Chegou a família do futuro
Cientista cria versão robótica de si mesmo e ainda descola mulher e filha para o sósia
Tiago Cordeiro
A ficção científica já sonhou muito com isso. Philip K. Dick , autor das histórias que inspiraram os filmes Blade Runner e Minority Report, especula sobre o momento em que ninguém mais souber diferenciar um humano de um andróide. O mesmo fez Isaac Asimov com Eu, Robô – que também foi parar nos cinemas. Pois é melhor procurar esses livros e filmes para se preparar para o futuro, porque a realidade alcançou a ficção. Há 3 anos, o engenheiro japonês Hiroshi Ishiguro, chefe do Laboratório de Robótica Inteligente da Universidade Osaka, criou o andróide Geminoid HI-1, que é uma cópia idêntica de si mesmo. Depois, apresentou ao mundo Repliee R1, que tem a forma de uma garota de 5 anos. Em 2005, ele completou a família com Repliee Q1Expo, um robô em forma de mulher, que depois ganhou uma versão melhorada, a Repliee 02.
Os andróides de Ishiguro são as mais perfeitas réplicas já feitas. Eles têm uma cobertura de silicone que imita a pele humana e 42 pontos de articulação, que fornecem uma vasta gama de movimentos. Vasta mesmo: o Geminoid HI-1 move os olhos e as mãos como um humano, movimenta o tórax como se estivesse respirando e fala algumas frases pré-gravadas pelo próprio Ishiguro. Graças a sensores táteis e a câmeras multidirecionais, eles reagem ao toque humano e a gestos feitos a distância – se você ameaçar bater na Repliee 02, ela levanta os braços para se proteger. A cabeça se mexe em 9 direções diferentes, e em todos os casos o resto do corpo acompanha o movimento. Esse mesmo sistema garante que a interação entre homem e máquina seja muito mais natural do que em outros robôs. Tão natural que a maioria das pessoas demora alguns segundos para perceber que aquela máquina não é humana – e, em alguns casos bem específicos, como dentro de um carro, a semelhança pode enganar até por alguns minutos. Estudos conduzidos por Ishiguro demonstram que as crianças tratam a Repliee R1 como uma igual.
O engenheiro de Osaka não é o único que quer entender melhor a interação entre homens e máquinas. Dezenas de pesquisadores, especialmente no Japão, tentam descobrir a importância da aparência externa e do comportamento, determinado pela naturalidade dos movimentos. A partir das conclusões dessa observação, Ishiguro e seus colegas querem criar robôs cada vez mais parecidos conosco. Eles acreditam que os andróides têm muito a nos ensinar sobre o nosso próprio comportamento.