Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Coronavírus pode causar sintomas neurológicos em alguns pacientes

A causa ainda não é certa, mas alguns casos têm sintomas como desorientação, tonturas, derrames e até inflamação severa no cérebro.

Por Bruno Carbinatto
30 abr 2020, 17h58

À medida que a pandemia avança e entendemos os detalhes novo coronavírus, mais sintomas são adicionados para a lista da doença. Sabemos, por exemplo, que alguns sintomas menos conhecidos podem ser de Covid-19, como diarreia e perda de paladar e olfato. Já reportamos aqui na SUPER também que há pacientes que desenvolvem sintomas cardíacos devido ao vírus. E, agora, médicos de todo o mundo estão começando a relatar que alguns pacientes podem desenvolver sintomas neurológicos durante a infecção.

Ainda não está claro exatamente qual o mecanismo usado pelo novo coronavírus para afetar o cérebro, nem o quão comum isto é – muitas pesquisas publicadas até agora são “estudos de caso”, que analisam a doença em um único paciente ao invés de grupos mais abrangentes.

Um destes artigos descreve o caso de um homem de 74 anos que foi diagnosticado com Covid-19 no começo de março, nos Estados Unidos. Além dos sintomas clássicos da doença, ele também apresentava alguns incomuns: perdeu repentinamente a capacidade de falar e seu corpo tinha espasmos que lembravam uma convulsão. Os médicos identificaram encefalopatia no paciente – condição em que o cérebro tem sua função normal alterada por algum fator: uma infecção viral ou bacteriana, por exemplo.

Outro caso intrigante foi de uma mulher que apresentou confusão mental e foi piorando ao longo dos dias, perdendo a capacidade de resposta. Seus exames mostravam que partes do seu cérebro estavam inflamadas, e algumas células chegaram a morrer. Ela foi diagnosticada com encefalopatia necrotizante aguda, um quadro de inflamação no cérebro raro e grave que pode ser causado por infecções virais, como pelo vírus da gripe (Influenza).

Também já foram identificados pacientes que desenvolveram Síndrome de Guillain-Barré, um transtorno neurológico em que o sistema imunológico ataca células nervosas por engano, afetando a movimentação do corpo e podendo causar até paralisia. E outros relatos em diversos países, como China, Itália, França, Estados Unidos e Alemanha, mostram casos de confusão mental, derrames, tontura, fortes dores de cabeça, convulsões e desorientação em alguns pacientes. Mas são relatos dispersos e ainda faltam pesquisas definitivas que nos ajudem a entender melhor o cenário.

Alguns poucos estudos já analisaram esses sintomas em um grupo maior de pacientes. Um deles, que acompanhou 214 pacientes em Wuhan, na China, relatou que 78 deles apresentou algum tipo de sintoma neurológico – o que equivale a 36% do total. O grupo também notou que esse tipo de sintoma apareceu mais comumente em quem tinha sintomas respiratórios mais severos da doença, como dificuldade em respirar sem aparelhos, e também em quem era mais velho e possuía doenças pré-existentes. 

Outro estudo, dessa vez na França, estimou que, entre os casos mais severos da doença, entre 46% a 84% dos pacientes desenvolvem algum tipo de sintoma neurológico. Em mais uma pesquisa, que analisou 113 casos fatais de Covid-19 em pacientes chineses, mostrou que 22% desenvolveu algum sintoma do tipo. E já foram descritos alguns poucos casos de pacientes infectados com coronavírus que não apresentaram nenhum sintoma clássico – como tosse e febre –, mas tiveram apenas sintomas neurológicos.

Vale lembrar, porém, que a maioria dos pacientes não parece apresentar sintomas neurológicos graves, principalmente em casos leves – nestes, uma dor de cabeça geralmente é o mais próximo disso que deve aparecer. Além disso, o que causa mais problemas, e o que geralmente causa a morte, são os danos ao sistema respiratório. 

Ainda não se sabe porque esses sintomas neurológicos aparecem. Uma hipótese é de que o responsável seja o próprio sistema imunológico da pessoa – a Covid-19 ativa uma resposta imunológica muito forte, que visa acabar com o vírus, mas pode acabar atacando várias células saudáveis por engano no processo e causar mais mal do que bem. Sabe-se que isso acontece nos tecidos pulmonares, e há a possibilidade disso acontecer nas células do cérebro também, o que explicaria os variados sintomas neurológicos.

Há quem defenda também que o próprio vírus possa atacar o cérebro por si só. Não é nenhuma novidade de que o SARS-CoV-2 se aloja principalmente no sistema respiratório – nariz, boca, traqueia, faringe e pulmões, por exemplo – mas, em casos raros, ele pode se aventurar por outros tecidos, como no sistema digestivo (por isso a diarreia acontece em alguns pacientes). Uma teoria é que o vírus seja levado por células do sangue ao cérebro e lá comece a causar estrago.

É apenas uma hipótese, mas não seria o primeiro vírus a fazer isso. Os coronavírus causadores da MERS e da SARS, bem como o HCoV-OC43 (um outro coronavírus que causa resfriados leves em humanos), já foram observados infectando células do cérebro em casos raros. E mesmo outros vírus respiratórios, como o próprio vírus da gripe, podem fazer o mesmo. Por sorte, isso acontece muito raramente. Mas como a Covid-19 está se espalhando rapidamente e infectando milhões ao redor do mundo, é possível que esse tipo de sintoma seja cada vez mais observado.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

A ciência está mudando. O tempo todo.

Acompanhe por SUPER.

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.