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Glossário da Psicologia

O que significam alguns dos termos mais usados nas ciências da mente

Por Marina Bessa
11 out 2017, 18h15

Ansiedade

Não é doença. Ela faz parte do nosso sistema de defesa e está projetada em quase todos os animais vertebrados, do peixinho dourado até a sua tia-avó. É o sentimento típico de quem vive no futuro, se preocupando com as coisas que ainda vão acontecer. Se estamos vivos hoje, é a ela que devemos agradecer, porque nos fez ser mais cautelosos durante séculos e séculos de evolução. A ansiedade só se torna preocupante quando começa a atrapalhar nossa vida. Aí, sim, ela pode ser sinal de transtorno. A boa notícia é que todos os tipos de ansiedade podem ser tratados com remédios ou terapia. Mas, por mais que eles atrapalhem o trabalho, o namoro e as coisas boas da vida, nem sempre é bom se livrar deles. “Não podemos simplesmente reprimir a ansiedade. O mundo precisa ter pressa, energia e motivação, e a nossa sobrevivência depende disso”, diz Valentim Gentil, professor da USP e Ph.D. em psiquiatria.

ansiedade
(Stockphoto4u/iStock)

Autismo

Todo autista se foca obsessivamente em temas muito específicos, tem comportamentos repetitivos e não se interessa em interagir com outras pessoas. Mas, enquanto a imagem mais comum é a da criança ensimesmada balançando para a frente e para trás, o espectro do autismo vai desde o atraso mental até o desenvolvimento completo da linguagem e do aprendizado – caso da síndrome de Asperger. Quem tem esse transtorno não se interessa em dividir experiências e emoções, tem padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento e de interesses, e não abre mão de sua rotina. Isso torna o convívio difícil – mas pode ter um efeito colateral inesperado: muitas características da síndrome de Asperger aumentam a criatividade.

Consciência

Esse filme que só você assiste – e que reúne a história da sua vida, preferências, emoções, enfim, a sua identidade – tem origem em uma série de atividades integradas no seu cérebro. Para Susan Greenfield, pesquisadora da Universidade de Oxford, a consciência não é um lampejo, mas um contínuo de conexões dos seus neurônios, que vão ocorrendo do momento em que você nasce até o fim da sua vida. A cada nova experiência, seu cérebro faz uma representação mental que é armazenada em sua memória. “Quanto mais o mundo passa a ter significado para você, mais conexões são feitas em seu cérebro”, diz Susan Greenfield. Ou seja: o que faz de você você é a soma de todas as representações que você faz dos outros e do seu ambiente, e que pode se expandir a cada dia.

Depressão

É, historicamente, um conceito bem novo. Por séculos, ela era uma doença misteriosa chamada de melancolia. Mas melancolia, tristeza e depressão são coisas diferentes. Só a última é doença, com sintomas reconhecidos, padronizados e tratamentos específicos. A Organização Mundial da Saúde aposta que em 2030 a depressão já será a doença mais comum do mundo, à frente de problemas cardíacos e câncer.

depressão
(visualspace/iStock)
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Esquizofrenia

A esquizofrenia é um entre os vários quadros de psicose – todos ligados à perda de contato com a realidade. Ela causa alucinações, delírios e desorganização do pensamento, além de apatia, isolamento social e tendências suicidas. Ao que tudo indica, a condição tem um forte componente genético associado a alterações no desenvolvimento do sistema nervoso. Como tem uma faceta progressiva – quanto maior o número de crises, mais o cérebro adoece -, os medicamentos buscam evitar novas recaídas, além de diminuir os sintomas agudos. A partir dos 50 anos, a turbulência reduz e o transtorno tende a se estabilizar. Importante: aquela imagem do doente mental com comportamentos bizarros normalmente associada à figura do esquizofrênico é, em geral, falsa, fruto de um estigma. “Um esquizofrênico bem tratado e com medicação controlada tem um comportamento natural”, afirma o psiquiatra Mário Louzã, da USP.

Felicidade

Trata-se de um conceito mais filosófico do que científico. Uma das definições mais redondas, de qualquer forma, é a proposta pelo psicólogo americano Martin Seligman. Suas pesquisas concluíram que a felicidade é, na verdade, a soma de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado. Prazer, aquela sensação que costuma tomar nossos corpos quando dançamos, ouvimos uma piada engraçada, fazemos sexo ou comemos chocolate. Já “engajamento” é a profundidade com a qual você se envolve em suas atividades. E, finalmente, “significado” é a sensação de que você tem um propósito na vida, e de que caminha em direção a ele.

felicidade
(g-stockstudio/iStock)

Freud

Em seu consultório, no final do século 19, Sigmund Freud desenvolveria o que ele batizou como psicanálise. Muitas ideias controversas formam o arcabouço de sua teoria. Contudo, o fundamento mais básico foi um acerto fantástico: a compreensão da mente passava necessariamente pela existência do inconsciente. Só o fato de ter conseguido antecipar essa constatação mais de um século antes de a ciência ter como comprová-la já é incrível. Mas Freud fez mais que isso: com suas ideias, obteve uma legião de seguidores e encorajou como ninguém as discussões sobre os mecanismos internos da mente.

Inconsciente

Concebido de forma estruturada pela primeira vez pelo médico austríaco Sigmund Freud no final do século 19, o conceito de inconsciente traz a ideia de que boa parte da psique humana retém traumas e sentimentos reprimidos do passado – e não pode ser acessada de forma consciente, pela vontade do indivíduo. Mesmo escondidas, essas memórias teriam influência sobre emoções e comportamentos atuais. Apesar de nunca ter dado muita bola para a psicanálise, a neurociência sabe, hoje, que o inconsciente não só existe, como é responsável por 95% da nossa atividade cerebral. Diferentemente do lobo frontal ou do cerebelo, o inconsciente não é um lugar específico no cérebro e sim um conjunto de processos mentais que se desenvolvem sem intervenção da consciência. Ele se encarrega de tudo o que fazemos sem esforço perceptível, como andar pela rua, falar, ler ou escovar os dentes. E mais importante: como desconfiava Freud, a interpretação inconsciente de estímulos negativos é fonte de muitas das aflições humanas – fato comprovado por experimentos científicos recentes.

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Intuição

Você tem capacidade de ler microexpressões faciais, identificar relações promissoras, farejar trapaças e detectar um farsante em questão de segundos, mesmo sem saber explicar o porquê. Tudo graças à sua intuição, que nada mais é do que uma avalia-ção muito rápida (e inconsciente) do seu cérebro.

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(violet-blue/iStock)

Medo

No miolo do cérebro, existe o sistema límbico. É uma parte mais primitiva, que coordena reações instintivas. Seu pedaço mais importante é a amígdala, que detona as sensações de medo. “Você está caminhando por um bosque, vê uma cobra, e imediatamente pula para trás, sem sequer pensar a respeito. A amígdala é a responsável por essa resposta”, explica Raül Andero, neurocientista da Emory University, nos EUA. Como as cobras eram um perigo constante para nossos ancestrais, a evolução moldou o cérebro para ter medo delas. Prova disso é que macacos criados em laboratório, que nunca viram uma cobra, se assustam se forem colocados diante de uma (em compensação, se eles tiverem a amígdala retirada, deixam de sentir todos os tipos de medo).

Psicanálise

É a escola de análise mental criada por Sigmund Freud, no século 19. Essa linha psicoterapêutica acredita que a interpretação inconsciente de episódios negativos é a fonte de muitas das aflições humanas. O resgate dessas memórias é feito por meio da livre associação de ideias. Durante a sessão, o paciente fica em uma situação de relaxamento e é orientado a falar tudo o que vem à cabeça. O princípio é de que, com a sucessão de relatos nas sessões de análise, somada ao trabalho conjunto com o analista, aos poucos o sujeito possa compreender e atribuir sentido às causas de seu sofrimento. Um psicanalista não precisa ter curso superior de psicologia ou psiquiatria.

Psicologia

Por definição, a psicologia é o estudo científico do pensamento, percepção, emoção, aprendizagem e comportamento dos seres humanos. Isso quer dizer que o psicólogo, que tem formação superior em psicologia, analisa a forma com que as pessoas registram o mundo à sua volta. Ele pode usar a psicoterapia como seu instrumento de trabalho, mas essa é só uma das muitas formas de intervenção psicológica. Há desde os psicólogos sociais, que estudam as massas, até os de RH, que selecionam candidatos.

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Psiquiatria

É a especialização médica que busca tratar doenças mentais. Quando surgiram, ainda no século 18, os psiquiatras trabalhavam apenas em hospícios. Só quando a psiquiatria pegou emprestados conceitos da psicologia é que casos mais moderados foram para consultórios. Sintomas mais graves e doenças de definição mais clara, como esquizofrenia, Alzheimer e depressões profundas são cuidados pelo psiquiatra. Mas, como nesses casos a terapia sozinha não dá conta do recado, tratamentos psiquiátricos costumam incluir remédios. Por serem médicos, psiquiatras estão aptos a prescrever medicações e determinar internações. Assim como o psicólogo, o psiquiatra pode escolher a psicanálise como suporte teórico para seu trabalho.

TDAH

Estima-se que um em cada 20 adultos apresente sintomas suficientes para ser diagnosticado com o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Desatenção, inquietude e impulsividade são alguns deles. O que já foi uma vantagem adaptativa se transformou em um problema quando a cultura e o ambiente mudaram e a vida passou a exigir mais foco. Mas há quem acredite que os genes ligados ao TDAH também sejam responsáveis por mentes extremamente criativas.

Tédio

Todo mundo já sentiu tédio, mesmo que não saiba defini-lo: trata-se de uma estranha sensação de vazio, mas bem diferente da preguiça ou do cansaço. “É um leve sentimento de repulsa, produzido temporariamente em circunstâncias previsíveis e inevitáveis”, define Peter Toohey, professor da Universidade de Calgary, no Canadá. Outro pesquisador, John Eastwood, da Universidade de York, também no Canadá, define o enfado de forma diferente. Segundo ele, é uma “experiência aversiva de querer, mas não conseguir, se engajar em uma atividade satisfatória”. O tédio aparece quando não temos estímulos, e piora quanto mais obcecados estivermos com ele. Ou seja, simplesmente pensar que estamos entediados já aumenta a sensação. Mas sentir tédio tem lá suas vantagens – ele pode fazer de você uma pessoa muito mais interessante. Entre os pesquisadores do tema, não há dúvidas de que o tédio esteja relacionado à criatividade – e de que mentes criativas sofram mais com ele.

tédio
(Alina555/iStock)

Tentação

A clássica imagem dos desenhos animados em que o personagem tem um anjo num ombro e um diabo no outro não é exagero. De acordo com as pesquisas mais recentes, é assim mesmo que nos comportamos diante das tentações – uma batalha se trava entre a vontade de sentir prazer imediato e o esforço de adiá-lo. As pessoas mais disciplinadas levam vantagem: o autocontrole está ligado ao sucesso e à consciência em relação ao futuro (se você soubesse que vai morrer amanhã, não teria por que guardar dinheiro, por exemplo). Mas não dá para abrir mão de todos os prazeres, claro. Até porque alguns estudos indicam que o nosso autocontrole é limitado: quem gasta todo o estoque tentando fazer dieta pode não ter força suficiente para acordar cedo no dia seguinte.

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Timidez

Temer o próximo parece uma característica sem sentido para um animal tão sociável quanto o ser humano. Mas o fato é que 90% das pessoas admitem terem sido tímidas em algum período da vida. Quarenta e cinco por cento passam a vida toda acanhadas. E 4% têm uma timidez que as impede de trabalhar, namorar ou fazer amigos. Em níveis diferentes, os três grupos sentem o mesmo desconforto: medo de virar motivo de chacota. De tão preocupados com a opinião alheia, acabam desenvolvendo um jeito estranho de se portar. “Tímidos são apenas pessoas fora de forma para relações sociais”, diz Lynn Henderson, da Universidade Stanford. Mas um tímido pode ser tão engraçado e simpático como qualquer outra pessoa – muitas vezes, ele só precisa de um empurrãozinho para se sentir à vontade.

TOC

Ou transtorno obsessivo-compulsivo: é caracterizado por pensamentos involuntários de naturezas diversas. Podem estar relacionados à limpeza (medo de se contaminar, por exemplo), a dúvidas (é o caso de quem nunca acredita que trancou a porta), à sexualidade (nojos e vergonhas) e à violência (pensamentos sobre matar ou fazer mal a alguém), entre outros. Para tentar controlar a ansiedade, desenvolvem-se rituais – como lavar as mãos compulsivamente – que tendem a se tornar paralisantes. A boa notícia é que o transtorno pode ser controlado com terapia e remédios, principalmente aqueles que promovem a circulação de serotonina no cérebro.

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(DonNichols/iStock)

Transtorno de personalidade

Diferentemente do que acontece na esquizofrenia ou na depressão, o cérebro de quem sofre com transtornos de personalidade não apresenta alterações anatômicas ou fisiológicas. O problema aqui é o padrão de comportamento dos indivíduos, que foge muito do que é esperado dentro de uma sociedade. Transtorno de personalidade social (psicopatia), paranoide (caracterizado pela tendência à desconfiança) e boderline (indivíduos muito inconstantes, exagerados e extremistas) são alguns exemplos desse tipo de transtorno. Na maior parte das vezes, o paciente não se dá conta do problema, por isso, o diagnóstico precisa ser feito a partir das perspectivas dos outros. E essa avaliação não é simples: aquele amigo um pouco metido não é necessariamente um narcisista. Você pode ser um grande animador de torcidas, sem que seja um histriônico. O que define o comportamento como doença é que ele acarrete problemas concretos para si e para os outros.

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