Só 11% dos países do mundo têm democracias plenas
Mais da metade das democracias do mundo estão mais frágeis que em 2016 – e a brasileira obteve a pior nota dos últimos 12 anos
2017 não foi um ano fácil para a democracia mundial. Donald Trump espumando ódio no poder, guerra na Síria, Kim Jong-un prometendo armas nucleares, repressões ao referendo de independência da Catalunha, ganho de força de movimentos religiosos extremistas, presidente brasileiro com o menor índice de aprovação em três décadas. Esses são apenas alguns exemplos de como os regimes democráticos estão fragilizados.
Não à toa, apenas 19 países vivem em “democracias plenas” de acordo com o levantamento 2017 Democracry Index, publicado pela revista The Economist.
O ranking escalona, anualmente, 167 países em notas de zero a 10 de acordo com o funcionamento de seus regimes e sistemas políticos vigentes. Essa edição do levantamento obteve o pior declínio na democracia global dos últimos anos – 89 nações receberam pontuações menores que em 2016. Apenas 27 países registraram melhora e 51 tiveram seus índices estagnados.
Quase um terço da população mundial vive em um regime autoritário, sendo a China a grande responsável por essa infeliz concentração. Na divulgação do estudo, a Economist salienta que a liberdade de expressão e a de imprensa está sofrendo repressões do Estado e sendo desafiada também por atores não-estatais. Dado o perigo que essas intervenções à manutenção das democracias, “Free speech under attack” (“discurso livre sob ataque”, em livre tradução) é o título do relatório deste ano. O relatório atual apresenta pela primeira vez um espaço único destinado à liberdade de imprensa, o Media Freedom Index.
A Unidade de Inteligência da publicação (departamento responsável pelo estudo) usou cinco critérios para avaliar a qualidade das democracias: processo eleitoral (nível de justiça, liberdade e pluralidade das eleições); funcionamento do governo (honestidade e eficácia com questões financeiras); cultura política (participação política dos cidadãos e apoio ao governo) e liberdades civis (liberdade de expressão e de imprensa).
A partir desses cinco critérios, os países receberam notas em 60 indicadores distintos. Então, cada nação foi classificada com um tipo de regime político, sendo eles: democracia plena, democracia com falhas, regime híbrido e regime autoritário.
Os países nórdicos encabeçam, juntamente com a Nova Zelândia, as cinco democracias mais fortes do planeta. Na lanterna, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Chade, Síria e Coreia do Norte são as nações mais autoritárias.
No grupo dos 19 países com democracia plena, o Uruguai se destaca como o único latino-americano na categoria. Nosso vizinho obteve a 18ª posição, à frente da Espanha, com 8,12 de pontuação geral.
Do lado de cá do arroio Chuí, ocupamos a 49ª posição, atrás de países como Argentina, Bulgária, Panamá, Índia e Jamaica. O Brasil recebeu uma média de 6,86 pontos, sendo avaliado como uma democracia com falhas. Nosso processo eleitoral alcançou nota 9,58, seguido de 8,24 pontos para as liberdades civis, a participação política chegou a 6,11 pontos, o funcionamento do governo somou 5,36, e nossa cultura política recebeu nota 5, nosso resultado mais desastroso.
Desde que o relatório começou a ser realizado, em 2006, a pontuação da democracia brasileira nunca esteve tão baixa. Em 2006, 2008 e 2014, atingimos nosso pico: 7,38 pontos. No entanto, até hoje, passadas 12 edições da pesquisa, o Brasil nunca conquistou o “título” de democracia plena.