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ChatGPT e Gemini têm “idioletos” diferentes, descobrem linguistas

Coloquial e explicativo ou formal e acadêmico: assim como humanos, cada IA tem um perfil próprio de escrita – e isso pode ter surgido de forma independente.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 12 jul 2025, 23h31 - Publicado em 11 jul 2025, 19h00

Se você já usou o ChatGPT e depois tentou o Gemini, da Google, pode ter sentido algo estranho: embora respondam às mesmas perguntas com fluidez, os dois chatbots parecem “falar” de jeitos diferentes. Agora, uma análise linguística revela que essas inteligências artificiais realmente escrevem em “dialetos” distintos: elas têm estilos próprios de linguagem, ou, em termos técnicos, idioletos únicos.

“Linguistas sabem que cada pessoa tem uma maneira distinta de se expressar, dependendo da língua nativa, idade, gênero, educação e outros fatores. Chamamos esse estilo individual de falar de ‘idioleto'”, explica a linguista Karolina Rudnicka, da Universidade de Gdańsk, na Polônia, responsável pela descoberta e autora de um artigo recentemente publicado na Scientific American que explica essa conclusão.

Isso significa que, usando metodologias confiáveis, dá para identificar padrões em textos de uma pessoa que diferem seus discursos das demais, como usos de palavras específicas, modelos de construção de frase, repetições etc.

Inspirada por técnicas da linguística forense — área usada em investigações para atribuir autoria a mensagens, analisar documentos e até em entrevistas policiais —, ela decidiu investigar se grandes modelos de linguagem, como ChatGPT, Gemini e Copilot, apresentam padrões consistentes de escrita. Em outras palavras, se escrevem como “indivíduos únicos”.

O resultado? ChatGPT e Gemini não só usam palavras diferentes para descrever os mesmos temas como também preferem estruturas distintas. E isso se mantém mesmo em textos sobre um mesmo assunto, com tamanho semelhante e função informativa. “A autoria se revelou bem clara”, afirma a pesquisadora.

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O estudo se concentrou em textos sobre diabetes gerados por ChatGPT e Gemini, disponíveis em um repositório online de dados científicos. Os textos foram analisados com base em frequência de palavras e combinações de três termos (chamadas trigramas), com uma metodologia conhecida como Delta, usada desde 2001 para identificar autores de textos com base em seu estilo.

Os achados mostram que o ChatGPT tende a adotar uma linguagem mais clínica, formal e acadêmica, com frases como “indivíduos com diabetes”, “níveis de glicose no sangue” e “caracterizado por elevação”. Já o Gemini é mais coloquial e explicativo, usando expressões como “níveis altos de açúcar no sangue” e evitando termos mais técnicos, como “glicose”. Na comparação direta, o ChatGPT usa “glicose” mais do que o dobro de vezes em relação a “açúcar”, enquanto o Gemini faz o oposto.

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“O fenômeno pode estar associado ao princípio do menor esforço — a tendência de escolher a maneira menos exigente de realizar uma determinada tarefa” explica Rudnicka. “Uma vez que uma palavra ou frase se torna parte de seu repertório linguístico durante o treinamento, os modelos podem continuar a usá-la e combiná-la com expressões semelhantes, assim como as pessoas têm palavras ou frases favoritas que usam com frequência acima da média em sua fala ou escrita.”

A existência de idioletos em IAs generativas signifique que, por um lado, saber que cada IA desenvolve padrões próprios pode ajudar a identificar se um texto foi escrito por humanos ou por uma máquina — e até por qual IA, especificamente. Por outro, o fenômeno sugere que esses modelos estão indo além de simplesmente repetir padrões do banco de dados em que foram treinados e estão criando formas próprias de expressão.

Isso reforça uma discussão crescente no campo da inteligência artificial: o surgimento de “habilidades emergentes”. Esse termo explica as competências que os modelos não foram treinados diretamente para ter, mas que desenvolvem sozinhos. Ter um idioleto, como um humano, talvez seja um passo a mais nessa direção.

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