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13 mentiras em que todo mundo acredita

Água mole fura, sim. Cânions e cavernas estão de prova. Por outro lado, fatos que parecem bem mais plausíveis não têm um pingo de reais.

Por Aline Bisol e Ricardo Lacerda
Atualizado em 1 abr 2022, 11h46 - Publicado em 22 fev 2019, 17h15

1. O homem veio do macaco

ilustração de um homem de terno imitando um macaco, com uma banana no bolso
(Carlo Giovani/Superinteressante)

Sabe aquela camiseta que mostra a evolução do homem a partir do macaco? Pois então, não é bem assim. A confusão acontece porque seres humanos e macacos têm, de fato, um mesmo ancestral.

Estudos recentes indicam que, há mais de 6 milhões de anos, vivia em algum lugar da África uma espécie de primata que se dividiu em duas linhagens por conta de adversidades da natureza. De uma delas vieram os chimpanzés e bonobos atuais. Da outra, o homem. Ou seja, tivemos um antepassado comum. Tanto é que os nossos genes são 90% iguais.

No entanto, antes de chegar à forma atual, os hominídeos passaram por uma série de upgrades que teve início com o Australopithecus, há quase 4 milhões de anos. Ele já possuía postura ereta, locomoção bípede e arcada dentária próxima da que nós, Homo sapiens, temos hoje.

A evolução é uma solução natural para questões ambientais, ecológicas e sociais. Aqui, as mutações genéticas e em especial o ambiente exerceram influência na maneira como cada espécie costumava se adaptar. Experimente ir para o meio da selva desprovido de roupas ou ferramentas e veja quanto tempo você resiste.

Sob esse viés, o macaco estaria em vantagem evolutiva. Além do mais, a Teoria da Evolução, de Charles Darwin, não menciona nada a respeito de um aperfeiçoamento que teria levado macacos a se tornarem homens. Aliás, a seleção descrita pelo naturalista é bastante clara ao retratar os movimentos feitos por nossos ancestrais. Assim, é possível compreender por que determinados seres vivos sobrevivem ao longo do tempo e por que outros ficam pelo caminho.

2. A palavra “saudade” é intraduzível

A ideia de que a palavra saudade não possui equivalência em outras línguas é um dos grandes mitos do nosso vernáculo. Como saudade é um sentimento universal, todo idioma acaba tendo seus próprios meios de expressá-la. Quem explica é o linguista Carlos Faraco, autor de Linguística Histórica: introdução ao estudo da história das línguas. “As línguas, todas elas, garantem aos seus falantes os recursos para a expressão de sua experiência pessoal, social e histórica. É o chamado potencial semiótico.”

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Uma das primeiras conceituações do termo em português remonta aos anos 1600, quando o filósofo e escritor lusitano D. Francisco Manoel de Melo definiu saudade como uma ode à melancolia: “Essa paixão que só nós sabemos o nome, chamando-lhe saudade, filha do amor e da ausência”.

Em 2008, a empresa britânica Today Translations ouviu mil tradutores e considerou saudade a sétima palavra estrangeira mais difícil de traduzir. Nem mesmo em português há consenso. Para o Aurélio, é uma “lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado”. Já o Houaiss considera saudade um sinônimo de “isolamento, solidão e desamparo”.

Seria o equivalente às espanholas soledad e añoranza. Tanta confusão também tem a ver com o fato de que em outras línguas é preciso combinar palavras para falar saudade. Um caso comum é o do inglês, que usa o verbo miss para determinar “falta de”. Em meio a mais de 6 mil idiomas existentes no mundo, seria improvável ninguém mais conseguir verter em prosa e verso suas saudades.

3. Esquimós têm mais de 100 termos para neve

Assim como os brasileiros podem chamar tempestades de neve de nevasca, os esquimós também usam mais de uma classificação para o fenômeno. E eles têm razões para isso, pois nas margens do Círculo Polar Ártico neva bem mais do que por aqui. Mas não há mais de cem termos para neve.

A confusão numérica tem a ver com a diversidade de dialetos falados pelos esquimós – e nasceu de um artigo publicado no New York Times em 1984. Quatro anos depois, o jornal voltou a repercutir o tema, então reduzindo para menos de 50.

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A verdade é que cada dialeto tem cerca de sete palavras para definir eventos com neve. Enquanto Patuqutaujuq significa “coberto por neve congelada e brilhante”, qanniq define a expressão “neve que cai”.

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4. O futebol foi inventado na Inglaterra

Nessa você pode até cair, mas o juizão não vai anotar pênalti. Ao contrário do que muita gente pensa, os súditos da rainha não inventaram o futebol. Mas há bons motivos para que eles levem a fama. Os britânicos criaram as principais regras conhecidas hoje. Além disso, definiram as medidas do campo, determinaram o tempo de jogo e fundaram a primeira associação de clubes, ainda na segunda metade do século 19.

Agora dizer quem de fato criou o esporte é tarefa quase impossível. Na própria Inglaterra existem relatos de jogos entre estudantes no século 16, mas o primeiro registro de algo parecido com o futebol remonta à Antiguidade. Na Grécia de quase 3 mil anos atrás praticava-se o episkyros, que tempos depois seria aperfeiçoado pelos romanos e rebatizado como harpastum. Na época, jogava-se com as mãos e os pés, como o futebol americano. E teriam sido os romanos que levaram o esporte à Grã-Bretanha.

Já no Oriente quem deu o pontapé inicial foi a China, há mais de 2 mil anos. A diversão, então chamada de tsu chu, não era apenas entretenimento: o jogo fazia parte do treinamento físico militar e era adorado até por imperadores. Cinco séculos depois, os japoneses se divertiam jogando kemari, outra variação do que seria conhecido como esporte bretão.

5. Leônidas da Silva é o pai da bicicleta

Assim como o Brasil não inventou o futebol, também não foi um brasileiro, Leônidas da Silva, o primeiro jogador do mundo a dar uma bicicleta. Ainda que o atacante tenha gravado seu nome na história do esporte, o verdadeiro pai da bicicleta foi o chileno Ramón Unzaga, que anotou seu primeiro gol de costas para o adversário e com o corpo inclinado 90 graus em 1914. Com o feito, arrancou aplausos até mesmo dos adversários. Seis anos depois, na Copa América, ele repetiu a jogada, conhecida no Chile como “la chilena”.

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Já Leônidas da Silva, craque da Seleção Brasileira, do Flamengo e do São Paulo, só foi dar sua primeira pedalada no ar nos anos 1930. Artilheiro da Copa de 1938, ele ganharia o apelido de Diamante Negro de um jornalista francês e, tempos depois, batizaria um dos mais conhecidos chocolates fabricados no Brasil.

6. A Muralha da China pode ser vista do espaço

Nem a Muralha da China, nem as pirâmides do Egito. Se alguém olhar para a Terra do espaço, não verá nada além de nuvens, montes de terra e água. A menos que o astronauta em questão esteja equipado de lentes teleobjetivas superpoderosas, é impossível enxergar do espaço, a olho nu, qualquer tipo de construção existente na Terra.

O mito nasceu em 1972, quando o americano Gene Cernan voltou da missão Apollo 17 jurando ter visto o colosso chinês quando a espaçonave estava em órbita, a 320 quilômetros de altitude. O deslumbramento pode ter sido influenciado pelo livro Maravilhas do Mundo, de Richard Halliburton, lançado em 1938. Nele, o autor relata: “Astrônomos afirmam que a Grande Muralha é a única obra do homem que pode ser vista do espaço”.

Quem desmentiu a falácia acabou sendo, ironicamente, um chinês. Em 2003, a bordo da espaçonave Shenzhou 5, Yang Liwei deu 14 voltas ao redor do planeta. E em nenhuma delas conseguiu avistar a Muralha. Como o paredão chinês tem largura entre 6 e 7 metros e sua cor se assemelha à do solo, avistá-la a uma distância tão grande seria nada mais do que mera ilusão.

7. A Terra tem apenas sete mares

ilustração de uma pessoa vestida de pirata com um globo terrestre nas mãos
(Carlo Giovani/Superinteressante)

A luz azul que guiou Tim Maia estava errada. Mas ele jamais descobriria que a Terra tem bem mais que os sete mares que habitam o imaginário popular. São 61, para ser exato. Acredita-se que a teoria tenha origem no clássico As Mil e Uma Noites, uma coleção de contos populares árabes publicada há mais de mil anos. Numa das histórias, o marinheiro Simbad leva mercadorias a lugares distantes, singrando sete mares.

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Ao longo do tempo, navegantes se habituaram a dividir os oceanos em sete – e não em cinco, como aprendemos na escola. Prova disso é a existência de cartas náuticas, hoje em desuso, que apontam a existência de sete oceanos: Índico, Ártico, Antártico, Pacífico Norte, Pacífico Sul, Atlântico Norte e Atlântico Sul.

O detalhe é que mar é uma coisa, e oceano, outra. Enquanto o primeiro é formado por uma porção de água salgada cercada em parte ou totalmente por terra, o segundo determina áreas muito mais amplas e abertas. Quem delimita geograficamente o que é mar ou oceano é a Organização Hidrográfica Internacional. Para a entidade, tais divisões não estão vinculadas apenas a questões políticas, seguindo unicamente características climáticas e naturais.

8. A Nasa criou uma caneta para usar no espaço

Diz a lenda que, enquanto a Nasa gastava milhares de dólares para desenvolver uma caneta que funcionasse na microgravidade, os soviéticos resolveram o problema com uma solução bastante simples: usaram lápis. Na verdade, tudo não passou de intriga da oposição.

Registros históricos comprovam que os russos até chegaram a testar lápis com graxa no lugar do grafite, evitado por ser inflamável. Enquanto isso, os americanos criaram 34 tipos de lápis espaciais, a um custo aproximado de mil dólares cada (valores atuais).

A verdade é que apenas dois desses modelos foram usados em órbita, ambos em 1965. E não demorou para que a imprensa descobrisse o alto valor investido e tornasse o caso um escândalo. Na época, chegou-se a abrir um inquérito para investigar o investimento, estimado em US$ 34 mil.

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A Nasa até tentou se justificar, mas não teve jeito: os lápis haviam sido uma péssima ideia, pois tinham o risco de quebrar e precisavam ser apontados, gerando resíduos que pairavam no ar por conta da gravidade próxima do zero.

O redesenho da história foi feito pela Fischer Space Pen, empresa que investiu do próprio caixa uma fortuna equivalente a US$ 8 milhões na fabricação e patente de uma caneta espacial. Sua tinta a gel fluía perfeitamente e não ressecava ou vazava. Tanto os EUA quanto a Rússia acabaram adquirindo lotes em que uma unidade custava US$ 16.

A propósito: Tang, velcro e teflon não são obras da Nasa. O suco em pó foi lançado pela General Foods em 1957 e ficou famoso por ser usado no espaço por John Glenn, em 1962. Já o teflon nasceu dentro da DuPont em 1938 e o velcro é uma invenção suíça da década de 1940. A Nasa só abriu as portas em 1958, ajudando a popularizar esses itens.

9. A água da pia gira diferente em cada hemisfério

Muito se fala que a água da pia e a da descarga giram para lados diferentes conforme o hemisfério. No Sul, seria no sentido horário; no Norte, anti-horário. A verdade é que o movimento pode mudar em função de diversos fatores, mas nunca por conta do hemisfério. Entre os motivos podem estar o formato da pia, a estrutura do vaso, a incidência de uma corrente de ar ou mesmo o seu deslocamento inicial.

Ainda que não se confirme na prática, a teoria dos hemisférios até tem fundamento. E tem a ver com a chamada força de Coriolis, um conceito científico criado pela rotação da Terra e que explica o sentido de ciclones e massas de ar. A força também se manifestaria, por exemplo, num teste de artilharia, desviando uma rajada de tiros para a esquerda quando fossem disparados no Hemisfério Sul. No Norte, seria o contrário.

Já as massas de ar que dão origem aos ciclones sofrem influência no sentido horário no Hemisfério Sul e anti-horário no Norte. Para pequenas quantidades de água, no entanto, nada disso faz sentido. Os efeitos mais perceptíveis da força de Coriolis são vistos em regiões mais próximas dos polos. Como a massa de água em questão é pequena, não existe a menor chance de impactar a direção dos movimentos. Mais um mito que vai pelo ralo.

10. Raios não caem duas vezes no mesmo lugar

De que servem os para-raios senão para atrair descargas elétricas e conduzi-las até o chão? Essas hastes metálicas conectadas à terra por cabos são colocadas em pontos altos porque a incidência de raios é maior em extremidades. Com 381 metros de altura, o Empire State Building, em Nova York, recebe em média 25 descargas elétricas por ano. Já no Brasil, dono da maior zona tropical do mundo e recordista em ocorrências de raios, o Cristo Redentor é castigado seis vezes ao ano. Além de para-raios, topos de prédios e monumentos pontiagudos, copas de árvores também costumam atrair descargas elétricas.

11. O Oiapoque é o extremo do norte do Brasil

Localizado no Oiapoque, no Amapá, o Cabo Orange era mesmo o ponto mais ao norte do país. Até perder o posto para o Monte Caburaí, em Roraima. Em 1998, uma expedição ao município de Uiramutã, onde fica o Monte, pretendia buscar a nascente do Rio Uailan, mas acabou fazendo outra descoberta.

A 1.465 metros de altitude, no Parque Nacional do Monte Roraima, o Caburaí se reparte ao meio: metade Brasil, metade Guiana. Assim, 84 km mais ao norte do que o Oiapoque, um grupo de autoridades promoveu uma cerimônia para atestar o mais novo ponto mais boreal do Brasil.

Desde então, o certo a dizer é do Caburaí ao Chuí. No extremo sul do Rio Grande do Sul está o município do Chuí. A separação com a cidade vizinha, a uruguaia Chuy, é feita apenas por uma avenida.

12. Desapareceu? Espere 24h até fazer B.O.

No Brasil, não existe tempo mínimo de espera para notificar a polícia sobre o desaparecimento de alguém. O recomendado, inclusive, é que a ocorrência seja registrada nas primeiras horas da ausência. Isso tende a facilitar a localização pelos investigadores. “Essa ideia foi incorporada por filmes e seriados, já que cada país tem seu próprio procedimento”, diz o delegado Gabriel Bicca, da Polícia Civil do Rio Grande do Sul.

Os gaúchos, por sinal, ocupam o segundo lugar no ranking nacional de desaparecidos, atrás apenas de São Paulo. No País, 85% dos casos de desaparecimento são resolvidos quando a pessoa retorna para casa por conta própria. Nos EUA, no entanto, cada Estado tem autonomia para determinar quanto tempo é preciso esperar.

13. A Amazônia é o pulmão do mundo

ilustração de chuva caindo na floresta
(Carlo Giovani/Superinteressante)

Ninguém sabe como essa história mantém seu fôlego. Tudo bem que, com 7 milhões de quilômetros quadrados, a Bacia Amazônica absorve (muito) dióxido de carbono e libera (muito) oxigênio. É o processo da fotossíntese em escala gigantesca. Mas o pulmão segue uma lógica inversa, pois absorve oxigênio e libera gás carbônico.

Digamos que aceitássemos a metáfora. Nem assim a Amazônia poderia ser o pulmão do planeta, por uma questão de escala. Afinal, toda a produção de oxigênio da floresta é consumida por ela mesma, pelo processo de metabolização das plantas – o seu próprio ciclo de vida. “É um balanço fechado que não impacta de forma alguma no volume total de oxigênio na atmosfera terrestre”, explica Niro Higuchi, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia.

A grande contribuição da floresta amazônica está na manutenção dos ciclos hidrográficos. Isso porque qualquer resíduo biológico lançado na atmosfera – como materiais de polinização ou em decomposição – contribui para a condensação das nuvens. Daí porque chove constantemente na Amazônia. Por lá, esse microclima dá origem ao fenômeno conhecido como “rios voadores”, que nada mais são do que fluxos aéreos de água em forma de vapor que se deslocam pelas bacias hidrográficas da América do Sul. Viajando por até 3 mil quilômetros de distância, esses rios invisíveis precipitam as chuvas em todo o Brasil. Posicionados a 2 quilômetros de altura, eles chegam a transportar mais água que o próprio Rio Amazonas.

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