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Como as queimadas no Pantanal comprometem a fauna da região

Áreas de conservação foram reduzidas drasticamente nas últimas semanas devido ao fogo. E a culpa não é só do clima seco: incêndios ilegais são comuns.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 13 mar 2024, 11h58 - Publicado em 17 set 2020, 20h00

A região do Pantanal, que se estende pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no centro-oeste brasileiro, atravessa a temporada de queimadas mais intensa das últimas décadas. Dados reunidos pelo Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) apontam que uma área de 2,34 milhões de hectares – maior que estado de Sergipe – já foi consumida pelas chamas. Isso significa que 15% do bioma foi devastado pelo fogo.

Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o número de incêndios na região já é 210% maior que o do ano passado – e, ainda em agosto, se tornou maior que o volume dos últimos seis anos somados. Em 2020, foram pelo menos 14.489 focos, contra 4.660 em 2019.

Apesar da estiagem, que diminuiu drasticamente o volume dos rios e aumentou as temperaturas, boa parte desse total vem de queimadas ilegais, feitas por proprietários da região com o intuito de preparar o solo para plantio ou pastagem.

Foi o caso do incêndio que atingiu a Reserva Particular do Patrimônio Natural Sesc Pantanal, em Barão de Melgaço (MT), a maior do país. Uma investigação do governo do estado do Mato Grosso comprovou que a queimada, que devastou um terço da área, foi intencional, motivada pela abertura de pastos para a criação de gado. A Polícia Federal acredita, também, que um incêndio que destruiu 25 mil hectares na região da Serra Amolar, no Mato Grosso do Sul, foi causado pela mesma prática.

A fiscalização dessas investidas de produtores locais contra o ambiente, no entanto, ficou mais frouxa: houve queda de 48% no número de multas ambientais relacionadas ao desmatamento ou queimadas na região em 2020, em comparação ao ano passado.

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Quando incêndios avançam pela vegetação nativa ou áreas de conservação, o resultado são prejuízos enormes a biodiversidade. Considerada a maior área úmida continental do mundo, o Pantanal é a casa de 4.700 espécies diferentes, entre animais e plantas. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, lá vivem pelo menos 582 aves, 132 mamíferos, 113 répteis e 41 anfíbios. Nessa, estão animais-símbolo da biodiversidade brasileira, como jaguatiricas, lobos-guará e onças-pintadas, que estão ameaçados de extinção.

Imagens de uma onça com queimaduras de segundo grau nas patas e sintomas de desidratação circularam pelas redes sociais nos últimos dias. Batizado “Ousado”, o macho de onça foi resgatado de helicóptero pela Marinha do Brasil do Parque Estadual Encontro das Águas, e transferido para uma ONG em Goiás.

A região do Parque Estadual Encontro das Águas, que tem 108 mil hectares e reúne a maior concentração de onças-pintadas do mundo, foi uma das que mais sofreu com o fogo. Uma análise feita pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com base em imagens de satélite estimou que os incêndios consumiram 85% dessa área de reserva, que fica na região de Poconé, no Mato Grosso.

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Outra área de reserva a sofrer danos pelos incêndios foi a Fazenda São Francisco do Perigara, localizada em Barão de Melgaço (MT). Refúgio onde vivem 15% das araras-azuis encontradas na natureza, o local perdeu 92% dos seus 24.993 hectares.

Como mostrou esta reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, espécies mais abundantes também não passaram imunes pelas chamas. É possível contar dezenas de serpentes carbonizadas às margens da rodovia Transpantaneira, que corta a região.

“Vimos muitos animais mortos, principalmente répteis, serpentes, jacarés. Vimos muitos cervos mortos, antas mortas, macacos mortos, quatis mortos”, disse o veterinário Jorge Salomão Jr., que participou dos esforços para retirada de animais de áreas comprometidas pelas queimadas, em entrevista ao G1.

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Não existe uma estimativa de quantos bichos já morreram ou foram afetados pelas chamas. Isso porque a resposta de cada espécie aos efeitos das queimadas é diferente, e depende da concentração de indivíduos nas áreas atingidas.

O fato é que, mesmo após os incêndios serem controlados, a devastação vai demorar pra ser superada. A vegetação atingida pelo fogo vai diminuir a oferta de alimento, e com os níveis dos rios baixos, a o acesso a água também deve ser menor. Especialistas estimam que serão necessários até 30 anos para que a fauna da região volte à normalidade.

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