O desabafo da professora de Harvard que diz que “Óleo de coco é veneno”
Karin Michels não poupou palavras na sua palestra "Óleo de coco e outros erros nutricionais". Entenda o lado dela e de onde vem a fama do polêmico óleo
Alimentos “milagrosos”, mas que na verdade não cumprem tudo aquilo que as propagandas dizem, aparecem de tempos em tempos. Já tivemos o óleo de peixe, o chá de hibisco, e o queridinho dos últimos tempo – o óleo de coco. Teoricamente, ele possuiria mil e uma utilidades: melhoraria o sistema imunológico, aumentaria o metabolismo e a função tireoidiana e ajudaria na prevenção das mais diversas doenças – de câncer a fibromialgia. A característica que o tornou mais famoso, porém, seria sua capacidade de promover uma rápida perda de peso.
Mas o culto ao óleo de coco não recebeu o mesmo afã da parte dos cientistas. Pelo contrário – há quem seja veementemente contra o seu consumo. Esse é o caso Karin Michels, uma professora de Harvard que viralizou na internet (o vídeo já passa de um milhão de acessos, você pode conferi-lo aqui, com áudio original em alemão) por ter chamado o óleo de “veneno puro”.
Michels é epidemiologista da Escola de Saúde Pública de Harvard, e o seu “desabafo” fez parte de uma palestra chamada “Óleo de coco e outros erros nutricionais”, apresentada por ela na Universidade de Freiburg, Alemanha – onde também é diretora do Instituto de Prevenção e Epidemiologia de Tumores. Ela criticou a moda de “superalimentos” que transforma, sazonalmente, alimentos em curas mágicas. Durante a palestra, ela destaca o óleo de coco, em específico, como “uma das piores coisas que você pode consumir”.
O principal argumento da especialista são os altos níveis de gordura saturada do óleo de coco – 86% desse óleo é gordura saturada pura. A manteiga, por exemplo, costuma ser 51% feita de gordura saturada – e até a banha de porco contém menos da metade, proporcionalmente, desse tipo de gordura (39%). O grande problema das gorduras saturadas é que elas aumentam os níveis de LDL (lipoproteína de baixa densidade), vulgarmente conhecido como colesterol ruim — que pode obstruir veias e aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como infarto ou AVC.
A professora não é a primeira a falar mal do óleo de coco. No ano passado, a American Heart Association revisou a eficácia de vários alimentos, dentre eles o polêmico óleo. Enquanto três quartos do público dos EUA consideravam o óleo de coco saudável, apenas 37% dos nutricionistas concordaram. Os autores atribuíram o abismo na percepção à grande divulgação do óleo de coco na imprensa popular. E isso se repercute nas vendas: no Reino Unido, por exemplo, a arrecadação do óleo subiu de 1 milhão para 16,4 milhões de libras nos últimos quatro anos. Nos EUA, em 2015, foi acumulado 229 milhões de dólares pra conta do óleo de coco. Famosas como Angelina Jolie e Miranda Kerr são adeptas ferrenhas de ingerir uma colherada do óleo puro por dia.
O outro lado do óleo
Apesar de tudo, não dá para chamar todo mundo que defende o óleo de coco de charlatão. Que o óleo de coco é cheio de gordura saturada ninguém discorda – mas o que divide especialistas é se, mesmo na gordura saturada desse óleo, poderia existir algo de especial.
O tipo específico de gordura saturada mais presente nesse óleo é chamado de ácido láurico. A grande questão é que os cientistas ainda não estão certos dos efeitos exatos dele. Alguns alegam que, por se tratar de um ácido graxo de cadeia média, ele pode contribuir para elevar o nível de HDL (lipoproteína de alta densidade), vulgo colesterol bom.
Vide todas as controvérsia, a rede de TV pública britânica, a BBC, fizeram um teste para a série Trust Me, I’m a Doctor,, em parceria com professores da Universidade de Cambridge. No experimento, 94 voluntários saudáveis foram divididos em três grupos. Todos os dias, por quatro semanas, o primeiro grupo consumiu três colheres de sopa de óleo de coco extra-virgem, o segundo a mesma quantidade de azeite extra-virgem e o terceiro ingeriu 50 gramas (equivalente às colheradas) de manteiga.
Os resultados mostrados na série foram pró-óleo de coco. As pessoas que consumiram a substância para o programa apresentaram níveis 15% maiores de colesterol bom, enquanto seu colesterol ruim não se alterou. Mas é bom manter cautela: diferente de um artigo científico tradicional, um estudo feito para televisão não precisa seguir os mesmos padrões metodológicos nem passam por uma rígida checagem de especialistas na área.
O desabafo da professora de Harvard, portanto, não exige que você jogue seu pote de óleo de coco fora. Mas também alerta para que você não entre na modinha com ingenuidade. Por via das dúvidas, o azeite de oliva e outros óleos com gorduras insaturadas ainda parecem cientificamente mais confiáveis.