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Conheça Ana Carolina Queiroz, a representante do Brasil no G(irls)20

O evento acontece na China e reúne meninas dos países do bloco para discutir engajamento feminino

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 nov 2016, 19h16 - Publicado em 22 jul 2016, 23h00

Ana Carolina Queiroz tem 18 anos, aprendeu sobre programação na escola, venceu competições internacionais de robótica na África do Sul e no Canadá, desenvolveu um aplicativo em que alertava a população de São Luiz do Paraitinga sobre as enchentes da região, outro em que descrevia as funções de cada hormônio ao longo do ciclo menstrual e está trabalhando em uma plataforma online para incentivar mulheres interessadas em robótica. Nesse momento, Ana participa da Conferência G(irls)20 junto com outras 24 meninas de 18 a 23 anos – uma de cada país do bloco e mais quatro representantes de sindicatos africanos e do Oriente Médio.

Meninas do g20

Com tantos projetos no currículo, a paulistana foi selecionada pela empreendedora social Farah Mohammed, fundadora do evento. O G(irls)20 é uma iniciativa para estimular a participação feminina nas discussões políticas e econômicas de seus países. O objetivo da conferência é responder aos líderes do G20 como fazer com que mais de 100 milhões de mulheres entrem no mercado de trabalho até 2025. Em Pequim, as jovens participam de palestras sobre liderança, inovação social e finanças. Elas também estão passando por treinamentos para identificar suas principais habilidades e aprenderem a se comunicar melhor.

Conheça as delegadas do 7º Summit G(irls)20.

Enquanto Ana conta como começou a mexer com engrenagens aos 10 anos, como desenvolveu os aplicativos e como relaciona robótica e feminismo em sua nova plataforma, é difícil identificar nela uma menina de 18 anos – a não ser pelo tamanho dos sonhos. A jovem que, até então cursava Direito na USP, se prepara para estudar Economia e Programação na Universidade de Stanford, na Califórnia. Ela diz que depois de formada pretende trabalhar em projetos com mulheres de baixa renda.

Antes de embarcar para a China, Ana conversou com a SUPER sobre o G(irls)20, seu encanto pela ciência e a importância de ter sido apoiada por outras mulheres.

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O que você espera do Summit?

É uma responsabilidade imensa representar o país na China, estou ansiosa. Adicionei todas as meninas, a gente criou um grupo no Facebook, conversamos sobre as expectativas, os problemas com as burocracias da viagem. E o interessante é que cada uma está vivendo um momento diferente. Uma delas é da Turquia, eles acabaram de passar por um quase golpe de estado. A representante do Oriente Médio, por exemplo, foi a ativista que fez lobby para acabar com a lei que deixava o estuprador casar com a vítima. São vivências totalmente distintas e olhares bem diversos sobre ser mulher. Eu sou a mais nova, tem meninas com 23 anos que já estão terminando o mestrado. Elas são demais, estou animada para encontrá-las e conhecer os projetos delas.

Elas também devem estar interessadas para conhecer os seus. Falando nisso, como funciona a plataforma que mistura robótica e feminismo?

É um trabalho muito baseado na minha experiência pessoal, porque durante muito tempo fui a única menina na equipe. A plataforma online serve de recurso para incentivar as meninas que se interessam por robótica. Ela é dividida em três partes: a primeira é para os professores aprenderem a identificar situações de machismo e opressão dentro da sala de aula. A segunda é paras meninas mais experientes em robótica ajudarem as mais novas, passarem os conhecimentos pra frente sem competir, se apoiarem mesmo. Vai ter um espaço no site com textos avançados sobre robótica e sobre feminismo. A última parte é uma série de atividades e tarefas para as mais novas, que são o público alvo, testarem o que sabem e aprenderem sobre esses temas. Ainda tenho que fazer alguns ajustes, mas pretendo lançar em setembro quando voltar do Summit.

Essa não é a primeira vez que você desenvolve um projeto voltado para mulheres, não é?

Não, durante quatro anos trabalhei no “TPM – Tempo para mudanças” com meninas da minha escola e da periferia entre 14 e 16 anos. Eu e outra amiga passamos um questionário para entender qual era a prevalência de TPM por lá e vimos que, além de ser alta, as meninas não sabiam lidar com aquilo. Continuamos pesquisando e vimos que elas tinham um relacionamento péssimo com o próprio corpo. Então desenvolvemos um aplicativo que, pelos dados que a menina cadastra, que é um fluxograma, funciona como uma legenda científica para explicar como os hormônios estão agindo no corpo.

Na prática, como funciona?

Ele dá sugestões de coisas que são legais para fazer em cada alteração hormonal. Por exemplo, nesse dia é o estrogênio que está em prevalência, então vou estar mais animada, é um dia melhor para trabalhar em grupo. Quando é o dia da progesterona não, vou ficar mais quieta. A ideia é que quanto mais as meninas conhecerem o próprio corpo e entenderem que aquilo é natural, mais vão conseguir usar isso a favor delas mesmas. Além do aplicativo, também promovemos palestras de médicos, ginecologistas e sessões de arte terapia, em que, ao invés de falarem com uma terapeuta, elas desenhavam o que estavam sentindo.

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Você começou muito cedo. Como surgiu o interesse por tecnologia?

Eu era bolsista em um colégio particular daqui de São Paulo e minha mãe me incentivava a aproveitar todas as oportunidades dentro da escola. Quando tinha 10 anos comecei a fazer aulas de robóticas. Gostava de aprender sobre os motores, as engrenagens. Mas fiquei dois anos sendo a única menina.

E você se incomodava com isso?

Um pouco. Os meninos tinham alguns bloqueios em relação a mim, me deixavam por último, torciam o nariz paras as coisas que eu fazia, faziam piadas desagradáveis, era um ambiente hostil. Aos 13 anos, parei de frequentar as aulas. Mas a minha professora e a coordenadora me chamaram para conversar, me convenceram a voltar. Só não desisti, porque vi que elas estavam botando fé em mim e isso fez toda a diferença. Voltei e comecei a fazer parte de um programa da escola focado em iniciação científica, juntei as duas coisas. Ali percebi que também gostava de investigar, entender os porquês das coisas. Pesquisa é “mó dahora”.

Quando você percebeu que o machismo precisava ser discutido dentro desse meio?

Em 2014, aconteceu uma coisa bem chata. Estava em uma competição com a equipe de robótica, a gente estava transportando os materiais e peguei uma caixa com o robô. Quando levantei a caixa, o juiz da competição disse “Com tanto homem forte por aqui, vai deixar a menina carregar isso?”. Respondi que menina pode ser forte também. Todo mundo contestou o fato de eu ter respondido, que podia prejudicar a equipe por não ter levado na brincadeira. Mas isso não é brincadeira, sabe? Isso aconteceu em uma competição, um lugar em que as pessoas são minimamente instruídas, sabem distinguir o que é preconceito e o que não é. Desculpa, mas não sou obrigada.

A sua geração é muito consciente sobre questões de gênero.

O feminismo era uma coisa muito acadêmica que tem se tornado palpável. É uma discussão necessária que, felizmente, está na moda. Onde há acesso à informação, há problematização. O feminismo mudou a minha vida não só porque tem a ver com meu trabalho. Mas porque me ensinou a pensar de maneira crítica. Se o feminismo não existisse, talvez eu não tivesse coragem de desenvolver as coisas que eu desenvolvo hoje, de conversar abertamente sobre isso.

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E quando não está programando ou fazendo pesquisas, o que você faz?

Curto rolês culturais. Gosto de visitar exposições, ir ao cinema. Estou fazendo um curso online do MIT sobre a experiência do filme. E sempre gostei muito de ler, principalmente Fernando Pessoa e Albert Camus. Também me interesso sobre psicologia, andei lendo bastante Freud e Jung.

Ana, você está me enganando. Tem certeza que tem 18 anos?

Tenho sim. Ah, mas gosto de Jogos Vorazes e Game of Thrones! O problema é que ando sem tempo de ler isso.

Não me espanta que você ande sem tempo…

Estou um pouco atarefada mesmo. Mas tento acompanhar a série BoJack Horseman e vivo escutando Artic Monkeys, minha banda favorita.

Você é jovem, mas desenvolveu mais coisas que muito cientista experiente por aí. Se pudesse dar um conselho para uma menina mais nova que quer seguir os mesmos caminhos que você, o que diria?

Não desistam.  Ciência é um lugar de menina, sim! A gente pode estar onde quiser. Por mais que não haja tantos grandes ícones femininos nessa área (até porque, a história foi contada por homens), não quer dizer que será sempre assim. Se hoje temos poucas cientistas reconhecidas, podemos ser os ícones de amanhã.

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