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A sustentabilidade da energia renovável

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h39 - Publicado em 29 fev 1996, 22h00

Mariana Barbosa, de Londres

Ela é renovável, não intoxica o planeta e não engorda lixo. Apenas alimenta na medida certa. Tem pouca contra-indicação. Para demonstrar as vantagens das energias light, alternativas e sustentáveis, ambientalistas ingleses criaram um parque na cidade de Machynleth, no País de Gales, o Centro de Tecnologia Alternativa. É o maior sucesso. Todo ano ele recebe 100 000 visitantes. Lá, tudo é aproveitado e reaproveitado. Você aprende a usar bem os recursos, a reciclar o que for possível e, sobretudo, a conhecer a energia que consome.

Todo ano, cresce a demanda mundial de energia com o aumento das populações e do consumo. É cada vez mais necessário buscar fontes alternativas que não degradem os recursos do planeta nem comprometam a sobrevivência das espécies. Ainda há muito o que se descobrir sobre o uso eficiente das energias renováveis, mas elas estão mais próximas do que parece da adoção em larga escala. As pesquisas do Centro de Tecnologia Alternativa (CAT) mostram que já há soluções práticas, baratas e disponíveis, para pequenos e grandes consumidores.

O maior obstáculo é que, além do custo comparativamente mais baixo dos combustíveis poluentes como carvão e petróleo, as fontes não-poluentes não são totalmente controláveis: se o inverno for prolongado, se houver pouco sol, pouco vento, ou se a seca diminuir o volume dos rios, o fornecimento de energia pode ser comprometido. Sinal disso é que, mesmo com toda chuva e vento da ilha britanica, o CAT conta com um gerador a diesel para garantir a eletricidade numa emergência.

Como viver com pouco desperdício

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Há 22 anos, a área onde o Centro está instalado era inútil. Hoje, esbanja espécimes vegetais e animais. As técnicas de adubagem orgânica possibilitaram a reconstituição do solo. Além de mais denso, ele agora é capaz de sustentar a produção de plantas e frutos de qualquer porte–o que também economiza energia. E muita.

Faz parte da filosofia do CAT aproveitar os recursos regionais. Por isso, os alimentos da estacão são privilegiados. O Centro produz a maior parte da alimentação consumida por 30 residentes, 36 estudantes temporários e l 500 visitantes diários, no verão. Os alimentos são armazenados em um depósito escavado na terra. As paredes grossas e o telhado, coberto de grama, mantêm a temperatura constante. No inverno, a temperatura interna é sempre mais alta e, no verão, acontece o inverso. O CAT também ensina a criar hortas produtivas em quintais e a transformar lixo doméstico orgânico em adubo.

Todas as construções aproveitam madeira local e têm isolamento interno, feito com jomal velho, em paredes, janelas, pisos e grama no telhado, para evitar perda de calor. Utilizam um quinto da energia usada para aquecimento de uma casa normal na Inglaterra, país onde 60% da energia doméstica é usada para esquentar o ambiente. O custo da construção é 10% mais caro, mas é compensado, em pouco tempo, pela redução das contas de eletricidade.

Todo esgoto é tratado naturalmente, permitindo utilizar a água outra vez. Após a separação dos sólidos (que em 18 meses viram adubo), os dejetos passam por um sistema de tanques com areia, cascalho e plantas de junco de diversas espécies. A rede de tratamento ocupa 600 metros quadrados. O junco absorve os nutrientes por meio da respiração e as bactérias de suas raízes oxigenam a água. Depois de limpa, ela é devolvida ao rio potável, bastando apenas ser fervida.

O jogo do consumo consciente

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A maior e a mais requisitada atração do CAT são as ecocabines. Em dois chalés, com capacidade para dezoito hóspedes cada, pode-se experimentar como é viver sustentavelmente por uma semana. Cada casa tem baterias carregadas com 2 500 watts, alimentadas todo dia com mais 800 watts. O restaurante vegetariano do Centro é muito bom, mas a maioria dos hóspedes prefere participar integralmente de uma espécie de jogo: durante uma semana, devem controlar a energia das cabines, administrá-la até o final, cuidar da horta, fazer sua própria comida e devolver os chalés com as baterias carregadas.

As casas são auto-suficientes em energia, captada por painéis fotoelétricos, turbinas de vento e microturbinas hidráulicas. O aquecimento e ofogão são à lenha e a água é esquentada pela energia solar. O esgoto usa sistema de depuração à base de junco.

Até o banheiro é orgânico. Parece um banheiro comum, mas não é: o vaso não está conectado à rede pública de esgoto, tem 7 metros de profundidade e não tem descarga. Tudo o que é depositado vai direto para a terra, servir de adubo. Uma pá de serragem elimina cheiros.

Telefone solar

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Ligar para casa também exige energia renovável. Em cima da cabine do telefone público, um catavento e um painel de células fotoelétricas captam a luz solar e fornecem a eletricidade necessária para a ligação.

Em uma semana de estadia, aprende-se, rapidinho, que muito tempo no banho quente significa água fria para o próximo. Que esquecer a luz acesa compromete o aquecimento dos quartos. E que se a água for usada com desperdício, a caixa secará e será preciso ir apanhar com balde, na fonte–o que pode não ser boa idéia, à noite, na gélida Inglaterra.

Em poucos dias, os consumos distraídos adquirem uma dimensão nova. Descobre-se, com espanto, que, uma máquina de lavar roupa ligada durante uma hora gasta 2 500 watts e que uma máquina de lavar louça gasta 3 000 watts. Aquela torradeira elétrica, imprescindível no café da manhã, ligada durante uma hora, gasta 2 000 watts. Chaleira elétrica, então, é o fim: 2 500 watts por hora. Afinal, dá para esquentar água e pão no fogão à lenha, não é mesmo?

Tecnologias econômicas

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Tudo bem com o computador. Uma hora de uso gasta apenas 100 watts. Uma hora de TV a cores, idem. CD Player dá para abusar: em uma hora, vão-se apenas 30 watts. Mas é bom aprender a passar a roupa com mais eficiência: com o ferro elétrico vão-se 1 250 watts por hora.

Parece um joguinho um pouco duro, mas é um sucesso: as ecocabines estão com reservas lotadas até o ano 2000. A maioria dos hóspedes chega ao fim da estadia com um sorriso de triunfo. Mas muitos gastam até último watt e têm que pedir socorro.

O resultado fica na consciência: depois de descobrir que a energia e os recursos naturais, como a água, o ar e o solo, são bens preciosos, aprende-se que o desperdício pode ser facilmente corrigido. Basta usar materiais melhores e tecnologias que estimulem a economia em vez de estimular o consumo o que exige a pressão de consumidores esclarecidos. Mas, acima de tudo, é necessário mudar de mentalidade. A energia não é um recurso inesgotável para ser consumida em quantidades babilônicas. Provoca indigestão no planeta.

Conheça o parque das fontes renováveis

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As fontes energéticas do Centro de Tecnologia Alternativa, de Machynleth, no País de Gales, viraram atração turística na Grã-Bretanha.

A Terra

A horta é nutrida com adubo local, sem agrotóxico. As plantas ficam em uma estufa de plástico em forma de túnel, também usada para festas e reuniões.

Bonde Hidráulico

Leva os visitantes até o Centro, 30 metros acima do estacionamento. Enquanto um vagão sobe, o outro desce. Um computador calcula o peso e adiciona água em um tanque, na parte de baixo do que estiver no topo, tornando-o mais pesado e puxando uma roldana.

O sol

A luz do sol é captada por painéis fotoelétricos. No verão, dá conta do aquecimento d’água e, no inverno, é usada para pré-aquecimento. Com painéis e tetos solares é possível economizar 50% do custo de aquecimento d’água.

Reciclagem

Todo lixo orgânico é acumulado para decomposição. O inorgânico é enviado a centros de reciclagem. Porcos e galinhas ciscam os restos dos alimentos. Comida, papel, galhos e folhas viram adubo. Minhocas ajudam a decomposição.

As ondas

O Centro está longe da costa, mas não esqueceu a energia das ondas do mar. Para demonstrar seu potencial, instalou um tanque onde os vistantes mexem uma alavanca e produzem ondas. O movimento do ar, dentro do tanque, aciona uma turbina e acende uma lâmpada.O primeiro gerador comercial de energia de ondas será inaugurado na Escócia, em junho

O vento

Gera 25% da energia do Centro, com quatro cataventos. Os da foto produzem 250 e 1000 watts e abastecem computadores e sistemas de controle que requerem precisão. Mas o rendimento depende das condições do tempo.

A água

Produz 50% da energia do CAT, com duas turbinas. A primeira é acionada pela água da chuva armazenada em um reservatório situado a 30 metros de altura, com 6 milhões de litros, que desaguam em um lago, 45 metros abaixo, movendo a segunda turbina.

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