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Deslocamento paraláctico e o cálculo das distâncias

Artigo de Luiz Barco, explicando os recursos de que os cientistas se valem para explicar a distância entre os astros.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 31 jan 1991, 22h00

Luiz Barco

Se o Sol fosse uma grande abóbora, a Terra seria uma ervilha e a Lua, uma semente de papoula. “Essa comparação usada pelo astrofísico russo Georg Gamow (1904-1968) em seu livro Um, dois, três…infinito é um dos recursos de que os cientistas se valem para explicar a distância entre os astros. Mas como se medem efetivamente tais distâncias? Eratósteneas, por exemplo, cientista que viveu na colônia grega de Alexandria, no Egito, no século III a.C., conseguiu, com as poucas informações disponíveis na época, medir a circunferência da Terra.

Com duas estacas e a sombra que uma delas projetava, ele fez cálculos quase perfeitos (SUPERINTERESSANTE número 10, ano 2). Isso mostra como, muitas vezes, um fato aparentemente sem importância pode ser usado de modo criativo. Por exemplo: coloque o dedo indicador a uma certa distância do nariz e observe-o atentamente. A seguir, aproxime-o lentamente do rosto. Nessa operação, você teve, certamente, uma sensação muscular ao tentar manter os olhos fixos no dedo. Para muitos isso não significa nada, mas para os cientistas sim. Ponha novamente o dedo indicador a uma certa distância dos olhos e observe-o contra uma parede ou mesmo uma janela no fundo da sala e dessa vez não use os olhos simultaneamente: primeiro feche o olho direito e depois o esquerdo.
Você não mexeu o dedo, mas teve a sensação visual de que ele se movimentou. Esse efeito é conhecido como deslocamento paraláctico: ao olharmos para um objeto com os dois olhos, focalizamos ambos nele automaticamente e quanto mais perto ele estiver de nós mais viramos os olhos um em direção ao outro. A sensação muscular que esse ajuste provoca é que nos dá uma boa idéia da distância. Se você não está convencido, tente enfiar linha numa agulha. Primeiro, usando os dois olhos e, depois tapando um deles. Com um olho só, você, certamente, vai passar a linha bem longe do buraco da agulha.

Quanto mais distante estiver o objeto, tanto menor será seu deslocamento paraláctico. É por esse motivo que ele tem sido usado para calcular distâncias. Esse deslocamento é medido no aparelhos com precisão muito superior àquela que a simples sensação muscular dos olhos nos dá. Como eles estão localizados na cabeça e a uma distância pequena um do outro, essa sensação funciona bem na avaliação de distâncias de poucos metros. Quando as distâncias são maiores, os eixos de ambos os olhos se tornam praticamente paralelos e o deslocamento paraláctico é muito reduzido. Seria, pois, necessário, que tivéssemos os olhos mais separados para usarmos adequadamente esse efeito. Veja como a questão foi resolvida:

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Aparelhos como esse não confiam somente na sensação muscular do globo ocular. Possuem dispositivos especiais para medir com grande precisão o deslocamento paraláctico. No entanto, se revalaram quase inúteis para medir distâncias astronomicas, mesmo que fosse a da vizinha Lua. Registrar seu deslocamento paraláctico em relação ao pano de fundo das estrelas distantes exige uma base ótica bem maior. Se fosse calculada em quilômetros, seria algo como a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro. Como não há apaelho que coloque um olho na Avenida Paulista e outro em Copacabana, o recurso que se usou foi fotografar a Lua simultaneamente em cidades diferentes. Ao colocar as fotos num estereoscópio comum (aparelho para estimar distâncias em fotografias), os astrônomos verificaram que o deslocamento paraláctico do astro – tal como se observa de dois pontos diferentes da Terra – leva-nos a estimar que a distância entre a Lua e a Terra é da ordem de 30,14 diâmetros, ou seja, 384 403 quilômetros.

Eles conseguiram medir também a distância da Terra ao Sol e, como ele está bem mais longe (385 vezes a distância da Lua), deu muito mais trabalho. Talves você queira saber qual a base ótica para medidas bem maiores. Se usamos as dimensões do planeta até para medir a sua órbita em torno do Sol, nada nos impede de utilizar a mesma órbita para calcular, usando o recurso das fotos, a distância até outra estrela. Ou seja: duas posições da Terra em sua órbita dão a base ótica para medidas maiores, como, por exemplo, até as estrelas mais distantes.

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