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Como funciona a cirurgia que restaura a visão com um pedaço de dente dentro do olho

Conheça a osteo-odonto-queratoprótese (ou OOKP), que é utilizada em casos raros de danificação da córnea.

Por Bela Lobato
12 mar 2025, 14h00

Pode parecer coisa de filme de ficção científica, mas a osteo-odonto-queratoprótese, também conhecida pela sigla em inglês OOKP, é um tipo de cirurgia real que existe desde os anos 1960. Criada pelo oftalmologista italiano Benedetto Strampelli, a técnica consiste em utilizar um pedaço do dente do paciente para restaurar a visão em casos graves de cegueira corneana.

A descrição pode soar bizarra, mas faz sentido. A ideia é criar uma “janela” na frente do olho, substituindo as partes danificadas. O dente é o suporte ideal onde se pode furar o buraco, já que é um dos tecidos mais resistentes do corpo humano. Por ser um material do próprio paciente, há menor risco de rejeição.

A solução funciona para apenas casos muito específicos: os pacientes são pessoas com cegueira grave da córnea na parte frontal dos olhos causada por doenças autoimunes, queimaduras químicas e outros traumas. Elas ainda têm retina e nervos ópticos saudáveis na parte de trás dos olhos.

O procedimento ocorre em etapas. Primeiro, os médicos extraem um dente (geralmente um canino) junto com parte da mandíbula. Esse pedaço é esculpido em forma de lâmina e é perfurado no centro, onde é inserida uma lente especial. 

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Até aqui, ainda estamos no campo da odontologia. A parte inusitada começa agora: o dente modificado é costurado dentro da bochecha do paciente. A ideia é permitir que o tecido da boca envolva e nutra o dente, criando uma estrutura biológica mais resistente e menos suscetível à rejeição. 

Após três meses de “hospedagem” na bochecha, chega a hora de sua verdadeira missão: ser implantado no olho. Na segunda fase da cirurgia, o dente-lente é removido da bochecha e colocado na frente do olho, substituindo a córnea danificada. Um pequeno orifício na mucosa permite a entrada de luz, restaurando a visão do paciente. 

A visão não volta ao que era antes. Em geral, os pacientes ficam com um campo de visão mais limitado, como se enxergassem através de um buraco de fechadura. O olho também fica com uma aparência diferente, porque a parte ao redor da íris é revestida por tecido da mucosa da boca. Assim, a parte que deveria ser branca fica uma aparência rosada – mas pode ser recoberta por uma prótese estética.

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Imagem A, Resultado final 3 meses após a cirurgia. B, Prótese cosmética cobrindo a superfície ocular externa.
Sem a prótese estética, o olho fica como na figura A – coberto com a mucosa avermelhada do interior da boca, e com um pequeno círculo para a passagem da luz. Na imagem B, o mesmo olho com a prótese, para efeitos estéticos. (Dr. Giancarlo Falcinelli; Dr. Benedetto Falsini; Maurizio Taloni, Dr.; Dr. Paulo Colliardo; Dr. Giovanni Falcinelli/Reprodução)

Apesar de existir há décadas, a cirurgia não é comum. Além da especificidade dos casos, o processo também é muito complexo e longo – geralmente, leva meses até a visão retornar.

Entretanto, os resultados costumam ser positivos. Um estudo de 2022 analisou os resultados de 82 olhos de 59 pacientes operados entre 1969 e 2011, e constatou que 94% dos dentes implantados ainda estavam firmes. Os pacientes relatam conseguirem retornar para suas atividades cotidianas e até para a prática de esportes.

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