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8 min no TikTok já prejudicam a autoimagem corporal de mulheres jovens

Pesquisa mostra como a rede social se tornou uma “escola do distúrbio alimentar” e pode causar danos psicológicos aos usuários.

Por Bela Lobato
9 ago 2024, 18h00

Aviso: esse texto descreve transtornos alimentares.

Diversos estudos já mostraram que as redes sociais, assim como a televisão, impactam muito as percepções das mulheres sobre os próprios corpos.

Em geral, o conselho que elas recebem é que tenham cuidado, senso crítico e moderação ao consumir conteúdos que reforcem padrões de beleza inalcançáveis.

Entretanto, Rachel Hogg, professora de psicologia e autora de um estudo sobre o tema publicado na última quarta (7) na revista PLOS, argumenta que esse conselho é insuficiente e até cruel com as mulheres.

É que os resultados da pesquisa de Hogg apontam que nem a moderação é suficiente para evitar os danos psicológicos do uso de TikTok.

A pesquisadora recrutou 273 usuárias australianas dessa rede de vídeos curtos, com idades entre 18 e 28 anos, e dividiu-as em dois grupos.

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O primeiro grupo assistiu 8 minutos de conteúdo neutro, como vídeos sobre animais, culinária e natureza. Já o segundo grupo assistiu vídeos de inspiração fit, em que mulheres jovens compartilhavam dicas de dieta e exercícios. 

Todos vídeos foram tirados da rede social, e alguns faziam parte de comunidades que a autora chama de “pró-anorexia”, embora nem todos fossem explícitos nisso.

As participantes tiveram que responder questionários sobre autoimagem e alimentação antes e depois de assistirem aos vídeos. Nenhuma delas tinha, antes ou no momento da pesquisa, distúrbios alimentares.

O resultado foi instantâneo: depois de assistirem aos vídeos fit, a percepção sobre a própria imagem, saúde e padrões de beleza tinha sido afetada drasticamente.

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A preocupação é ainda maior em relação às adolescentes, que sofrem ainda mais com a pressão estética e a influência de conteúdos como esse. Segundo dados do Digital 2024: Global Overview Report, o TikTok tem quase 100 milhões de usuários acima dos 18 anos no Brasil, e cerca de 55% são do sexo feminino. 

Entretanto, a plataforma não divulga quantos são os usuários menores de idade. Como a rede é mais popular entre os jovens, o número ainda pode ser bizarramente maior.

E os pesquisadores apontam uma diferença fundamental: enquanto o Instagram privilegia conteúdo de grandes criadores no seu feed, o algoritmo do TikTok permite a criação de comunidades ao redor de usuários comuns.

Ao mesmo tempo que traz inovações e vez ou outra revela alguma pérola, a valorização dos conteúdos de “gente comum” faz também com que existam conteúdos que uma pessoa famosa não poderia publicar impunemente.

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“Os usuários comuns podem circular vídeos perigosos relacionados a dietas sem a reação que uma celebridade ou um influenciador conhecido poderia receber por compartilhar conteúdo socialmente irresponsável.”, afirma Hogg, em um texto no site The Conversation

O algoritmo do TikTok favorece a criação de “bolhas”, pequenos grupos de interesses nichados. Entre esses, existe uma infinidade de hashtags vinculadas a promoção aberta de transtornos alimentares e de autoimagem. 

Mesmo para quem busca por conteúdos saudáveis, a linha pode ser tênue. O que começa com dicas de exercício e alimentação logo pode virar um feed em que a rotina são vídeos incentivando alimentação incorreta, dietas doentias, imagens de pessoas excessivamente magras, rotinas de exercícios excessivas, incentivo ao uso de laxantes, diuréticos e hábitos de bulimia.

Diversos outros estudos já associaram o consumo desse conteúdo online com impactos na vida real dos usuários: mais distúrbios alimentares, menor satisfação com o corpo, maior busca pela magreza e níveis mais altos de perfeccionismo.

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Outra pesquisa mostra que indivíduos com transtornos alimentares ativos relatam uma piora dos sintomas após apenas dez minutos de exposição a esse tipo de conteúdo no Tumblr.

No Brasil, alguns estudos com adolescentes apontam que, em média, cerca de 20% sentem-se insatisfeitos em relação ao próprio corpo.

Entretanto, ao olhar especificamente para as meninas, a proporção é ainda maior. Por exemplo: em um estudo de 2018 com 2050 adolescentes do interior de Minas Gerais, cerca de 26% das adolescentes do sexo feminino relataram estar tentando perder peso.

Some-se a isso que a população brasileira está no pódio do tempo online, com 9 horas e 13 minutos online, e, nas redes sociais, as mulheres são maioria.

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Pense no que a soma desses dados significa: em média, uma a cada quatro adolescentes está insatisfeita com o próprio corpo e tentando perder peso.

Se ela é usuária do TikTok, é muito provável que o algoritmo do aplicativo já tenha descoberto isso, e esteja apresentando a ela soluções menos saudáveis criadas por outras mulheres. É a escola do distúrbio alimentar, bem na mão das meninas. 

Hogg defende que a solução precisa passar pela regulamentação das redes, que poderiam instituir regras sobre filtragem do conteúdo e sobre o uso por menores de idade, por exemplo.

“Em última análise, a segurança on-line para os jovens depende da regulamentação adequada da mídia social. Sem isso, capacitar as jovens sobre como evitar danos nas mídias sociais é um pouco como dar a elas um colete salva-vidas inflável e depois deixá-las nadando indefinidamente contra a correnteza.”

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