Proibir venda de cigarros para jovens pode salvar 1,2 milhões de vidas, diz estudo
Países como Reino Unido querem criar "geração sem fumantes" na marra. Uma nova pesquisa calculou qual seria o impacto da medida em escala global.
Fumar é a principal causa de morte evitável em todo o mundo. Considerado uma doença por si só, o tabagismo é um fator de risco para dezenas de outras condições, como vários tipo de câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e mais uma infinidade de problemas que você deve conhecer.
Só o câncer de pulmão tira 1,8 milhão de vidas anualmente em todo o mundo, e mais de dois terços desse número são causados pelo tabagismo. Agora, um estudo modelou qual seria o impacto global se a geração nascida entre 2006 e 2010 não fumasse. Resultado: 1,2 milhões de mortes seriam evitadas até 2095.
Liderado por pesquisadores da Universidade de Santiago de Compostela, da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) e colaboradores globais, o estudo foi publicado nesta semana na revista The Lancet Public Health.
De modo geral, 65% das possíveis mortes evitadas ocorreriam em países de baixa e média renda. O impacto seria maior nos homens: o banimento poderia evitar 45,8% das futuras mortes por câncer de pulmão em homens, e 30,9% das mesmas morte em mulheres.
A ideia pode parecer ambiciosa demais, mas muitos países tomam para si a meta de ter a “primeira geração livre de tabaco”. Em geral, são impostas restrições nos locais onde é permitido fumar – Portugal, por exemplo, aprovou uma mudança drástica desse tipo no ano passado. No mesmo ano, o México baniu o consumo de tabaco em todos os locais públicos abertos e fechados, de forma que, na teoria, só é legal fumar em sua própria casa.
Outros países têm projetos mais ambiciosos: no Reino Unido e na Nova Zelândia, por exemplo. Na terra dos ingleses, ninguém que nasceu depois de 2008 vai poder comprar produtos de tabaco, nunca. A idade mínima para comprar produtos de tabaco vai subir progressivamente a partir de 2027, de forma que a venda para eles será sempre ilegal. A lei foi aprovada pelos deputados em abril deste ano, mas ainda precisa ser oficializada novamente.
Já a Nova Zelândia fez o projeto que inspirou os britânicos, mas a iniciativa foi cancelada antes mesmo de começar, depois da troca no governo em 2024. O plano era restringir a venda de tabaco a lojas específicas para isso, e reduzir o número de loja em 90% ao longo dos anos. Além de uma restrição de idade semelhante à do projeto inglês, os produtos também teriam cada vez menos nicotina.
Apesar de ter sido elogiado em todo o mundo e ser apoiado por 79% dos jovens do país, o projeto foi cancelado por influência da indústria do tabaco no novo parlamento, e com a justificativa sobre o risco de criar um mercado clandestino de cigarro.
“Nossa modelagem destaca o quanto os governos têm a ganhar ao considerar a implementação de planos ambiciosos para criar uma geração livre do tabaco”, disse Julia Rey Brandariz, uma das autoras da pesquisa, em comunicado. “Isso não só poderia salvar um grande número de vidas, como também poderia reduzir enormemente a pressão sobre os sistemas de saúde para tratar e cuidar de pessoas com problemas de saúde em decorrência do tabagismo.”
Entretanto, os próprios autores reconhecem algumas limitações do estudo: uma das principais é que não levaram em conta os cigarros eletrônicos, ou vapes. Além disso, também afirmam que não é possível levar em conta todos os inúmeros fatores que influenciariam a implementação dos banimentos – como a baixa adesão à norma, ou a existência de um mercado clandestino.