14 tecnologias que vão fazer parte da sua vida daqui a 14 anos
Chips implantados no cérebro, computadores dobráveis e carros que não precisam de motorista serão moda em 2015.
Otávio Rodrigues
Quando a Super lançar a edição especial para comemorar o 28º aniversário, em setembro de 2015, você vai ler as matérias num computador fino que nem papel, que poderá ser dobrado e colocado no bolso. Ou, talvez, prefira receber os textos pela internet diretamente num chip instalado nas profundezas do seu cérebro. Pode até ser que você consiga entrar na revista, conversar com os entrevistados e tocar nos objetos mencionados nas reportagens – tudo num ambiente virtual. Catorze anos passam rápido – outro dia mesmo eu estava folheando a Super número 1, em 1987, e pensando “poxa, que revista legal”. Quando menos esperar, tecnologias que hoje parecem desvarios impossíveis, saídos de uma mente fértil, vão se tornar coisas tão banais que você nem se dará por elas. A
Super escolheu 14 dessas promessas, da banana-vacina ao computador invisível, do carro inteligente à roupa que se lava sozinha, do robô microscópico ao telefone-tradutor, da internet que pensa ao chip quântico. Todas elas estão sendo desenvolvidas por gente brilhante em laboratórios respeitados, mas, por enquanto, nenhuma ultrapassou o reino dos sonhos. Embora o futuro costume pegar caminhos inesperados, é bastante realista imaginar que cada uma delas faça parte do seu dia-a-dia antes de a Super completar 28 anos. Falta muito? Você não agüenta esperar? Então, vire a página. E seja bem-vindo ao futuro.
Computador dobrável
Se tudo continuar dando certo nos negócios da Rolltronics Corporation, uma empresa da Califórnia, Estados Unidos, logo teremos um computador com as dimensões e a espessura de uma folha de papel. A comparação não pára por aí: a máquina será completamente flexível – poderá até ser dobrada. Seus componentes serão impressos sobre uma ultrafina folha de silício. A memória funcionará numa camada de cristal orgânico líquido, ensanduichada em duas lâminas de plástico revestidas com circuitos. “Dentro de dois anos, teremos os primeiros protótipos dessa memória”, afirma Jim Sheats, conselheiro técnico da Rolltronics. O computador flexível é meta comum de vários laboratórios. “Tem gente trabalhando em telas flexíveis e em fontes de energia. Nosso negócio são os circuitos e a memória”, diz Michael Sauvante, presidente da empresa californiana.
Quando essas tecnologias estiverem em ponto de bala, as câmeras digitais ficarão ainda menores, o e-book vai realmente ter a cara de um livro e conter centenas de obras em um só volume. E poderemos levar no bolso um jornal online para ler no ônibus. Se ainda existir ônibus, claro.
Agente virtual
Tente disparar uma busca por sites sobre o Peru, destino hipotético de suas férias. Surgirão sites sobre como preparar o peru de Natal, piadas de mau gosto e umas tantas páginas sobre o peru que você queria – a maioria de conteúdo irrelevante ou pouco confiável. Ou seja, o computador não pensa por nós. Bem, não pensava. Três prestigiados pesquisadores – Tim Berners-Lee (veja quem é ele na página 54), James Hendler e Ora Lassila – estão desenvolvendo os agentes virtuais, programas espertos que vão focar as suas necessidades específicas. E isso vai além do discernimento dos serviços de busca. Você precisa de um dentista? Bastará um clique para que seu agente descubra as opções próximas de casa, compare opiniões de outros clientes a respeito dos profissionais, se comunique com o agente eletrônico do consultório, marque consulta e anote tudo na sua agenda, manipulando com inteligência os horários de outros compromissos. Quer dizer, uma moleza do peru.
Com essa rede, nossas máquinas poderão tomar decisões enquanto nos refestelamos em outro tipo de rede – a de descanso.
Implante de chip
Já tem gente “chipada” para se tratar do mal de Parkinson. Esses miniprocessadores, que hoje têm o tamanho de um grão de arroz, se intrometem no trabalho do cérebro e corrigem alguns sintomas da disfunção. E vão bem, obrigado, as experiências com um homem que ficou paralisado por causa de um derrame: o cérebro dele foi equipado com um eletrodo que lhe permite manobrar, com a mente, o cursor de um PC. Admirável, mas quase nada perto do que vem por aí. Raymond Kurzweil, da Kurzweil Technologies, pioneiro na tecnologia de reconhecimento de voz e um dos gurus dos implantes eletrônicos, prevê que, antes de 2020, esses dispositivos, cada vez menores, terão velocidade de processamento comparável à do cérebro e servirão para aumentar nossa memória e nossa inteligência. Essa é uma das peças-chaves para termos em nossos cérebros – se quisermos, espero – uma intranet, afinada com os sinais biológicos e capaz de interagir com eles.
Em outros dez anos, segundo Kurzweil, acessar um website significará entrar, de corpo e alma, numa impressionante realidade virtual projetada diretamente no cérebro. “Será tão realista, detalhada
e sutil quanto a realidade que conhecemos.”
Computador atômico
Não se descobriu ainda como as partículas subatômicas conseguem estar em dois lugares ao mesmo tempo, como prevê a física quântica, mas os cientistas já sabem como tirar proveito disso: com um computador quântico. Uma máquina dessas resolverá em 30 segundos problemas que tomariam 10 bilhões de anos de um computador convencional. As máquinas de hoje processam um dado de cada vez – um 0, depois um 1, e assim por diante. O computador quântico vai se apropriar da natureza multidimensional das partículas. Ou seja, já que uma partícula está em inúmeros lugares, por que não fazer com que ela faça cálculos em todos eles simultaneamente? O protótipo mais avançado de computador quântico é o do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), capaz de identificar um nome entre quatro.
Já no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), dois processadores se preparam para trocar um único bit de informação. “Você tem de começar de alguma coisa”, diz Jeff Kimble, pesquisador-chefe do Caltech. “Ninguém sabe qual caminho levará ao céu.”
Bactérias escravas
É até difícil de acreditar – se é que, a esta altura da reportagem, você ainda duvida de alguma coisa –, mas tem gente transformando células orgânicas em computadores. Uma equipe de cientistas do MIT programou o comportamento de uma Escherichia coli, bactéria que causa diarréia e colite hemorrágica. “Construí processos bioquímicos que ativaram o ‘e’, o ‘não’ e o ‘implica’ das operações lógicas na bactéria”, afirma Ron Weiss, do MIT. A idéia é poder controlar as células com um programa de computador. Um comando manda um sinal elétrico para o DNA da célula e faz um gene se ativar ou desligar. Com isso, os cientistas se apoderam do mecanismo que faz a célula funcionar e podem ordenar que ela faça o que eles quiserem. Será possível iniciar a produção de uma proteína em doses absolutamente precisas. Segundo Weiss, em breve esses conhecimentos poderão ser aplicados em inteligência artificial e na nanotecnologia.
Mas é na medicina que está a grande revolução: já pensou como será útil dar um “stop” ou mesmo um “delete” bioquímico numa célula cancerígena?
Chips moleculares
A miniaturização dos chips de silício vai continuar, mas não poderá ultrapassar certos limites, sob pena de perderem eficiência – que é tudo o que queremos deles. James Heat, da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, tem uma solução: avançar sobre o mundo molecular. Heat foi um dos colaboradores dos ganhadores do Nobel de Química de 1996, que descobriram o buckminsterfullerene – ou buckyball – um novo material de carbono, batizado em homenagem ao inovador arquiteto americano Buckminster Fuller, morto em 1983. A buckyball é uma esfera de 60 átomos – cabem 1 milhão delas em 1 milímetro. Além de ser muito menor que o silício, o novo material é mais resistente às altas temperaturas que comprometem os chips tradicionais. No laboratório de Heat já funcionam switches formados por essas moléculas.
Os minúsculos dispositivos reagem a pulsos de eletricidade, o que os torna capazes de mudar a seqüência de execução de um programa, tal como os transistores. “As novas máquinas poderão chegar a um bilhão de bilhões de operações por segundo com um consumo de energia de 1 watt”, afirma Heat. “Serão um bilhão de vezes mais eficientes que os computadores baseados no silício.”
Vacinas comestíveis
Primeiro foi o motorzinho do dentista, condenado aos museus de tortura com a chegada do laser aos consultórios. E logo seremos salvos das injeções. A ProdiGene, uma empresa do Texas, Estados Unidos, está testando vacinas comestíveis em humanos. É o fim da picada. A receita vem sendo desenvolvida com auxílio da engenharia genética. Um gene viral é inserido no DNA de uma bactéria, que depois o espalha nas células das plantas. As plantas, então, geram grãos produtores da proteína viral que dispara a resposta imunológica. “Nosso objetivo é produzir diferentes tipos de proteínas para vacinas comestíveis”, afirma Joseph Jilka, vice-presidente da ProdiGene. A vacina comestível será fácil de armazenar, administrável sem mão-de-obra e sem traumas e aumentará muito as chances de sucesso de campanhas de vacinação em países pobres.
“Se tudo der certo”, diz Jilka, “a população mundial poderá ser vacinada até contra a Aids, de forma segura e econômica, comendo milho geneticamente melhorado.” É o que falta para nossa felicidade estar completa: em vez de camisinha, um saquinho de pipoca.
Remédios sob medida
Se depender do mapeamento genético, não somos todos iguais, como querem a lei e a clemência divina: cada um tem um plano de vôo único determinado pelas cadeias de DNA. Faz algum sentido, então, tomar remédios com dosagens padronizadas? A drágea que serve para o meu vizinho, que é gordo, hipertenso e lava o carro todo sábado de manhã, também é a dose ideal para mim? Quando tivermos nossos mapas genéticos em mãos – ou implantados sob a pele em forma de chip – contaremos com remédios feitos sob medida. Com quantidades precisas e os ingredientes certos, ajustados às necessidades individuais, os remédios bossa-nova darão muito mais resultado e jogarão para escanteio os efeitos colaterais causados pela hiperdosagem. De acordo com a geneticista Mayana Zatz, professora do Instituto de Genética da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano, as pessoas realmente reagem de forma distinta aos medicamentos. “Há metabolizadores rápidos e lentos.
Nos rápidos, uma dose que para a maioria é suficiente não faz efeito. Já entre os lentos, a demora na metabolização torna as drogas tóxicas.” Felizmente, o remédio igual para todos está com os dias contados.
Nanorrobô
O ser humano transforma materiais desde que atirou a primeira pedra. Agora está perto de fazer isso em escala molecular, reposicionando átomos. Quando dominarmos o universo do nanômetro (1 bilionésimo de metro), poderemos, em tese, transformar carvão em diamante. Seremos capazes de construir nanorrobôs, máquinas muito menores que bactérias. Esses robôs trabalharão sozinhos e em rede, rearranjando moléculas, construindo e reconstruindo tudo o que existe. Haverá nanocoisinhas para purificar o ar, para garantir a temperatura e o grau de umidade das plantas na lavoura, câmeras e microfones muito menores que um grão de areia, tudo na mais completa e temerária invisibilidade. Robôs ingeríveis, capazes de se multiplicar, vão identificar vírus e liquidá-los antes que a doença se manifeste.
“Teremos de desenvolver a manufatura molecular entre 2010 e 2020 se quisermos manter a revolução do hardware”, afirma Ralph Merkle, sócio da Zyvex, o único laboratório do mundo especializado em nanotecnologia. Quem discordar, que atire a primeira pedra.
Computador invisível
A bela Kio, 19 anos, estudante do MIT, é uma das bem-aventuradas criaturas que andam por aí com um computador “vestível” – um equipamento leve e discreto a ponto de ninguém percebê-lo. Ele não tem cabo nem mouse e possui a louvável capacidade de entender as necessidades e os movimentos do usuário. Um anel em forma de margarida é a interface. Manipulando as pétalas, ou movendo o dedo, Kio controla volume, canais e outras funções de sua máquina ambulante. Uma caneta lhe permite “escrever” em qualquer superfície, inclusive no ar. Depois, ela pode acessar suas anotações digitalizadas. Na lente direita dos óculos funciona a tela do computador, translúcida para que a moça possa ler as mensagens de e-mail ou acessar informações complementares durante uma aula sem perder contato com o mundo aqui fora.
Em breve, quando instalar uma minicâmera, Kio vai papear com amigas em qualquer lugar do mundo, olhando para elas enquanto envia, real time, cenas do que acontece à frente de seu próprio nariz. Tudo embalado em emocionantes trilhas sonoras. Parece ficção, né? Mas o computador de Kio já está na fase de testes beta, apenas um degrau antes de entrar em produção industrial. Em 2015, coisas assim serão banais. Quanto a Kio, esqueça. Ela já tem namorado.
Teleimersão
Você assistiu a Matrix? Pois é mais ou menos aquilo que um cientista de cabelo rastafári chamado Jaron Lanier quer fazer – colocar pessoas num ambiente virtual realista. A organização que ele dirige, a National Tele-Immersion Initiative, tornou-se quartel-general das tecnologias ligadas à realidade virtual. “Em dez anos, a teleimersão estará totalmente disseminada em nosso dia-a-dia”, afirma Lanier, criador da expressão “realidade virtual”. Para fazer uma teleimersão, é preciso que tudo no ambiente seja filmado ao mesmo tempo, com várias câmeras cobrindo ângulos diferentes. Tudo isso resulta em duas imagens, uma para cada olho do “teleimerso”. Cada movimento e cada interação precisam ser registrados, interpretados, misturados e atualizados simultânea e constantemente para cada participante e sob o ponto de vista onde eles se encontram, caso contrário a coisa não funciona. Por isso, a teleimersão é dependente da hiperveloz Internet2. Para chegar ao mundo Matrix falta bastante.
Mas, antes que o terceiro filme da série chegue aos cinemas, viagens de trabalho serão substituídas por reuniões teleimersivas. As cirurgias a distância também ganharão impulso. E os cidadãos comuns marcarão encontros virtuais às margens do Rio Sena ou junto à Estátua da Liberdade sem jet-lag nem tantos turistas em volta.
Carro esperto
“Vendo carro ano 2012, modelo 2013, faróis que dosam a intensidade da luz, sistema de comando de voz para todas as funções (inclusive as do DVD), bancos que se movimentam para proteger o motorista em caso de colisão, sensores que focam o olho do condutor para ajustar ergonomicamente os assentos, a altura do volante e a posição do painel. Motor híbrido – elétrico e hidrogênio líquido. Motivo: viagem virtual.” Esse anúncio dá uma idéia do que esperar dos automóveis num futuro bem próximo. E olha que o vendedor até que foi tímido. Nem falou do acelerador e do freio no volante, dos sensores que se comunicam com outros instalados nas estradas fazendo com que o carro se movimente sozinho conforme o fluxo do trânsito, dos cartões magnéticos e senhas no lugar das chaves e das microcâmeras na lataria e nos pára-choques – aquela mãozinha nas balizas e nas situações de risco. Agora você já sabe o que vai ter que levar em conta se tiver planos de comprar um carro usado em 2015.
Reconhecimento de voz
O sonho de conversar com os computadores e toda sorte de aparelhos que contêm chips está prestes a se realizar. Já temos máquinas que obedecem a comandos de voz, programas que redigem o que falamos, e podemos vislumbrar o sucesso de experiências como as do grupo de Processo de Linguagem Natural da Microsoft, que tenta fazer com que nossos amigos eletrônicos “entendam” não apenas o que dizemos, mas também o que queremos dizer. Fazer o computador responder a um comando exato, do tipo “abra a porta”, é uma coisa. Outra, bem diferente, é torná-lo capaz de associações espertas e fazê-lo abrir a porta quando dizemos “abre aí, sou eu” ou “abre, p…, estou com pressa!”, entre outras frases que muito mais comumente usamos no dia-a-dia. Outra grande sacada é equipar esses sistemas com tradutores automáticos, para que eles nos obedeçam em inglês, espanhol ou mandarim.
Haverá telefones que farão chamadas internacionais com tradução simultânea. “Não posso imaginar outra tecnologia tão interessante e de tanto potencial para o futuro quanto essa de podermos interagir totalmente com nossos computadores”, diz Karen Jensen, líder das pesquisas na Microsoft. É que ela ainda não leu esta reportagem.
Roupas autolimpantes
Se depender do pesquisador Alex Fowler e de sua equipe na Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, logo poderemos aposentar nossas máquinas de lavar – ótima notícia no caso de o apagão durar até lá. Enquanto a indústria têxtil gasta milhões para livrar as fibras de bactérias, Fowler trabalha para rechear os tecidos com bichinhos que comem suor. “Teremos de alimentar nossas roupas, em vez de lavá-las”, diz o cientista. As experiências têm contado com o auxílio luxuoso da Escherichia coli, até agora um patinho feio do mundo das bactérias. Quando trabalhada geneticamente, a E. coli, como é carinhosamente chamada, pode incluir o suor em suas refeições e depois expelir feromônios de cheiro agradável como excreção. Colônias delas numa camisa, por exemplo, farão uma verdadeira festa quando sairmos por aí sob um sol de 40 graus. Falta agora alguém descobrir como ensinar a uma bactéria passar roupa.