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Desmatamento na Amazônia em junho é o maior dos últimos 5 anos

A área destruída tem o tamanho da cidade de Belém (PA). E logo estará em chamas: os incêndios geralmente começam dois meses após a remoção da mata nativa.

Por Carolina Fioratti
10 jul 2020, 18h43

No mês de junho, o Brasil bateu um novo recorde, mas não há motivos para comemorar. Em apenas um mês, houve deflorestamento em uma área da Floresta Amazônica de 1.034,4 km², equivalente à cidade de Belém, no Pará. O número é 10,6% maior do que o registrado no mesmo mês em 2019 – e o mais alto já registrado nos últimos cinco anos.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (10) pelo sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Deter é um levantamento rápido, mas não oficial. Ele serve para informar as equipes de fiscalização em tempo real e permitir flagrantes. Os números serão posteriormente confirmados pelo Prodes, o sistema que fornece a taxa oficial de desmatamento anualmente.

Além do recorde de junho, o levantamento do Deter mostra que, nós últimos 11 meses, 7,5 mil km² de áreas florestais foram sinalizadas como locais onde estava ocorrendo desmatamento. Isso representa um aumento de 64% em relação ao período de 11 meses terminado em junho de 2019, e de 112% em relação ao mesmo período terminado em 2018.

Com o deflorestamento, vem o fogo. Por volta de dois meses após a remoção da cobertura vegetal – quando as folhas e galhos já tiveram tempo de secar –, os agricultores, pecuaristas ou garimpeiros que querem explorar a área ateiam fogo aos tocos de árvore que ficaram no chão (as madeiras nobres, em geral, já foram retiradas por madeireiros igualmente ilegais). Depois, com as raízes carbonizadas e bastante frágeis, basta usar tratores com correntes para nivelar o terreno e sumir com todos os indícios de que o local já abrigou mata nativa.

O pulo do gato é que incêndios são uma forma comum de preparar o terreno para o plantio. Assim, caso um fiscal veja o incêndio, fica fácil para o novo ocupante do terreno argumentar que ele sempre teve uma fazenda produtiva ali – e que aquele é só o incêndio mais recente para abrir caminho para a nova temporada. Esse golpe, com frequência, vem acompanhado de documentos falsos que sinalizam a posse do terreno há anos ou décadas. É assim que uma área pública cai na mão de um grileiro. Entenda melhor o processo nesta reportagem da SUPER.

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A pecuária é a aplicação mais comum: estima-se que entre 70% e 80% das áreas desmatadas na Amazônia hoje contam com cabeças de gado. Mas é uma aplicação extremamente improdutiva. O pasto é de má qualidade, e em geral há apenas uma cabeça de gado por hectare, uma densidade baixíssima. Os bois são só um pretexto: o verdadeiro objetivo é a especulação imobiliária. Um naco de floresta roubado do governo e vendido limpo é muito atraente para potenciais compradores (e muito lucrativo para os grileiros).

Dados do Inpe indicam que apenas em junho, foram 2.248 focos ativos de queimadas na Amazônia, 19,6% a mais do que a mesma época em 2019 – e o maior já registrado nos últimos 13 anos. Como as últimas queimadas registradas devem ser referentes a abril, podemos esperar índices ainda maiores para os próximos meses.

Os resultados não são negativos só para a natureza. O Brasil pode perder o apoio de diversos investidores estrangeiros caso não haja maior controle dos crimes no bioma. Em reunião remota com Hamilton Mourão, vice-presidente do país, empresários pediram redução significativa das taxas de desmatamento, implementação integral do Código Florestal (ainda há trechos pendentes), mais transparência nos dados sobre preservação, entre outras comprovações do comprometimento do Brasil em reverter o cenário.

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O comprometimento veio na forma de um decreto chamado “Garantia da Lei e da Ordem”, ou simplesmente GLO. Por meio dele, o Presidente da República pode enviar as Forças Armadas à Amazônia para dar suporte aos fiscais do Ibama e impedir a aproximação de criminosos. Poderia ser algo bom, caso funcionasse.

Em maio de 2020, o presidente Jair Bolsonaro lançou a “Operação Verde Brasil 2” por meio de decreto GLO. O problema é a imposição que acompanha a operação: com ela, fica definido que todas as ações devem ser seguidas de acordo com a vontade dos militares, e não conforme a experiência dos fiscais do Ibama. Em entrevista anônima ao Estadão, trabalhadores do instituto revelaram a dificuldade de trabalhar em conjunto com os militares, que muitas vezes não estão preparados para as missões que são enviados e acabam atrapalhando mais do que ajudando.

Dois meses se passaram desde a GLO e, mesmo com sua imposição, os números só aumentaram. Em maio, o desmatamento foi de 828,97 km², cerca de 20% a menos do que o registrado em junho. 

Além da GLO, também em 2020 foi implantado pelo Ministério do Meio Ambiente um plano nacional para controle do desmatamento, com vigência até 2023. O documento promete o controle do desmatamento ilegal e a recuperação da vegetação nativa com base em três temas transversais: ambiente de negócios, inovação e financiamento.

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