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Estudo revela que populações indígenas envelhecem com menos inflamação

Pesquisadores analisam como diferentes modos de vida influenciam na longevidade, comparando povos indígenas e sociedades industrializadas.

Por Manuela Mourão
30 jun 2025, 19h00

Populações humanas com estilos de vida menos industrializados podem não sofrer por “inflammaging” (união das palavras em inglês para inflamação e envelhecimento), um tipo específico de inflamação crônica que está vinculada ao envelhecimento.

Um novo estudo comparou dados de duas populações indígenas, da Amazônia boliviana e da Malásia peninsular, com as da Itália e Singapura e mostrou que as pessoas das comunidades indígenas não apresentavam a mesma ligação entre inflamação crônica e doenças relacionadas à idade como indivíduos em sociedades industrializadas.

A inflamação é um processo natural e importante para a proteção e cura de alguma lesão, infecção e inflamação do organismo. Durante esse procedimento, o corpo envia glóbulos brancos ao local afetado – é o jeito que seu corpo se defende de qualquer malfeitor que possa te fazer mal. Como resultado, o lugar inflamado pode inchar, ficar vermelho, esquentar e até doer bastante.

Em alguns casos, essas inflamações podem ser crônicas, ou seja, são respostas prolongadas do sistema imunológico a uma agressão persistente e podem durar meses ou anos.

Até então, cientistas acreditavam que inflamações de baixo grau – batizada de inflammaging – era uma característica universal do envelhecimento. Porém, um estudo publicado hoje na Nature Aging questiona se essas inflamações estão diretamente ligadas ao envelhecimento ou se é um resultado do estilo de vida ou ao ambiente de um indivíduo. 

O estudo comparou amostras de sangue de cerca de 2.800 adultos entre 18 e 95 anos e focou em oito tipos de citocinas, moléculas liberadas pelas células de defesa que atuam em processos inflamatórios.

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Nas populações urbanizadas, o aumento constante desses marcadores ao longo da idade esteve associado a problemas como doenças renais crônicas. “Essas observações estavam dentro do esperado”, afirmou o pesquisador Alan Cohen, coautor do estudo, para a Nature.

Mas nos grupos indígenas Tsimane, da Bolívia, e Orang Asli, da Malásia, os altos níveis de inflamação pareciam ter origem diferente – infecções por parasitas, bactérias ou vírus – e não se relacionavam ao surgimento de doenças ligadas à idade.

Para Thomas McDade, também autor do estudo, isso sugere que “nossa suposição de que a inflamação é uma parte inexorável e inevitável do envelhecimento não é verdadeira.”

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Para os cientistas, o achado desafia a noção de que toda inflamação é nociva. “Talvez existam tipos bons e ruins de inflamação”, sugere Cohen para o The New York Times. “Mesmo com sinais inflamatórios no sangue, os indígenas não apresentavam os mesmos quadros de doenças observados nos grupos industrializados. Isso pode indicar que o simples fato de haver inflamação não é tão prejudicial quanto se imaginava.”

McDade, que há anos estuda o povo Tsimane, acredita que a resposta esteja no estilo de vida. Ele sugere que o contato precoce com microrganismos presentes na água, no solo e em alimentos pode fortalecer a resposta imunológica de forma duradoura.

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“Ao mesmo tempo, pessoas em ambientes urbanizados estão expostas a poluentes e toxinas com efeitos pró-inflamatórios”, diz para o jornal americano. Dieta, sedentarismo e estresse seriam agravantes comuns nos centros urbanos. Já entre os Tsimane, a alimentação é baseada em vegetais, e a vida comunitária se dá em pequenos assentamentos familiares.

Apesar de os cientistas ainda não saberem ao certo o que explica tamanha diferença, eles apontam que o sistema imunológico das populações indígenas parece ser muito mais bem regulado. 

Além disso, os pesquisadores alertam que a grande maioria dos estudos sobre envelhecimento e inflamação ainda é baseada em populações de países ricos, como os Estados Unidos. Nessas regiões, doenças associadas ao envelhecimento, como diabetes, Alzheimer e problemas cardíacos, são comuns.

Já entre os grupos indígenas, essas condições são raras, mesmo com a presença de inflamação no organismo. “Não devemos presumir que as ligações entre inflamação e envelhecimento sejam universais”, diz McDade para a Nature

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“A forma como entendemos inflamação e saúde no envelhecimento reflete quase exclusivamente o que se observa em países de alta renda”, afirma McDade. “Mas quando olhamos o mundo como um todo, percebemos que há muito mais variação biológica do que imaginávamos.”

Cohen acrescenta dizendo que “as coisas que consideramos universais com base em muitos estudos em populações industrializadas ocidentais provavelmente são específicas do nosso ambiente.”

Os pesquisadores também dizem que, embora o combate à inflamação seja alvo de interesse crescente da indústria farmacêutica, focar apenas em medicamentos ou suplementos pode ser menos eficaz do que adotar mudanças duradouras no estilo de vida.

Para quem deseja envelhecer com mais saúde, as melhores apostas ainda são alimentação equilibrada e prática regular de atividade física.

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O estudo abre caminho para investigações mais detalhadas sobre os fatores que protegem contra o envelhecimento inflamatório. “Há oportunidades empolgantes de pesquisa para entender por que essas diferenças ocorrem”, conclui McDade. “E o que podemos aprender com elas.”

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