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Por que é proibido se aproximar de povos indígenas isolados?

Desde 1987, o Brasil adota oficialmente a política do não-contato. Saiba por que essas pessoas devem permanecer isoladas.

Por Bela Lobato
Atualizado em 23 abr 2025, 10h10 - Publicado em 19 abr 2025, 19h00

Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), são considerados “isolados” os grupos indígenas que não têm contato permanente com a população nacional. No Brasil, existem 114 registros de povos isolados – todos estão na Amazônia. Eles são divididos em “confirmados” (ou seja, a Funai já atestou sua existência) e “em estudo” ou “em informação” (ainda são necessárias mais evidências para confirmá-los). Dos 114 registos de povos isolados, 29 são confirmados e 85 ainda estão sendo investigados.

Oficialmente, eles são chamados de “isolados voluntários”, mas especialistas acreditam que chamar o isolamento de “voluntário” é um jeito de mascarar as razões pelas quais esses povos preferem não ter contato com outros. 

Que fique claro: eles sabem que existem formas de viver fora da floresta, e não vivem de forma “primitiva”, da mesma forma há séculos. Esses povos preferem se isolar porque sabem dos riscos que correm se entrarem em contato com outras pessoas.

Mas quais são esses riscos? E por que você, se estivesse na Amazônia, não poderia se aproximar desses povos?

Historicamente, o primeiro contato de europeus com povos indígenas provocou experiências traumáticas. Pessoas que vivem em sociedade podem trazer patógenos causadores de doenças para as quais os isolados não estão preparados. Sem a memória imunológica adequada, uma simples gripe pode dizimar até 90% de um grupo nas primeiras semanas após o contato.

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Além disso, os contatos na Amazônia do século 20 foram marcados por chacinas, envenenamentos e genocídios dos povos indígenas que ali vivem. Sabendo disso, alguns grupos começaram a fugir dos ataques, se protegendo em meio a floresta. Eles se lembram de como o contato com pessoas não-indígenas foi desastroso para familiares e vizinhos, e não querem repetir a dose.

Durante a maior parte do século 20, a política de Estado foi atrair e “integrar” esses povos à sociedade. Com o tempo, os próprios servidores que entravam em contato com isolados perceberam que essa estratégia era violenta e ineficaz – que produzia mortes, doenças e pobreza para povos que, antes, estavam bem. 

Foi por isso que, a partir de 1987, o Brasil passou a adotar a política do não-contato. Isso significa que os órgãos oficiais pararam de procurar ativamente integrar esses povos isolados, e passaram a defendê-los de qualquer invasão que ameace o seu modo tradicional de viver.

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O artigo 231 da Constituição Federal reconhece a organização social, os hábitos, os costumes, as tradições e as diferenças culturais dos povos indígenas, e assegura-lhes o direito de manter sua cultura, identidade e modo de ser. Isso significa que é dever do Estado brasileiro (e dos seus cidadãos) proteger esses povos.

A sombra dos contatos violentos ainda paira sobre a floresta. Além da ameaça imunológica que qualquer pessoa que vive em sociedade oferece a eles, a Amazônia também está repleta de invasores – madeireiros, grileiros, garimpeiros, missionários, etc – que ameaçam a segurança física e cultural desses povos.

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É para isto que existe a demarcação de terras indígenas. A demarcação transforma uma grande área em território da União, que não pode ser vendido nem alugado. Só os indígenas têm direito ao usufruto da terra – coisa que eles têm feito de forma sustentável há milênios.

Aliás, diversos estudos científicos apontam que as terras indígenas são barreiras importantes para conter o desmatamento e a destruição da floresta amazônica. Em tempos de mudanças climáticas brutais, é essencial que a floresta continue de pé – e ninguém sabe cuidar dela melhor do que os povos nativos.

É por isso que o contato é proibido: qualquer aproximação, mesmo que bem-intencionada, pode ser a sentença de morte de um povo inteiro. E quando um povo some, o mundo perde também um conjunto valioso e irrecuperável de conhecimentos sobre a floresta, plantas, animais, solos, artefatos, línguas e muito mais.

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