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Contraceptivo unissex e à base de plantas dopa espermatozoides

Chamada de "camisinha molecular", a pristimerina age como maracujina para as células masculinas, que perdem o ânimo de entrar no óvulo.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
23 Maio 2017, 16h18

Você, um espermatozoide saudável, resolveu participar da corrida da fertilização. Seus concorrentes são estranhamente parecidos com você – em cada mililitro de sêmen, 20 milhões de células idênticas balançam o rabinho rumo ao óvulo para tentar conquistá-lo. Só uma vai vencer.

Ao milhares, vocês trombam com a parede do óvulo e forçam a passagem, como um fã de música que luta contra a maré da pista para alcançar a frente do palco. Eis que ocorre a mágica – de uma hora para outra, sem explicação, você e seus conterrâneos se sentem fracos. Seus flagelos perdem propulsão, e todos caem em um sono letárgico.

O óvulo pode fazer as malas – não é dessa vez que ele vai virar bebê. Os gametas masculinos estão todos fora de combate, vítimas de um golpe anticoncepcional clássico da medicina tradicional chinesa que acaba de ser descoberto por três biólogas da Universidade de Berkeley, na Califórnia.

A substância responsável por impedir a fecundação se chama pristimerina, que é encontrada na planta Tripterygium wilfordii. Sua principal qualidade é ter exatamente a mesma forma física da progesterona, um hormônio muito importante para a reprodução humana. São como duas peças de LEGO idênticas, com o mesmo encaixe, mas cores diferentes.

A progesterona é mais famosa por regular, em parceria com o estrogênio, o ciclo menstrual feminino. Mas ela tem outra função, bem menos gloriosa: servir de Red Bull de espermatozoide conforme ele tenta romper a parede do óvulo (acredite, se você tem 0,0002117 centímetro de comprimento, isso cansa um bocado).

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É por isso que, da mesma forma que assistentes ficam no canto da pista dando garrafas d’água aos corredores em provas olímpicas, o óvulo mantém um estoque de progesterona em seu entorno para a hora da verdade. Quando as células masculinas dão um “gole”, o hormônio gera uma reação química em cadeia que faz a cauda ir de um balançar gentil a um ritmo frenético em um piscar de olhos, aumentando a aceleração e permitindo a penetração de um deles.

A pristimerina é igual ao Redbull de espermatozoide – mas tem o efeito contrário. Se o gameta masculino dá um gole por engano, cai duro no chão. Aumente a dose o suficiente e bingo: ele servirá como anticoncepcional, um 100% natural, sem efeitos colaterais e, mais importante ainda, unissex. Tanto faz dopar os espermatozóides ainda no corpo do homem ou atrapalhar seu caminho quando já estão no corpo da mulher. Seu bônus é o alívio ético – como ele evita a união das células, evita também as críticas de religiosos que argumentam que a vida começa já na primeira divisão celular.

No artigo científico, as pesquisadores relatam que, além da solução hippie, testaram também o efeito de três hormônios sobre o ânimo das células reprodutivas: testosterona, cortisol e estrogênio. Os dois primeiros atuaram de forma parecida, mas não foram tão eficientes. E, é sempre importante lembrar, se aplicados na prática, viriam com desvantagens parecidas com as das pílulas anticoncepcionais atuais.

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“Os compostos presentes em plantas bloqueiam a fertilização em concentrações muito, muito baixas. Eles podem se tornar uma nova geração de contraceptivos de emergência que chamamos de camisinhas moleculares”, afirmaram as autoras do estudo à imprensa. “Se você puder usar uma substância de origem vegetal, que não é tóxica e não é um hormônio, para evitar a fertilização em primeiro lugar, ela será uma opção melhor.”

Em princípio, a pristimerina poderia ser ministrada de várias formas: como um anel vaginal ou adesivo na pele, no caso das mulheres, e por via oral, de forma preventiva, no caso de homens. Como o óvulo não é fecundado logo após a ejaculação, se a mulher tomar uma dose da substância logo após a relação, o truque também fará efeito. Essas soluções, evidentemente, ainda precisarão passar por muitos testes antes de serem aplicadas em seres humanos reais e então chegarem ao mercado, mas é pouco provável que tenham efeitos colaterais semelhantes as técnicas hormonais comuns. Agora, é preciso esperar.

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