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Subindo paredes

Alceu Chiesorin Nunes Para atingir objetivos cada vez mais altos, os alpinistas enfrentam o perigo e até a morte. Precisam de coragem e de disciplina – além da prodigiosa tecnologia que você vai conhecer agora. Equipamentos de primeira contra o perigo O vento é de 50 quilômetros por hora e a neve não cai, derrama. […]

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Atualizado em 31 out 2016, 18h08 - Publicado em 28 fev 1998, 22h00
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  • Alceu Chiesorin Nunes

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    Para atingir objetivos cada vez mais altos, os alpinistas enfrentam o perigo e até a morte. Precisam de coragem e de disciplina – além da prodigiosa tecnologia que você vai conhecer agora.

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    Equipamentos de primeira contra o perigo

    O vento é de 50 quilômetros por hora e a neve não cai, derrama. A 6 000 metros de altura, o alpinista pode morrer de frio ou ser levado por uma avalanche, o que já aconteceu muitas vezes. Uma caverna seria o ideal. Mas caverna não há. Por sorte, ele tem uma pá na mochila. Se a natureza não for cruel demais, a ferramenta, forte e leve, pode ajudá-lo a permanecer vivo. Rápido, ele começa a cavar. O buraco, comprido e horizontal, funcionará como um saco de dormir.

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    “Sem essa simples pazinha eu já estaria morto”, conta o paranaense Waldemar Niclevicz, 31 anos. “No Monte McKinley, no Alasca, tive que ficar enterrado 2 horas.” Em setembro de 1997, carregado de equipamentos eficientes como esse, ele conquistou o Monte Carstensz, em Irian Jaya, Indonésia, com 4 484 metros. Tornou-se o primeiro brasileiro a subir os sete maiores picos do mundo. “Alcançar o topo até que foi fácil”, conta. “Difícil foi entrar no país, em plena guerra civil.” As escaladas estão proibidas desde 1995, quando oito alpinistas foram mortos por guerrilheiros. Após um ano de tentativas frustradas, o paranaense chegou de helicóptero, com apoio diplomático e militar, à base do pico.

    Paciência, como se vê, é característica necessária a alpinistas. E coragem. Mas, acima de tudo, garante Niclevicz, é preciso saber usar a parafernália tecnológica desenvolvida para o esporte (veja o infográfico).

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    Emoção grande mesmo em rocha pequena

    Como o poder é a meta do político e o aplauso é o sonho do cantor, pisar os picos mais altos é a ambição dos alpinistas. Mas eles também não desdenham montanhas menores. Mesmo o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, de apenas 398 metros, pode ser um respeitável desafio. A redução na altura não significa, de jeito nenhum, uma redução de adrenalina. Pelo contrário. Só vence o Pão de Açúcar quem é cobra na escalada de rochas. Embora o aventureiro aqui não precise de tanto tempo de planejamento nem de uma equipe tão numerosa como os grupos que sobem um Everest, os equipamentos com a tecnologia apropriada não podem faltar (veja o infográfico ao lado). São eles que garantem a segurança. Na escalada de um paredão não é incomum o alpinista ficar pendurado por mais de 10 minutos num ganchinho do tamanho de um dedo, tão fino quanto uma régua (o clif), enquanto parafusa um grampo na rocha. Quem é que toparia fazer isso se não tivesse total confiança naquela peça minúscula?

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    Romantismo cedeu lugar à técnica

    A palavra alpinismo vem de Alpes. O termo surgiu no final do século XVIII, para designar a prática do pessoal que escalava os Alpes Suíços. O Mont Blanc (veja infográfico na página 58), a mais alta daquelas montanhas, foi alcançado em 1786. No século XX, a meta passou a ser os montes com mais de 8 000 metros. Em 1953, uma expedição britânica subiu o Everest, no Nepal, o pico mais alto o mundo. Com as principais façanhas consolidadas, a técnica passou a perna no romantismo e o esporte foi se tornando mais radical. Nos anos 80, o equipamento era levado só por segurança. A progressão era feita na unha. Hoje, a maioria dos praticantes prefere a chamada escalada artificial, com equipamentos móveis, que não descaracterizam as rochas.

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    Esquadrinhando o Pão de Açúcar

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    A primeira a subir o morro foi a inglesa Henrieta Carsteirs, em 1817. Hoje há setenta rotas que levam ao topo. Conheça algumas.

    Projetos para todos os gostos

    À parte toda a técnica, o alpinismo é um esporte de sonhadores. E sonhos não têm limites. Conquistar os sete picos – as montanhas mais altas da Europa, da África, da Oceania, da Ásia, da América do Sul, da América do Norte e da Antártida – é apenas um dos objetivos dos craques. Niclevicz foi o 28º do mundo a chegar lá. Mas só dez alpinistas conseguiram realizar outro grande projeto do esporte: pôr os pés nos cumes das catorze montanhas acima de 8 000 metros do planeta.

    Dessas, o brasileiro só subiu uma, o Everest. Este ano, pretende escalar mais três. Em 1999, quer conquistar os 8 611 metros do Chogori, ou K2, apelidado de “montanha assassina” porque já matou 53, quase um terço, dos que tentaram escalá-lo.

    A aventura poderá ser acompanhada pela Internet (www.sagarmatha.com.br). Para participar dela você não precisa de ferramentas – basta o seu micro. Mas para Niclevicz, que continuará encarando nas alturas os próprios limites de ousadia e resistência, o equipamento será decisivo. Nos picos gelados, onde o homem não pode errar, a tecnologia tem que ser leve, eficiente, exata, simplesmente perfeita.

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    Colado no gelo

    Escalada no frio requer 30 quilos de equipamentos.

    Isolante térmico

    Vai embaixo do saco de dormir. O ar preso nas bolhas da espuma reduz a perda de calor.

    Pá ultra-resistente

    Feita de um plástico duro, muito usado na indústria automobilística.

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    Saco de dormir

    Recheado com penas de ganso. A forma cônica retém calor nos pés. Dá proteção a até 35 graus negativos.

    Comida

    É liofilizada ou desidratada. Como estas sopas preparadas apenas com a mistura de água quente.

    Orientação por satélite

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    O sistema chamado GPS fornece latitude e longitude. Também tem altímetro e bússola.

    Barraca

    Testada em túnel de vento para resistir a rajadas de 120 quilômetros por hora. Pesa 4 quilos.

    Bastões de esqui

    Ajudam o alpinista a ficar de pé. Têm altura regulável e molas para amortecer a passada.

    Serrote

    Leve, forte e afiado, corta gelo para um iglu, por exemplo. É de titânio.

    Roldanas

    Presas ao corpo, ajudam a içar equipamento.

    Grampos

    De titânio ou cromo-molibdênio, não quebram. Parafusados no gelo, suportam quedas eventuais.

    Roupas

    Têm de três a quatro camadas. A externa é de Gorotex, tecido impermeável que bloqueia o vento mas deixa o suor sair.

    Piolet

    Feito da liga encontrada nas bicicletas mais resistentes, serve para bater grampos, fazer degraus e sustentar o corpo.

    Manta descartável

    Tecido isolante prateado, mantém a temperatura do corpo.

    Fósforos

    Com a cabeça de pólvora prolongada e película impermeável, resistem ao vento.

    Fogareiro

    Usa benzina líquida, combustível com alto poder calorífero.

    Panela

    De aço inoxidável, é forrada com um material que reflete calor para gastar menos combustível.

    Bota

    De plástico por fora e tecido por dentro, não deixa o calor escapar nem a umidade entrar. Com as garras, o par pesa 1 quilo e meio.

    Um ambiente nada amigável

    Falta de oxigênio e frio maltratam o organismo.

    Acima de 5 000 metros, o corpo sofre. Com a escassez de oxigênio, o ritmo da respiração é multiplicado por três e o organismo fabrica mais glóbulos vermelhos (que levam o ar até as células). Em conseqüência, o sangue fica denso, forçando as veias, o que pode causar mal-estar, dor de cabeça ou até a morte. Por isso, não é nada recomendável enfrentar os cumes mais altos sem oxigênio extra. Também não dá para esquecer as luvas, pois o frio pode congelar extremidades do corpo. Na foto acima, você vê como ficam as pontas dos dedos. Brancas de frio, onde foi necessário fazer enxerto.

    Pequenos e essenciais

    Dezenas de pecinhas prendem o homem nas fendas da rocha.

    Kit grampo

    Furadeira e martelo para fixar grampos com alça.

    Cadeirinha ou boldrier

    É o cinto de utilidades. Carrega todo o equipamento e é onde fica presa a corda de segurança.

    Nuts e pitons

    Peças de tamanhos e formas variadas para serem encaixadas em pequenas fendas, sustentando o alpinista.

    Capacete

    Diminui em cinco vezes o risco de morte numa queda.

    Oito ou blocante

    Preso na cintura, trava a corda e segura o companheiro em caso de queda (veja o infográfico na página 56).

    Coperhead

    Lâmina fina que serve para extrair nuts e pitons da rocha.

    Friend

    Equipamento que se enrosca nas fendas da rocha para ajudar na subida (veja infográfico na página 56).

    Mosquetão

    Parece aqueles chaveiros que se prendem no passador do cinto. É a ligação entre o alpinista e qualquer ponto de apoio, para rocha e gelo.

    Fita tubular

    Presa ao mosquetão, agüenta trancos de até 3 000 quilos, também é básico para escalada em gelo.

    Big bros

    Pino com mola de alta pressão que o faz aumentar de tamanho quando inserido numa fenda. Serve de ponto de apoio.

    Saco de magnésio

    O pó de carbonato de magnésio é usado para manter as mãos secas e menos escorregadias.

    Clif

    Gancho do tamanho de um dedo que prende a cintura em saliências da rocha.

    Sapatilhas

    O solado é feito de uma borracha superaderente, que foi desenvolvida a partir do material dos pneus da Fórmula 1.

    Cordas

    Sua função é absorver parte da energia de impacto produzida em uma queda, para isso são um pouco elásticas. Ficam presas ao cinto e passam por todos os equipamentos fixados na rocha. Feitas de fibras sintéticas, mais resistentes do que o sisal.

    Materiais que salvam vidas

    Equipamentos recebem selo de qualidade.

    Algumas das tralhas que ajudam alpinistas precisam ser testadas por organizações internacionais. É o caso das cordas, sem as quais qualquer escorregão seria fatal. São elas que seguram os corpos que despencam. Por isso, devem obedecer às normas estabelecidas pela União Internacional de Associações de Alpinismo (UIAA), com sede na França. Aquelas com 10 a 11 milímetros de diâmetro suportam impactos de um adulto em queda livre de até 10 metros. Mas não são eternas. Por isso, vêm acompanhadas de um manual no qual devem ser anotados todos os tombos. Depois de doze esticões violentos elas perdem a elasticidade e precisam ser aposentadas.

    Tal qual uma aranha

    Veja como alguns equipamentos funcionam na rocha.

    Amigo de verdade

    Quanto mais força se põe no cabo central do friend, mais os seus braços se abrem, ficando presos na rocha.

    Ponto fixo

    Em cada grampo parafusado, passa-se a corda. Se o alpinista de cima cair, ficará preso por essa costura.

    Segurança em oito

    Quem vai embaixo vai soltando corda para o de cima, mas ela passa por esta peça que, a qualquer movimento do fio para o lado, trava na hora.

    Segunda pele

    Maleável, a sola da sapatilha deve se moldar na rocha, ampliando a área de aderência.

    Garras artificiais

    Assim são os passos do balé ascendente no gelo.

    Unha de gato

    Com 3 ou 4 centímetros do piolet (picareta) enterrados, o alpinista pode ficar tranqüilo. É o suficiente para agüentar seu peso.

    Ajuda da natureza

    Colunas salientes do gelo são aproveitadas para a passagem de uma fita que dá segurança.

    Parafusos

    O pino com rosca é o ideal para montar o arranjo e passar a corda.

    Firmeza

    Oito a doze garras afiadas na bota garantem a fixação dos pés mesmo em paredes verticais.

    O Brasil perde um craque

    Avalanche no Aconcágua mata Mozart Catão.

    Quando fechávamos esta edição, recebemos a notícia de uma tragédia. Mozart Catão, um dos astros do alpinismo entrevistados para esta reportagem, morreu sob uma avalanche no pico Aconcágua, na Argentina. Experiente, Catão aguardava apenas uma oprtunidade para escalar o Carstensz e assim completar o sonho dos sete picos (veja acima). Já tinha subido várias vezes o Aconcágua. Seu grupo estava se preparando para pernoitar a mais de 6 000 metros quando veio o desastre. Dois outros brasileiros também morreram: Alexandre Oliveira, de 24 anos, e Othon Leonardos, de 23. Mozart Catão tinha 35 anos.

    O sonho dos sete picos

    Conheça nas fotos de Niclevicz os pontos culminantes que mais fascinam.

    McKinley

    O mais alto da América do Norte, com 6 194 metros. Fica no Alasca. Primeira conquista: 1913.

    Mont Blanc

    O monte francês é o mais alto da Europa ocidental, com 4 807 metros. Primeira conquista: 1786.

    Vinson

    É o campeão da Antártida, com 4 897 metros. Primeira conquista: 1966.

    Carstensz

    Maior montanha da Oceania, tem 4 848 metros e fica na Ilha de Irian Jaya, na Indonésia. Primeira conquista: 1962.

    Kilimanjaro

    Localizado na Tanzânia, perto do Quênia, é o mais alto da África, com 5 895 metros. Primeira conquista: 1889.

    Aconcágua

    Fica na Argentina e é o maior gigante da América do Sul, com 6 959 metros. Primeira conquista: 1897.

    Everest

    O mais elevado da Ásia e do mundo, com 8 848 metros. Fica no Nepal, perto do Tibet. Primeira conquista: 1953.

    Elbrus

    Fica no sul da Rússia. É o maior cume da Europa oriental, com 5 642 metros. Primeira conquista: 1874.

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