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Uber montou programa secreto para driblar autoridades

Estratégias da empresa incluíam desde o monitoramento de dados pessoais até a criação de "carros fantasmas"

Por Guilherme Eler
Atualizado em 7 mar 2017, 17h04 - Publicado em 7 mar 2017, 16h59

A expansão meteórica da Uber está ligada a sua versatilidade. Acompanhando as necessidades dos usuários, a empresa foi além de oferecer corridas individuais mais baratas, pegando onda na moda da economia compartilhada para diversificar seus serviços e expandir sua atuação. As estratégias utilizadas para consolidar-se no mercado, no entanto, são agora colocadas em xeque. A Uber é acusada de manter um esquema mundial para burlar a atuação do governo em locais onde sua atuação encontrava restrições ou era até mesmo proibida.

O programa utilizava-se de uma ferramenta chamada Greyball para coletar dados do aplicativo e contornar a fiscalização das autoridades de várias cidades, em países como EUA, China, França, Austrália e Coreia do Sul. A ferramenta foi criada em 2014 originalmente para atuar na política de “violação dos termos de serviço” identificando o uso impróprio do aplicativo. Sua função paralela foi revelada ao jornal norte-americano The New York Times, que teve acesso a documentos fornecidos por quatro pessoas que já trabalharam ou trabalham na Uber.

A legislação de algumas cidades exige que serviços de transporte individual sejam realizados por motoristas profissionais – o que não costuma ser o caso dos motoristas do UberX. Por esse motivo, a empresa encontrou dificuldades no começo de suas atividades. Governos locais possuíam multas pesadas para a atividade, e puseram a fiscalização na cola dos motoristas irregulares. Aí que a Greyball era utilizada: quando a Uber começava a operar em determinada cidade, um funcionário era designado para identificar potenciais investigadores, acompanhando tentativas de utilização do serviço por parte das autoridades.

Uma das formas de identificação era delimitar regiões que estavam sendo monitoradas por cada inspetor. A companhia identificou os lugares onde os consumidores mais abriam e fechavam o aplicativo, o que supostamente indicava o monitoramento, assim como atividades em localizações que associadas às agências de controle locais. Os oficiais costumavam utilizar dezenas de celulares diferentes, para dificultar tentativas de rastreio. Mas o Uber, segundo alegaram os funcionários e ex-funcionários ouvidos pelo NYT, chegava ao ponto de vasculhar o Facebook de supostos fiscais para tentar identificá-los. Os casos confirmados recebiam uma espécie de marcação, e tinham seu app modificado para mostrar “carros fantasma” ou nunca possuir motoristas disponíveis. Quando a solicitação de alguém marcado era aceita por engano, o motorista recebia uma ligação, sendo aconselhado a cancelar a corrida.

Estima-se que pelo menos 50 pessoas de dentro da Uber sabiam sobre a utilização da ferramenta, que teria sido aprovada pelo conselho geral da empresa. A utilização da Greyball para burlar a fiscalização também compromete a segurança da informação dos usuários, colocando a empresa em mais um problema legal. Em comunicado ao The New York Times, a Uber afirmou que a ferramenta serve exclusivamente para bloquear a utilização de usuários que violam os termos de serviço, seja pela agressão a motoristas ou pela tentativa de competidores em prejudicar os negócios da empresa.

A empresa acumula em seu histórico recente diversas outras polêmicas. Integram a lista acusações de negligência em casos de assédio sexual até espionagem de celebridades e clientes comuns, a partir dos dados fornecidos no app, assim como problemas na remuneração dos funcionários. Presente atualmente em 70 países, a Uber possui valor de mercado estimado em US$ 70 bilhões.

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