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Hóspede misterioso: a bactéria por trás de problemas no estômago

Ela pode estar presente em até 70% dos brasileiros e seus sintomas são ignorados por grande parte das pessoas. A boa notícia é que há tratamento

Por Abril Branded Content
Atualizado em 12 mar 2024, 09h24 - Publicado em 23 Maio 2018, 08h00

Enquanto você lê este texto, há uma boa chance de uma bactéria indesejada estar alojada nas paredes do seu estômago. Trata-se do Helicobacter pylori, mais conhecido como H. pylori, identificado pela primeira vez em 1982 por dois cientistas australianos. O achado representou um marco no tratamento de várias doenças gástricas que, como hoje se sabe, podem estar ligadas à presença desse micro-organismo. Tanto que a dupla recebeu um Nobel pela descoberta.

Isso porque, até então, se acreditava que o estômago era um ambiente inabitável. “Havia um paradigma de que nenhum micro-organismo conseguiria viver no órgão por conta de sua acidez”, explica Luiz Chehter, gastroenterologista professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ocorre que não só o H. pylori gosta desse ambiente como os humanos são o maior reservatório da bactéria no planeta.

Prova disso é a alta incidência desse agente na população. “Estima-se que metade das pessoas do mundo o possuam e, no Brasil, essa taxa chega aos 70%”, aponta Jaime Zaladek Gil, gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “O índice está relacionado a questões de higiene e saneamento básico. Por exemplo, na Austrália, ele está em 25% dos habitantes”, completa Gil.

Tudo começa ainda na infância. “Adquirimos a infecção provavelmente nesse período, mas não sabemos disso porque a bactéria chega e causa uma gastrite aguda pequena, que pode nem se traduzir em sintomas”, conta Maria do Carmo Friche Passos, gastroenterologista professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e vice-presidente do Núcleo Brasileiro de Estudo do H. pylori e Microbiota.

E, mesmo que haja algum sinal como dor de estômago e náusea, o quadro é fácil de ser confundido com uma má digestão passageira. Por isso, dificilmente alguém procura o médico na primeira manifestação da infecção. Discreto, o bacilo passa anos praticamente indetectável, mas ativo.

Um incêndio escondido

“A maioria das pessoas nunca saberá que tem a bactéria, mas ela provoca um estado crônico de gastrite”, explica Friche. Vale fazer uma diferenciação: gastrite aqui é o processo inflamatório de alguma região do estômago, não a queimação e azia que sentimos e batizamos assim, cujo real nome é dispepsia. Quando se trata da versão crônica, quase nunca há queixas envolvidas.

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Sem tratamento, a presença do H. pylori pode evoluir para quadros mais sérios, como uma úlcera (Pedro Piccinini/Abril Branded Content)

“Mas um percentual menor de indivíduos pode ter problemas, entre eles as úlceras, que são em grande parte causadas pelo H. pylori”, aponta Gil. Sem contar que essa inflamação constante está por trás da formação de tumores na região. “O câncer de estômago está muito ligado à presença da bactéria”, destaca Friche.

Antes de se apavorar, saiba que é difícil que a bactéria por si só cause a temida doença. “Depende muito da cepa do H. pylori e de outros fatores, como alimentação e herança familiar”, esclarece a gastroenterologista mineira. Mas, como as técnicas para saber qual o tipo de H. pylori que temos ainda são caras e inacessíveis, a recomendação é despejar esse hóspede indesejado tão logo ele seja descoberto.

Como é feito o diagnóstico?

Primeiro, existem indícios de que o H. pylori está vivendo no seu estômago. “Ele está associado à sensação da gastrite, náuseas, em especial matutinas, sentimento de estufamento, dor na região ao se alimentar e depois e até vômitos”, explica Dan Weitzberg, gastroenterologista professor da Universidade de São Paulo (USP).

Se houver histórico de câncer na família, a recomendação é investigar mesmo sem sintomas – até mesmo porque muitas vezes eles são inexistentes. A pesquisa é geralmente feita por meio de endoscopia: o médico retira com o aparelho um pedaço pequeno da mucosa e realiza um teste que denuncia na hora a presença da bactéria ali. Mas já existem outros métodos, menos invasivos.

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“Há o teste respiratório, que detecta pelo ar que expiramos alguns produtos que a bactéria produz, e a pesquisa nas fezes pelo antígeno do H. pylori”, aponta Chehter.

Procure seu médico para informações sobre o tratamento. Afinal, vale mais uma visita ao médico do que viver com um visitante problemático em casa, não é mesmo?


Referências bibliográficas

Ahmed N. 23 years of the discovery of Helicobacter pylori: Is the debate over? Ann Clin Microbiol Antimicrob 2005;4:17 [acesso em 15 jan 2018]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1283743/

Kusters JG, Vliet AHM, Kuipers EJ. Pathogenesis of Helicobacter pylori Infection. Clin Microbiol Rev 2006 Jul;19(3):449-490 [acesso em 15 jan 2018]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1539101/

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Mazzoleni LE, Mazzoleni F. Tratamento e retratamento do Helicobacter pylori [acesso em 15 jan 2018]. Disponível em: https://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=4309

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