso sugere que a devazepida pode ser usada para prevenir o enjoo.
Os atuais remédios para enjoo disponíveis podem causar sonolência. O efeito colateral indesejado pode ajudar com o mal-estar, mas atrapalha sua capacidade de realizar certas atividades. A devazepida não tem esse efeito.
Contudo, antes de sair recomendando qualquer droga para as pessoas, os pesquisadores precisam determinar se as descobertas se transferem para os humanos. Se a mesma via cerebral determinar o enjoo em nós, os cientistas podem ter feito uma descoberta importante para entender (e reduzir) um tipo de enjoo tão comum e tão incômodo.