França proíbe uso de “esports”, “streamer” e outros termos em inglês
Em mais um esforço do país para se proteger contra anglicismos, funcionários públicos precisarão usar termos equivalentes em francês. Entenda.
A França determinou que termos em inglês relacionados a videogames, como “esports” e “streamer”, sejam substituídos por equivalentes em francês. A decisão saiu na última segunda-feira (30) no diário oficial do país.
É claro: isso não irá impedir que as pessoas usem essas palavras. Um francês que ganha a vida com campeonatos de League of Legends continuará dizendo que é um pro-gamer. A medida vale para funcionários públicos, que precisarão usar os termos em francês em documentos oficiais e nos meios de comunicação do governo.
Dentre as expressões alteradas, algumas são traduções diretas do inglês para o francês. “Pro-gamer” virou “joueur professionnel”. “Cloud gaming” (o uso de armazenamento em nuvem para rodar os jogos), “jeu video en nuage” (“videogame na nuvem”). Outras traduções não são ao pé da letra: “streamer”, por exemplo, virou “joueur-animateur en direct” (algo como “jogador-apresentador ao vivo”).
Em entrevista à AFP, agência francesa de notícias, o Ministério da Cultura do país disse que a mudança visa a facilitar a comunicação e o entendimento da indústria de games pelos franceses – algo que, segundo eles, ficaria difícil caso a grafia em inglês se mantivesse. O órgão reforçou que consultou publicações nacionais para conferir se já existiam termos equivalentes no idioma local.
Proteção linguística
A decisão é só o capítulo mais recente do esforço francês em se proteger dos anglicismos (palavras e expressões da língua inglesa que outras línguas incorporam. Pense em drive-thru, mouse, remake, drag queen…). Existe até uma Comissão para o Enriquecimento da Língua Francesa, que regularmente lista alternativas para termos ingleses. Em 2018, ela recomendou que “fake news” fosse substituída por “information fallacieuse”, ou por “infox”. Em 2020, foi a vez das expressões “clickbait” e “podcast” (“piège à clics” e “áudio à la demande”, respectivamente). Não pegou.
Em fevereiro, a Academia Francesa, fundada em 1634 (e inspiração para a nossa Academia Brasileira de Letras) se posicionou diante dos estrangeirismos pouco a pouco incorporados pela população, como “big data” e “drive-in”. Segundo a instituição, esse fenômeno representa uma degradação da língua francesa – e que não pode ser encarado como algo inevitável.
Um pouco de história
Vale lembrar que, alguns séculos atrás, a França estava do outro lado dessa moeda. Durante o século 19 e o início do 20, ela foi um imenso império que incluía boa parte da África Central e Ocidental, o Sudeste Asiático e ilhas do Pacífico. Nas Américas, segue-se falando francês na do Norte (Canadá), na do Sul (Guiana Francesa) e no Caribe (Haiti, Guadalupe etc.).
Essa presença, claro, gerou estrangeirismos por toda parte. Os antepassados brasileiros que gostavam de imitar o estilo de vida francês enraizaram no Aurélio couvert, buffet, croissant, maionese (de mayonnaise), baguete (de baguette), batom (de bâton)…
Só que, depois de duas Guerras Mundiais, com a Europa devastada, quem se tornou o maior exportador cultural foram os Estados Unidos. Não à toa, grande parte dos estrangeirismos recentes vem do inglês – quando se fala de inovações tecnológicas, então, a probabilidade de a palavra permanecer é grande. Boa sorte ao governo francês.