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Letalidade policial no Brasil é cinco vezes maior que nos EUA

Morte de George Floyd gerou protestos contra a letalidade da polícia nos EUA. No Brasil, o Rio de Janeiro supera, sozinho, o número de casos americanos.

Por Da Redação
Atualizado em 1 jun 2020, 21h28 - Publicado em 1 jun 2020, 21h10

A morte do segurança George Floyd, 46, despertou uma onda de protestos  pelos Estados Unidos. Negro, Floyd foi asfixiado durante uma abordagem em Minneapolis, cidade do estado americano de Minnesota, no dia 25 de maio.

As cenas de seu assassinato rodaram o mundo via redes sociais: um policial branco aparece no vídeo esmagando o pescoço da vítima contra o chão com o joelho por 8 minutos e 46 segundos. Floyd não consegue respirar e acaba desacordado. Seu delito foi usar uma nota falsa de US$ 20 para comprar cigarros em um mercado; ele não estava armado. 

O policial que matou Floyd foi detido na última sexta-feira (26). Ele responde por homicídio culposo – quando não há intenção de matar – e assassinato de terceiro grau, quando o autor do delito age de forma irresponsável ou imprudente.

O simbolismo da morte de um homem negro, desarmado e que já estava rendido levou milhares de pessoas às ruas. “Não consigo respirar” ( do inglês I can’t breath), frase proferida por Floyd enquanto era estrangulado, e a hashtag “vidas negras importam” (black lives matter) se tornaram os principais lemas dos manifestantes, que protestam contra o longo histórico de violência contra as pessoas negras no país.

Os protestos começaram em Minneapolis e, depois, ganharam outras cidades americanas. Em sua maioria, foram pacíficos, mas houve ocorrências de depredação. Segundo a Associated Press, estima-se que ao menos 4,1 mil pessoas foram presas por atos de violência nos Estados Unidos só no final de semana. Em algumas cidades, o comércio – principal alvo do vandalismo – fechou nesta segunda-feira (1).

Letalidade policial

A morte de Floyd despertou discussões quanto à truculência de policiais nos Estados Unidos. Não há dados consistentes que sobre o número de pessoas que perdem suas vidas em abordagens policiais no país.

De acordo com um levantamento colaborativo feito pelo jornal britânico The Guardian, foram 1.093 mortes de civis pelas mãos de policiais em 2019 nos EUA – cerca de 3 vidas por dia. O número considera, sem distinção, tanto pessoas mortas após reagir violentamente às abordagens quanto pessoas imobilizadas e desarmadas como Floyd. O número de policiais mortos, no mesmo ano, foi 59. 

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O jornal Washington Post, outra base de dados confiável sobre letalidade policial, registrou 1.004 mortes no mesmo ano. Mas, como destaca a revista Nature, o número de mortes, por si só, pode não ser um retrato fiel da atuação violenta de policiais no país.

É isso que apontam dados de 2010 a 2016 obtidos pelo site Vice junto a 50 departamentos de polícia dos EUA. Para cada pessoa morta por um tiro dado por um policial, outras duas são atingidas e sobrevivem. Ou seja: mais de 3 mil pessoas são baleadas todos os anos por armas de policiais.

Existe, aí, um recorte racial importante. As chances de um homem negro ser atingido pela polícia por lá, segundo uma pesquisa de 2019, são de 96 em 100 mil – mais de 2,5 vezes o risco de um homem branco.

Desde 2015, o FBI – a Polícia Federal americana – passou a cobrar dos estados e departamentos de polícia americanos relatórios de homicídios mais detalhados. A ideia é que, assim, fosse possível reduzir a subnotificação no país. Uma plataforma que coleta dados sobre o chamado “uso da força” por policiais do país está disponível desde janeiro de 2019, e você pode acessá-la aqui. Ainda não há, no entanto, dados disponíveis ao público.

Um estudo brasileiro, apresentado em 2018 pela pesquisadora e diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Samira Bueno, levantou dados sobre a letalidade da polícia nos EUA e em outros três países: África do Sul, Brasil e El Salvador. Em 2016, a cada 100 homicídios sem envolvimento da polícia nos EUA, policiais americanos matavam 2,9 pessoas. Na África do Sul, esse número era 3,7 – e, no Brasil, 7,8. Quem liderava a lista é El Salvador, nação da América Central que é tida como uma das mais violentas do mundo: 10,6 homicídios a cada 100 partiram das armas de policiais salvadorenhos.

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No Brasil

De acordo com a pesquisa de Bueno, o percentual relativo de mortes de civis por policiais no Brasil já foi superior até mesmo ao de El Salvador. Isso mudou desde 2014, quando o governo salvadorenho endureceu o combate ao tráfico no país – aumentando, por tabela, o número de mortos.

As estatísticas mais recentes sobre as mortes por policiais no Brasil envolvem dados do Monitor da Violência, mantido pelo portal G1 em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento é baseado em informações coletadas junto a 25 estados e do Distrito Federal – só o estado de Goiás não forneceu dados.

De acordo com a plataforma, o Brasil teve pelo menos 5.804 pessoas mortas por policiais em 2019 (por sua vez, 159 policiais morreram). No ano anterior, 2018, foram 5.716 mortes – um crescimento de 1,5%. O Amapá tem maior taxa de mortes por policiais, com 15,1 a cada 100 mil. Mas é o Rio de Janeiro que se destaca em números absolutos: 1.810 mortes, ou 31% do total, aconteceram no estado. Os números incluem mortes causadas por policiais em serviço (95% dos casos) ou à paisana.

Em 2020, o caso de destaque mais recente foi o do jovem João Pedro Mattos, de 14 anos. Morto durante uma ação da polícia no Morro do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, João Pedro foi atingido pelas costas por um tiro de fuzil calibre 556, enquanto jogava sinuca na casa de um parente.

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