Enfim um Dostoiévski brazuca
O leitor acabará a última página querendo conhecer mais o universo torturado do autor russo.
Renato Domith Godinho
Se você ainda não leu Dostoiévski, esta pode ser uma boa oportunidade. Se leu, vale a pena relê-lo. É a primeira vez que sua obra-prima, Crime e Castigo, sai no Brasil em tradução direta do russo. Isso porque, pela falta de tradutores à altura da tarefa, todas as edições anteriores desse clássico eram pálidas versões do francês e do inglês. Hoje, graças ao trabalho de Paulo Bezerra, Crime e Castigo (Editora 34) vem traduzido com engenho, rigor e arte diretamente do russo e, paradoxalmente, está mais “brasileiro” que nunca. As outras traduções mantinham vícios dos tradutores franceses e ingleses, que não respeitavam o estilo entrecortado do autor, principalmente nas falas dos personagens, criando um texto excessivamente “literário”.
Ao transpor a fala russa para o português, Bezerra criou diálogos numa linguagem que soa perfeitamente familiar e moderna para nós brasileiros, deixando o caminho livre para que apreciemos este emocionante thriller que, ao mesmo tempo, é um profundo mergulho na alma humana. Deus, a moral e a ciência são discutidos sobre o pano de fundo de um trágico assassinato. O leitor acabará a última página querendo conhecer mais o universo torturado do autor russo.
É aí que entra a reedição de Os Irmãos Karamázov (Ediouro), tradução (do francês) de Natália Nunes e Oscar Mendes. No auge de sua arte, o mestre russo voltou às questões de Crime e Castigo e criou este romance ainda mais abrangente e universal, se é que isso é possível. Escritas no final do século XIX, as obras de Dostoiévski são mais atuais que a maioria dos livros de hoje.