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Na Índia, remédios para covid-19 são vendidos com 600% de ágio no mercado clandestino

Nesta semana, o país se tornou o terceiro com mais casos de coronavírus. E a escalada do Sars-CoV-2 já começa a ter um efeito econômico: os preços de certos medicamentos dispararam.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 8 jul 2020, 19h38 - Publicado em 8 jul 2020, 18h24

No início desta semana (6), a Índia ultrapassou a Rússia e se tornou o terceiro país com mais casos confirmados de coronavírus no mundo, somando 742 mil infectados. Apesar do cenário negativo, o país tem se destacado devido à baixa taxa de mortalidade; foram, no total, 20,4 mil mortes. O governo indiano reservou mais de mil hospitais para tratar os pacientes com covid-19 e não economizou em testes: foram realizados mais de 10,4 milhões. (O Brasil testou cerca de 4,3 milhões de pessoas e ocupa a segunda posição do ranking de mais afetados.)

Mesmo tendo conseguido controlar a taxa de óbitos – que é de 14,96 mortes para cada milhão de habitantes, bem abaixo da média global de aproximadamente 68 –, a Índia vem tendo seus próprios problemas com o novo coronavírus. Uma investigação feita pela BBC mostrou que alguns remédios usados no tratamento da doença estão em falta no mercado, sendo encontrados apenas de forma ilegal por preços seis vezes maiores do que o comum. 

Nenhum medicamento tem eficácia 100% comprovada contra a infecção pelo novo coronavírus, mas alguns compostos, usados para o tratamento de outras doenças, estão sendo aplicados em alguns países para ensaios clínicos ou em situações emergenciais. Esse é o caso do remdesivir. 

Em maio, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos EUA realizou uma pesquisa com o remdesivir, que é usado originalmente para tratar hepatite C. Ele se mostrou capaz de reduzir em 26% o tempo médio de internação em casos graves de covid-19, além de reduzir a taxa de mortalidade dos pacientes testados de 11,9% para 7,1%. 

Em entrevista à BBC, moradores da cidade de Nova Déli, capital indiana, relataram a dificuldade em encontrar o medicamento para seus parentes em estado grave. O preço original do remédio é 5.400 rúpias, cerca de R$ 385. No entanto, no mercado clandestino está sendo vendido por cerca de 30.000 rúpias, ou R$ 2.142. Esses são os valores para um frasco; cada paciente deve tomar, em média, de cinco a seis doses do medicamento.

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O remédio foi originalmente desenvolvido pela empresa americana Gilead Sciences. Ela permitiu que quatro laboratórios indianos produzissem o medicamento para distribuí-lo no país:  Cipla, Jubilant Life, Mylon e Hetero Drugs. Mas apenas a última começou a fabricar o remédio. Além disso, a distribuição é extremamente baixa. Até agora, foram oferecidas cerca de 20 mil doses para cinco estados diferentes. Enquanto isso, o país bate recordes de infecção: no último domingo (5), foram registrados 25 mil novos casos em um único dia. Contar com o suprimento externo também é complicado, já que os EUA adquiriram toda a produção da Gilead pelos próximos três meses.

A Hetero Drugs afirmou que os medicamentos não são entregues a distribuidores, e sim direto aos hospitais. Não se sabe ao certo de que forma o remdesivir está chegando ao comércio ilegal. A droga não é a única sendo usada contra o coronavírus na Índia. Também há o tocilizumabe, normalmente usado para o tratamento de artrite reumatoide.

O tocilizumabe é vendido pela Cipla em nome da Roche, companhia suíça. É um medicamento importado e de difícil acesso. Nos estabelecimentos de Nova Déli, os vendedores prometem aos consumidores que irão conseguir o remédio, mas pelo triplo do preço oficial. Apesar disso, representantes da Cipla afirmaram à BBC que o tocilizumabe não está sendo vendido de forma ilegal e que todas as doses estão sendo controladas pela farmacêutica.

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