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Fumar na adolescência pode estar associado a menor massa cinzenta do cérebro

É o que mostra uma pesquisa publicada na Nature. Entenda a relação entre o tabagismo e a região do cérebro responsável pela tomada de decisão, emoções e o prazer.

Por Caio César Pereira
Atualizado em 31 ago 2023, 15h11 - Publicado em 29 ago 2023, 20h17

Que fumar não é exatamente sinônimo de hábito saudável, você já tá cansado de saber. Há inúmeras as pesquisas sobre as consequências da nicotina e outros compostos ao organismo. A mais recente foi publicada no periódico Nature, no último dia 15: pesquisadores descobriram que o hábito de fumar pode diminuir a massa cinzenta do cérebro em adolescentes.

Antes de entrar em detalhes da pesquisa, vamos a uma rápida explicação. A massa cinzenta do cérebro é a parte onde fica concentrada a maior parte dos neurônios. É nessa região que fica o córtex cerebral – basicamente o centro de operações do corpo –, responsável por controlar nossa capacidade de linguagem, pensamento, memória e percepção. Provavelmente, é essa a região que o famoso detetive belga Hercule Poirot (personagem dos mistérios de Agatha Christie) se vangloria tanto de ter, e que o ajuda a resolver os crimes.

A equipe de cientistas descobriu que quanto mais cedo começa o consumo de tabaco em adolescentes, maiores podem ser os efeitos na tomada de decisão e autocontrole quando adultos. Isso porque essas são capacidades que dizem respeito exatamente à parte cinzenta de nosso cérebro.

Liderados pelo pesquisador de bioinformática Tianye Jia, da Universidade Fudan (China), e pelo neurocientista cognitivo Shitong Xiang, os cientistas compararam imagens de ressonância magnética de mais ou menos 800 pessoas, espalhados por países como Alemanha, França, Reino Unido e Irlanda.

Junto à análise, os voluntários responderam a questionários sobre seus traços de personalidade, de forma que os cientistas pudessem observar como o hábito de fumar influenciou a vida dessas pessoas ao longo dos anos. Depois, os resultados dos fumantes que começaram a fumar com 14, 19 e 23 anos foram comparados aos não fumantes. 

Aqueles que começaram a fumar aos 14 anos apresentaram menos massa cinzenta na região do córtex pré-frontal ventromedial esquerdo. Essa é uma das partes do córtex ligada ao controle de emoções, na tomada de decisões e também ao prazer. 

A psiquiatra Barbara Sahakian, da Universidade de Cambridge, é uma das pesquisadoras do estudo e explica: “O córtex pré-frontal ventromedial é uma região-chave para a dopamina, o neurotransmissor do prazer no cérebro. Além de ter um papel em experiências gratificantes, a dopamina também é conhecida por afetar o autocontrole.”

Os questionários aplicados ajudaram os cientistas a fazer essa correlação. Aqueles que apresentaram menos matéria cinzenta no córtex pré-frontal direito, por exemplo, foram justamente aqueles que tinham maior tendência a procurar e experimentar novas sensações. Já o lado esquerdo indicava uma maior disposição a assumir riscos. A junção de ambos pode fazer exatamente com que a vontade de fumar dos adolescentes aumente.

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Parte dos voluntários estudados havia começado a fumar aos 19 anos. Essas pessoas já apresentavam menos massa cinzenta no córtex pré-frontal esquerdo antes de começarem a fumar. Já o lado direito dessas pessoas era igual ao dos não fumantes, até começarem o hábito. Os pesquisadores acreditam que a redução do lóbulo frontal esquerdo pode indicar uma tendência prévia ao vício. Por enquanto, é possível apontar a correlação (mas não a causalidade) entre o tabagismo na adolescência e redução de massa cinzenta.

“O tabagismo é talvez o comportamento viciante mais comum no mundo, e uma das principais causas de mortalidade em adultos. O início do hábito de fumar é mais provável de ocorrer durante a adolescência. Qualquer maneira de detectar uma maior probabilidade disso, para que possamos direcionar intervenções, poderia ajudar a salvar milhões de vidas”, diz o psicólogo e um dos pesquisadores, Trevor Robbins.

Segundo dados da OMS, nove em cada dez pessoas começam a fumar antes de completarem 18 anos. E com os resultados obtidos no novo estudo, os pesquisadores pretendem descobrir se os efeitos ao cérebro também acontecem para os que utilizam o vape, o famoso cigarro eletrônico. Com a falta de regulação no país, o consumo de vape no país triplicou entre os anos de 2018 e 2022. 

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