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Bares britânicos vão coletar dados de clientes para rastrear covid-19

Na Nova Zelândia, onde uma regra parecida foi implementada, já houve brechas de privacidade: uma mulher foi stalkeada por um atendente do Subway após fornecer email e celular.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 13 mar 2024, 10h23 - Publicado em 25 jun 2020, 17h01

O Primeiro Ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou que, a partir de 4 de julho, os bares e restaurantes ingleses podem reabrir. Os clientes terão que deixar seus dados pessoais com o estabelecimento para facilitar o rastreamento no caso de um novo surto – por exemplo: se detectarem vários casos de pessoas que foram a um determinado bar, todos os que foram lá devem ser notificados, para que entrem em quarentena por conta própria.  

A medida publicada pelo governo britânico tem preocupado algumas pessoas. Isso porque não há um modelo de como a coleta de dados deve ser realizada. As únicas recomendações são que os estabelecimentos sigam o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) e não retenham as informações por mais do que 21 dias. Também devem ser registrados os turnos feitos pela equipe do local por um período de 21 dias. 

Para restaurantes que já trabalhavam com reservas antes da pandemia, a adaptação será mais fácil. Nesses casos, os dados já eram registrados e armazenados no sistema do local ou em aplicativos de reserva, como o OpenTable. Por outro lado, para aqueles que terão que começar o processo agora, a história é mais complicada. Afinal, os dados podem cair nas mãos de hackers – ou ser usados de forma indevida pelo dono do restaurante ou seus funcionários. 

A Nova Zelândia instaurou uma política parecida, que já rendeu problemas para os clientes. Uma mulher foi a uma lanchonete da rede Subway e teve que escrever seu nome completo, endereço, e-mail e número de telefone em um formulário de papel – que deveria ser destruído após oito semanas. Mas um funcionário do local usou os dados para persegui-la, mandando mensagens de texto, solicitações de amizade nas redes sociais e diversos e-mails. Ele acabou demitido. 

 

Ray Walsh, especialista em privacidade digital no site de segurança ProPrivacy, disse ao The Guardian que “esses riscos à privacidade são particularmente preocupantes em relação a mulheres, minorias e outros grupos vulneráveis ​​ou discriminados que podem ser alvos de perseguição ou assédio”. 

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Além do risco desses dados caírem em mãos erradas, não há como verificar se as informações fornecidas são verdadeiras – os clientes podem simplesmente mentir para preservar a própria privacidade, ou simplesmente para evitar uma enxurrada de dezenas de emails de spam com promoções. 

Depois do episódio desastroso, a Nova Zelândia incrementou seu sistema de rastreamento. O país desenvolveu um aplicativo que cria um diário com todos os lugares pelos quais o usuário passou. Em cada estabelecimento, há uma placa do Ministério da Saúde com um QR code; o indivíduo deve apontar a câmera do celular para o código e automaticamente o local fica registrado em sua agenda do app.

A pessoa pode optar por receber uma notificação caso tenha ido a um mesmo lugar que alguém infectado. Além disso, se o usuário for visto como um possível caso de covid-19, um responsável pelo rastreamento entrará em contato para solicitar o envio do diário com todo o histórico de locais que foram visitados. O aplicativo funciona com senha e, após 31 dias, os dados são automaticamente apagados. 

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A nova medida parece ter dado certo já que, no começo de junho, o país se declarou livre do coronavírus. Apesar do surgimento de novos casos nas últimas semanas, a doença na Nova Zelândia segue controlada. 

O Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra tentou desenvolver um aplicativo parecido, chamado Test & Trace, mas o programa apresentou algumas falhas. Não foi possível entrar em contato com um terço das pessoas que registraram positivo para a doença. Os responsáveis explicaram que uma versão melhor estará disponível apenas em outubro ou novembro. 

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