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Covid-19 pode causar inflamação rara em crianças, diz estudo

Pesquisa americana aponta risco de os mais jovens apresentarem sintomas severos – sobretudo aqueles que já sofrem de outras condições crônicas.

Por Guilherme Eler
15 Maio 2020, 11h48

O novo coronavírus representa uma ameaça maior à população idosa. Por terem mais chances de sofrer com outras doenças (como problemas cardíacos ou diabetes, por exemplo) e uma resposta imune mais desregulada, eles costumam ser infectados mais facilmente – além de sofrerem mais com os sintomas da Covid-19 e apresentarem recuperação mais demorada.

Não à toa, o número de óbitos nessa faixa etária costuma ser bem maior. No Brasil, 69% dos 14 mil mortos tinha mais de 60 anos. Em países como Itália e Espanha, onde a população de idosos é mais numerosa, estima-se que esse total possa chegar a 95% dos óbitos.

Já se sabe que a maior vulnerabilidade dos mais velhos, no entanto, não exclui o risco para os jovens. E, segundo um estudo produzido pela Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, é possível que a extensão desses problemas venha sendo subestimada. A pesquisa, publicada na revista científica Jama Pediatrics, foi a primeira a analisar jovens dos Estados Unidos que desenvolveram uma condição rara associada à Covid-19. Trata-se de um tipo de síndrome inflamatória grave, que afeta múltiplos órgãos e pode ser encontrada seis semanas após a criança ou adolescente ter contraído o novo coronavírus.

Entre 14 de março e 3 de abril, o estudo acompanhou 48 pessoas – a maioria delas tinha entre 4 e 16 anos – com Covid-19, que estavam internadas em UTIs pediátricas nos Estados e Canadá. 40 deles sofriam de outros problemas de saúde, como obesidade, diabetes, ou problemas crônicos nos pulmões.

Por causa da Covid-19, mais de 20% dos pacientes analisados sofreram falha em algum órgão – principalmente o pulmão. Quase 40% precisaram de ventiladores mecânicos para respirar, e o tempo de internação foi maior do que a média dos infectados – que costuma ser por volta de duas semanas. Ao final do período do estudo, 1 em cada 3 ainda respirava por aparelhos. Dois deles morreram.

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Segundo um pronunciamento do governo de Nova York do dia 13 de maio, agentes de saúde suspeitam que 102 crianças e adolescentes do estado teriam apresentado as mesmas complicações. A mesma síndrome associada à Covid-19 também vem sendo investigada em jovens na Europa, como na Itália e Inglaterra. Febre alta e persistente, pressão baixa e dores abdominais são apontados como os principais sintomas. Estas são respostas parecidas àquelas causadas por outros quadros inflamatórios, como a doença de Kawasaki, que causa inflamações na corrente sanguínea – ainda que certos especialistas rejeitem a comparação.

A taxa de óbitos de crianças e adolescentes apontada pelo estudo segue baixa se comparada a de adultos, é verdade. Como destacou a revista Science News, 5% dos casos de UTI analisados no estudo morreram devido ao novo coronavírus. No caso dos adultos, a mortalidade nos casos internados EUA pode variar entre 50% e 62%. O impacto que a doença pode ter na saúde de pessoas em cada faixa etária, no entanto, é algo que ainda precisa ser mais estudado. E a importância da prevenção e do isolamento social continua valendo para todos, claro.

“A ideia de que a Covid-19 poupa os mais jovens é falsa”, disse Lawrence C. Kleinman, co-autor do estudo, em comunicado. “Enquanto crianças que sofrem de outras condições crônicas, incluindo obesidade, são mais propensas a ficarem doentes, é importante notar que crianças sem doenças crônicas também estão em risco. Pais precisam continuar levando o vírus à sério”, completa.

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