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Devo dar esmolas? O que três fillósofos diriam sobre a questão

"Muitas pessoas obtêm prazer em realizar boas ações", escreveu Kant. "Elas não querem se comprometer com os direitos das pessoas, mas vê-las apenas como objetos de magnanimidade." 

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 dez 2020, 08h53

Immanuel Kant (1724 – 1808)

Não. Para Kant, a esmola transfere a resolução de um problema público para a esfera particular. Além disso, o pedido serve como fonte de vaidade para alguém que quer se sentir bom e magnânimo, e põe o doador comum (que não tira prazer do ato de doar) numa posição em que ele não tem informações para guiar a própria conduta: o mendigo realmente está com fome ou está se aproveitando? Por fim: não devemos incentivar a auto-humilhação, que é algo degradante para o pedinte.

O último ponto é preocupa Kant em especial. Ele escreve: “Ao mendigar, o homem mostra o mais alto grau de desprezo por si próprio. (…) É uma obrigação do homem se esforçar ao máximo para permanecer um ser livre e independente em relação aos outros. Enquanto mendigo, ele se sujeita aos caprichos alheios, e sacrifica sua autossuficiência.”

Kant enfatiza que muitas pessoas, ao darem o dinheiro, ganham o senso de ter praticado uma boa ação sem se submeter a uma obrigação de longo prazo ao outro. É um gesto que faz bem para o ego e não melhora efetivamente o problema. Para o alemão, o que pertecence a você por direito não deve vir como um ato de compaixão.

“Muitas pessoas obtêm prazer em realizar boas ações mas não querem permanecer obrigadas aos outros. Se alguém vem a elas de maneira submissa, elas farão tudo: elas não querem se comprometer com os direitos das pessoas, mas vê-las apenas como objetos de magnanimidade.”

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Karl Marx (1818 – 1883)

Marx não se manifestou de maneira célebre especificamente sobre esse dilema ético, ainda que tenha escrito longamente sobre o lumpenproletariado: os ladrões, pedintes, prostitutas, boêmios e outras pessoas que formam uma massa difusa, sem consciência de classe e suscetível aos interesses da burguesia, localizada alguns degraus abaixo do proletariado.

Eleprovavelmente diria que errado não é, mas não adianta: o mendigo continuará na rua. Em uma sociedade justa, todos teriam suas necessidades básicas atendidas. Se você sente peso na consciência quando vê alguém na calçada, o caminho é lutar contra a desigualdade e o acúmulo da riqueza em poucas mãos. Em última instância, com o fim da concentração da renda e dos meios de produção em poucas mãos, esse problema se resolveria no contexto de mudanças sociais mais amplas.

Peter Singer (1946 – )

Sim. Singer argumenta assim: se você visse uma criança se afogando, não pensaria duas vezes em pular na água para salvá-la – mesmo que uma autoridade, como um policial, estivesse por perto. Pessoas carentes morrem de frio e desnutrição, etransferir a responsabilidade para o governo é como cruzar os braços diante da criança afogada.

Esse senso de obrigação absoluta decorre do fato de que o custo daquela ação para você é baixo – desde que você saiba nadar, o único inconveniente serão as roupas molhadas –, mas a criança paga com a vida caso você se recuse a ajudar. A desproporção não abre margem para dúvida.

Nem todo mendigo, é claro, está em uma situação de vida ou morte, mas é altamente provável que pelo menos alguns deles estejam, e você não pode arriscar uma infração ética tão óbvia quanto permitir que alguém passe fome.

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