Canibalismo entre irmãs
Os astrônomos desconfiam que a Via Láctea é tão imensa porque engole outras galáxias menores ao redor dela.
Thereza Venturoli
Caminho de Leite – esse é o significado do nome da nossa Galáxia, que abriga o Sistema Solar, com o Sol e seus planetas. Mas não se deixe enganar pela poesia que o termo sugere. Por trás de toda essa suavidade, a nossa ilha celeste é uma canibal cósmica que está devorando a vizinha Grande Nuvem de Magalhães. Tudo é uma questão de superioridade. A começar pelo tamanho. A Via Láctea estende seus braços de gás e poeira por um comprimento de 100 000 anos-luz e reúne mais de 200 bilhões de estrelas. Elas giram no espaço vazio feito um pião alucinado, a quase 2 milhões de quilômetros por hora. É rápido demais – um quinto da velocidade da luz. Já a Grande Nuvem, apesar do adjetivo, é muito menor: seus braços não passam de míseros 18 000 anos-luz de comprimento e contêm apenas um quinto dos astros da Via Láctea. Esta última, com isso, tem força gravitacional suficiente para arrancar parte dos gases que envolvem as estrelas da irmã menor. O puxão da gravidade chega até a Nuvem porque ela fica bem perto, em termos astronômicos – cerca de 180 000 anos-luz. Os astrônomos modernos acham que foi assim, engolindo vizinhas, que a nossa Galáxia cresceu tanto. Coisa de que os gregos antigos nem podiam desconfiar. Se pudessem, provavelmente jamais teriam associado a Via Láctea à doce imagem de gotas de leite caídas enquanto Juno, a deusa da luz, amamentava o herói Hércules.
A vizinha do lado
A Grande Nuvem de Magalhães está a apenas 180 000 anos-luz da Terra.
A Grande Nuvem de Magalhães foi descoberta pelo navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521) em suas voltas pelo mundo. Ela é visível a olho nu e passa a noite toda no céu, durante o verão, sobre o horizonte sul (veja o quadro acima)