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Olimpíadas: por que o Japão é tão bom no skate?

Entenda como um país onde é proibido andar de skate na rua conseguiu fabricar tantos talentos no esporte.

Por Bela Lobato
29 jul 2024, 18h56
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  • Três meninas jovens, lado a lado. Cada uma está segurando um troféu na mão esquerda e, na mão direita, uma medalha.
     (Julian Finney / Getty Images/Reprodução)

    Nos Jogos de Tóquio em 2021, o Japão levou medalhas em três das quatro modalidades de skate (street e park, cada uma com categorias masculina e feminina). Entre as mulheres, das seis medalhistas, quatro eram japonesas.

    Os resultados nos Jogos de Paris parecem ir pelo caminho: na categoria street (a de Rayssa Leal e Kelvin Hoefler), metade das medalhas foram para o Japão – onde, vale dizer, é proibido andar de skate na rua.

    Como um país com esse tipo de restrição vira campeão mundial no esporte? A resposta está em uma combinação de fatores históricos e sociais.

    A popularização do skate

    Espaço livre é uma coisa escassa no Japão, que é um pouco maior que o Mato Grosso do Sul e tem uma população 45 vezes maior. Por isso, não existem pistas de skate públicas, e andar de skate na rua é considerado perigoso, incômodo e mal educado. Esse cenário fez com que, até pouco tempo atrás, o país não tivesse uma cena do esporte.

    A globalização e a internet permitiram que a modalidade se popularizasse entre os jovens. Foi assim que o agora bicampeão olímpico Yuto Horigome começou na modalidade: assistindo a vídeos de skatistas norte-americanos no Youtube. Aos 25 anos, ele marca o início de uma geração que começou a se destacar dentro e fora do país.

    E quem diz não somos nós, mas Hayakawa Daisuke, que é treinador de skate no Japão há décadas e que também treinou Horigome. Em entrevista ao site oficial das Olimpíadas, ele opina que o atleta foi uma semente plantada há mais de dez anos e que hoje rende frutos para o país todo:

    “Durante muito tempo, foi muito difícil para um japonês competir no skate internacionalmente, e a perspectiva de ir para o exterior não parecia real. Então surge alguém como Yuto, que é de uma nova geração com grandes sonhos. Não como nós, que fazíamos parte de um grupo conhecido como a cena japonesa do skate, mas crianças com acesso à internet, acostumadas a ver o que era classe mundial por meio das mídias sociais, do YouTube e assim por diante.”

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    Treinando desde cedo

    O skate nasceu nos anos 1950, nas ruas do sul da Califórnia. E, desde então, floresceu como um movimento da contracultura urbana. O caminho normal para se aprender a andar numa prancha, então, é na rua, mesmo.

    No Japão, as coisas são um pouco diferentes.

    “A maioria das pessoas começa a andar em parques de skate, o que não quer dizer que seja institucionalizado, mas eles aprendem o básico mais cedo de uma forma que não é necessariamente verdadeira no resto do mundo.” disse Niall Neeson, da World Skate, órgão internacional que rege o skate, também ao site das Olimpíadas.

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    É uma prática bem diferente do resto do mundo: no Japão, o skate vem se tornando um esporte do tipo que pode ser aprendido desde a infância em uma escola, com metodologia e constância que talvez não se encontre tão facilmente nas ruas.

    Há quem diga, inclusive, que os skatistas japoneses são mais ordeiros e disciplinados, sem a imagem de “bad boy” que costuma se atribuir aos praticantes de outros países (alô, Chorão).

    Os atletas e treinadores japoneses também gostam de destacar como o esporte tem um ambiente saudável e amigável entre os atletas, sem a competição agressiva que marca outras categorias. É comum que até oponentes troquem dicas, elogios e demonstrações de afeto.

    (Não é um costume exclusivo dos skatistas japoneses, diga-se. Nos Jogos de Paris, o brasileiro Felipe Gustavo pediu para que o público não vaiasse os adversários. Segundo o atleta, é um esporte diferente do futebol, não é comum que se torça contra o oponente.)

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    Nos Jogos de 2021, a medalha de ouro do street feminino foi para Momiji Nishiya, de 13 anos (o mesmo pódio em que Rayssa Leal ganhou a prata). Após conquistar o feito de ser a mais jovem medalhista de ouro do Japão, Nishiya declarou em entrevista ao site oficial das Olimpíadas: “Eu não estava preocupada nem nada. Eu só pensava em conhecer os skatistas mais incríveis do mundo.”

    “O que importa é quem consegue se divertir mais”, completou Nishiya. “Tento me divertir e fazer os manobras que quero fazer. É assim que eu faço”.

    Para resumir ainda mais o clima do esporte em seu país, ela ainda contou seu sonho: “Quero morar nos Estados Unidos, como o Yuto. Há vários parques de skate por toda parte e você pode andar de skate na cidade, o que é ótimo. No Japão, você levaria um grito por fazer isso”. 

    De acordo com o site Los Angeles Times, Nishiya ainda fez uma reivindicação: “Espero que tenhamos muito mais parques para praticar no Japão.”

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    E o país parece caminhar nessa direção. Depois do êxito em Tóquio, o skate se tornou ainda mais popular. Para a agência de notícias AFP, Hayakawa declarou que o número de praticantes triplicou depois de 2021, e que, com a chancela olímpica, os jovens skatistas recebem cada vez mais apoio dos pais (algo raro no passado).

    Então, fica o aviso: os japoneses devem continuar a ser uma pedra no caminho para um ouro inédito do Brasil. De olho neles, Fadinha.

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