Nova vacina contra dengue apresenta 80% de eficácia em 1º grande teste
A nova fórmula, testada por uma equipe de cientistas do Japão com 20 mil voluntários, tem algumas vantagens em relação à já existente.
Uma nova vacina contra a dengue está sendo desenvolvida por uma empresa japonesa com participação de cientistas brasileiros. Um relatório divulgado pelos pesquisadores mostrou resultados dos primeiros testes clínicos em mais de 20 mil crianças — e eles são promissores.
O estudo foi publicado na The New England Journal of Medicine. A vacina foi testada em crianças e jovens entre 4 e 16 anos de idade de 26 locais diferentes da Ásia e América Latina. Há um ano, eles receberam a primeira dose da droga – ou de um placebo –, e três meses depois receberam a segunda dose. Durante esse tempo, os pacientes foram avaliados para verificar se contraíam a doença ou não.
Criar uma vacina eficaz contra a dengue é um desafio para os cientistas. Isso acontece porque ela é transmitida por quatro tipos diferentes de vírus, tornando bem mais difícil criar uma única droga para combatê-los.
O sarampo, por exemplo, só existe em uma única forma. Quem pega sarampo uma vez não volta a contrair a doença porque o corpo já desenvolveu uma resposta imunológica contra aquele vírus. No caso da dengue, o indivíduo pode ser infectado até quatro vezes pelos diferentes tipos da mesma doença.
A TAK-003, nome dado à nova vacina, teve eficácia de 73,7% para o tipo 1, 97,7% para o tipo 2 e 62,3% para o tipo 3. Houveram crianças infectadas com o tipo 4, mas os números não foram expressivos o suficiente para entrar na conta final. Nos casos em que as crianças pegaram dengue mesmo com a vacina, a severidade dos sintomas foi bem menor.
Já existem algumas outras vacinas contra a dengue no mercado. A mais famosa é a Dengvaxia, que foi aprovada no Brasil em 2015 e é a única liberada para venda no país. No entanto, ela só é recomendada para quem já contraiu algum tipo de dengue. Quando é aplicada em pessoas que nunca tiveram a doença, o organismo não a reconhece como uma vacina, e sim como uma primeira infecção. Se a pessoa acaba sendo picada de verdade pelo mosquito, ela apresenta sintomas bem mais graves do que o normal.
A Tak-003 apresentou 80,2% de eficácia no total. A Dengvaxia havia apresentado 59,1% de eficácia durante o mesmo período de testes. Há ainda uma outra vacina que está sendo desenvolvida aqui no Brasil, no Instituto Butantan. Ela já está na última etapa de testes e, depois que passar pelas fases de segurança, poderá ser aprovada para distribuição gratuita no SUS.
Em 2019, as ocorrências de dengue aumentaram drasticamente no país. Até agosto, foram registrados quase 1,5 milhão de casos, comparado com 200 mil no mesmo período de 2018. O aumento foi de 600% em um ano.
Mesmo com os resultados animadores do TAK-003, ainda vai demorar um bom tempo até que a vacina esteja disponível para o público. As crianças voluntárias do primeiro teste ainda serão acompanhadas de perto por mais quatro anos e meio — e só depois ele será um candidato a ser liberado para uso. A SUPER entrou em contato com um dos pesquisadores brasileiros para apurar mais detalhes, mas ele afirmou não poder comentar o estudo.