A origem da luz cinzenta na Lua crescente
Explicação sobre a luz cinzenta, que pode ser observada no início da Lua crescente.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
No início da Lua crescente, pode-se observar, além da região diretamente iluminada pelo sol – um fino e delicado crescente -, todo o hemisfério lunar com um brilho muito difuso e tênue: é a luz cinzenta, assim chamada porque sua coloração lembra a tonalidade incandescente das cinzas. Esta luz permite ver todo o hemisfério lunar, mesmo quando só uma porção muito reduzida é iluminada pelo Sol. Os povos antigos ficavam perplexos com essa luz. Alguns acreditavam que a Lua fosse ligeiramente fosforescente.
Em conseqüência, essa luz própria possibilitava observar a totalidade do astro, numa época em que, segundo a teoria das fases lunares, só se visualizava uma região muito pequena da superfície lunar. Tal suposição não estava de acordo com o que ocorria durante os eclipses totais da Lua, pois o satélite jamais desaparecia completamente nessas ocasiões. Astrônomos como o grego Possidônio (135-51 a.C.) sugeriam que a matéria da Lua era diáfana, de tal modo que os raios solares ao penetrarem além da superfície diretamente iluminada se dispersavam, como os raios luminosos quando penetram no interior das nuvens.
Essa explicação foi defendida pelo matemático polonês Vitellus no século XIII e pelo astrônomo alemão Erasmus Reinhold (1511-1553), trêsséculos mais tarde. Já o célebre astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601 ) dizia que o clarão tinha origem na luz de Vênus, que após iluminar a face oculta do nosso satélite se refletia em direção à Terra. Outros chegaram a atribuir o clarão à própria luz das estrelas. O problema só foi definitivamente resolvido em 1604. quando Johannes Kepler (1571-1630) divulgou a explicação de seu mestre de matemática, o alemão Michael Mostlin (1550-1631).
Para ele, a verdadeira causa do fenômeno estava na luz solar que, após iluminar a Terra se refletia em direção à Lua, da qual retomava à Terra após uma segunda reflexão com o aspecto de uma luz incandescente. Na Itália, atribui-se essa hipótese a Leonardo da Vinci (1452-1519), que a teria elaborado em seus manuscritos. O grande mérito, no entanto, ficou mesmo com Mostlin, que apresentou suas observações antes que os cadernos e anotações davincianas fossem publicadas.
Na verdade, a luminosidade que aparece no lado não-iluminado do disco lunar, quando a Lua é visível sob a forma de um fino crescente. provém da luz que a Terra reflete sobre o disco lunar. As “fases” da Terra vistas da superfície lunar são complementares às fases da Lua. Assim, quando os habitantes da Terra vêem a Lua nova, os astronautas na Lua vêem a Terra cheia. À medida que a Lua cresce, esse brilho diminui. Em conseqüência, a intensidade da luz cinzenta depende não só da porção da Terra visível da Lua mas também do estado menos ou mais nebuloso da sua atmosfera.
Esta reflexão da luz solar pelo globo terrestre é bastante intensa se considerarmos que a extensão superficial da Terra é cerca de treze vezes superior à da superfície lunar. Ao aceitarmos a explicação de que a luz secundária é que permite ver a porção da Lua não iluminada, constatamos que esse clarão vai diminuir de intensidade à medida que a Lua crescente no poente, após o pôr-da-sol, caminha para o plenilúnio. E irá aumentar no intervalo que vai do dia da Lua cheia até a minguante, quando no nascente ela desaparece de madrugada sob os efeitos dos raios do Sol.
As medidas da luz cinzenta permitem determinar a intensidade da luz terrestre como se a tivéssemos medido a partir da Lua. Sabendo qual é a fração da luz solar refletida pela superfície lunar, é fácil, com base na intensidade da luz cinzenta. deduzir a intensidade da luz terrestre. Por isso, sabia-se antes da chegada do homem à Lua que a Terra reenviava para o espaço cerca de 40% da luz incidente, numa coloração azulada. Isso foi confirmado mais tarde pelos satélites artificiais em órbita muito elevada. Os observadores da luz cinzenta estão habituados a notar que o crescente lunar parece sempre maior que a parte escura da Lua. Trata-se de uma ilusão de ótica, provoca da pela irradiação que faz com que região brilhante pareça maior que a escura.
O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é membro da Comissão de Estrelas Múltiplas e Duplas, de História da Astronomia e Asteróides e Cometas da União Astronômica Internacional
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Constelações
No horizonte norte, próximo ao meridiano, está a constelação de Hércules, que tem no aglomerado globular Messier 13 seu objeto mais notável. Facilmente visível a olho nu, o aglomerado é constituído por mais de 500.000 estrelas, só comparável ao Omega do Centauro. Este, infelizmente, está muito ao norte para ser visto sem restrições em nossas latitudes. Mais ao norte, abaixo de Hércules está Lira. Sua grande estrela, Vega, distante 26 anos-luz, de coloração branca e magnitude zero, mais parece um diamante. Próximo ao zênite, a oeste, está Escorpião, que tem esse nome pela sua forma curvada semelhante ao corpo e à cauda do animal. Ao norte vemos as garras, formadas pelas estrelas Beta, Delta e Pi do Escorpião, todas de terceira magnitude. O corpo, de fácil reconhecimento, é formado pela supergigante e avermelhada Antares, de primeira magnitude, acompanhada de estrelas de terceira magnitude. Mais ao sul, a cauda curvada se compõe de oito estrelas de segunda magnitude (Epsilon, Teta e Lambda) e cinco de terceira magnitude (Mu, Eta, lota, Kapa, Upsilon). Escorpião atravessa a Via Láctea, muito larga nessa região, o que torna difícil sua localização. Mas com um bom binóculo pode-se observar uma quantidade apreciável de espetáculos celestes. De fato, Escorpião é rica em aglomerados. Dois deles, Messier 6 e 7, são visíveis a olho nu, na cauda do Escorpião. O primeiro, no alinhamento das estrelas Eta e Lambda, aparece como uma nuvem clara. Com a ajuda de um binóculo, assemelha-se a uma borboleta. O Messier 7 está mais ao sul e a olho nu parece uma grande nuvem esbranquiçada. Com um telescópio, distingue-se mais de uma centena de estrelas.
Meteoros
No dia 25, ocorre a máxima atividade dos Capricornídeos, rápidos e amarelos com radiante na constelação de Capricórnio e frequência de 6 a 16 por hora. Esse enxame está próximo do zênite, às 3 horas. No dia 29, aparecem os meteoros do enxame Delta Aquarídeos, com radiante na constelação de Aquário. Em geral, azuis e amarelos, eles deixam rastros. Sua freqüência é de 23 por hora. Essa chuva está próxima ao zênite às 4 horas.
Fases da Lua
Lua cheia, dia 7, às 22h23min; Quarto-minguante, dia 15, às Sh04min; Lua nova, dia 21, às 23h54min; Quarto crescente, dia 29, às 11h01min. A luz cinzenta pode ser observada entre os dias 21 e 23.
Planetas
Mercúrio: melhor observá-lo no fim do mês, após o pôr-do-sol, do lado oeste (magnitude: +0,1).
Vênus: será o objeto mais brilhante do céu matutino, após as 4h30min, antes do nascer do Sol do lado leste (magnitude:-3,7).
Marte: visível na constelação de Carneiro, que surge do lado leste depois da constelação de Peixes, a partir do dia 10. à 0h45min, do lado leste (magnitude: 0.3).
Saturno: visível na constelação de Sagitário durante toda a noite (magnitude: +0,3). Sua oposição ocorre no dia 14.
Urano: visível ao longo da noite na constelação de Sagitário (magnitude:+5,9).
Netuno: visível na constelação de Sagitário durante toda a noite (magnitude: +7,7). Sua oposição ocorre no dia 5.
Para os iniciantes, o ponto de referência para localizar os planetas é a Lua. No dia 8, Saturno estará ao norte: dia 16, Marte estará ao sul e no dia 20, Vênus estará ao sul.
MAGNITUDES
– acima de 0,5
– de 0,5 a 1,5
– de 1,5 a 2,5
– de 2,5 a 3,5
– de 3,5 a 4,5
Aspecto do céu
1 de julho às 1 h30min
15 de julho às 0h30min
30 de julho às 23h30min