A estranha nuvem do contra
Astrônomos procuram a fonte de um inesperado jato de antimatéria no coração da Via Láctea.
Thereza Venturoli
Não precisa ser gênio para entender a antimatéria: ela é uma espécie de inverso da matéria comum. Ambas são feitas de partículas subatômicas, como prótons e elétrons. Só que as antipartículas têm propriedades invertidas. Assim, enquanto o elétron tem carga elétrica negativa, o seu oposto, chamado pósitron, tem carga positiva. Do mesmo modo, o próton é positivo e o antipróton, negativo. O mais sensacional é que se uma partícula encosta em sua “anti” a dupla se aniquila totalmente. Sobra apenas luz de alta energia, na forma de raios gama. Agora os astrônomos viram, com ajuda do Observatório Compton, um poderoso facho de raios gama, que é uma luz muito energética. Isso sugere que existe uma nuvem de pósitrons pairando sobre o coração da Via Láctea. Eles devem estar sendo desintegrados por seus opostos, os elétrons (veja o infográfico abaixo). Partículas de antimatéria são raras no Universo, já que, logo que elas se formam, encontram matéria comum e desaparecem por desintegração. A nuvem detectada por uma equipe sob a liderança de William Purcell, da Universidade Northwestern, em Illinois, constitui um dos maiores depósitos de matéria invertida já vistos. Purcell diz que ainda desconhece o que a está produzindo. O mais provável é que a nuvem esteja sendo lançada por um enorme buraco negro que suga tudo ao seu redor, batizado de Grande Aniquilador.
Retrato da antimatéria
Assim o Compton “viu” o jato de antipartículas no centro da Galáxia.
Uma gigantesca mancha luminosa cobre o centro da Galáxia. Trata-se de uma forma de luz altamente energética, chamada raios gama. Pode ser criada por desintegração de antimatéria.
A surpresa foi achar este jato de antimatéria, que chega a 3 000 anos-luz acima do núcleo galáctico.
Os braços horizontais constituem o disco da Galáxia, onde se reúne a maior parte das estrelas.
O jato de antimatéria sai de uma região pertinho do núcleo da Via Láctea. Pode ser um enorme buraco negro