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Etiqueta inteligente: Onde está tudo?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 31 out 2005, 22h00

Texto Mauro Tracco

Você já está cercado por etiquetas inteligentes. Em breve, elas estarão em produtos, plantas, animais e pessoas, transmitindo dados sobre como eles são, onde estiveram e o que fizeram. Conheça a tecnologia que promete mudar a nossa forma de lidar com os objetos e misturar de vez o mundo real e o virtual (mas também acabar com a privacidade).

Talvez você não saiba, mas sua vida já está cheia de etiquetas ultramodernas. São elas que acionam o alarme da porta de lojas quando um produto passa por ali, que permitem aos motoristas atravessar o pedágio sem parar e pagar só no final do mês ou funcionários entrar na empresa apenas chacoalhando o crachá perto da catraca. Em breve, essas etiquetas podem fazer ainda mais maravilhas: tomar conta das suas crianças, recuperar cachorros perdidos, eliminar filas de supermercados, descobrir segredos da natureza e entregar todas as suas informações pessoais para empresas interessadas… espera um pouco, como é que é?

Para o bem e para o mal, parece muita promessa para uma tecnologia que no final das contas é só um passo adiante dos códigos de barras. Mas é um belo passo. As novas tarjas – chamadas de etiquetas de “identificação por freqüências de rádio”, ou RFID, na sigla em inglês – podem ser lidas a distâncias muito maiores, identificam vários objetos ao mesmo tempo e guardam mais dados sobre cada um. São, em essência, um chip ligado a uma antena – mas isso é o suficiente para revolucionar o mundo.

As primeiras a se empolgar com a tecnologia são as empresas. Ela permite rastrear todos os passos no trajeto de uma caixa, desde a matéria-prima até a loja, seja ela no bairro vizinho ou na China. Nada de perdas, materiais em falta, objetos desviados. Essas facilidades fizeram, em 2003, a gigante rede de supermercados Wal-Mart obrigar seus 100 maiores fornecedores a colocar etiquetas RFID em todas as caixas de embarque de seus produtos. A idéia é apenas aperfeiçoar a logística e ganhar um controle maior sobre o estoque. Mas, para quase todo mundo que se dispõe a falar sobre o assunto, esse é apenas o primeiro passo de uma grande revolução. A previsão é que dentro de alguns anos você poderá passar reto pelo caixa e sair da loja com as compras do mês. Uma antena próxima registraria todos os itens do carrinho e debitaria o valor da sua conta bancária. Os mais preguiçosos poderiam colocar um leitor RFID na própria geladeira, para que ela detectasse quando o iogurte houvesse acabado e contatasse pela internet o supermercado, para que ele mandasse mais. Mas, para muitos, todas essas comodidades são sinônimo de problemas.

Sabão Grande Irmão

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Assim como as etiquetas podem dizer a um comerciante tudo sobre uma calça ou camiseta à venda, elas podem fazer o mesmo em relação ao dono dessas roupas. “Estamos testemunhando os primeiros passos de um plano ambicioso para etiquetar e monitorar todos os itens do planeta”, afirma Liz McIntyre, diretora de comunicação da ong Caspian (sigla em inglês para “Consumidores contra Numeração e Invasão de Privacidade pelos Supermercados”). Ela teme viver em um mundo onde seja impossível ir a qualquer lugar sem que um histórico completo de suas andanças seja registrado por leitores RFID. As etiquetas acompanhariam todas as suas compras e, onde você estivesse, informariam aos fabricantes seus hábitos de consumo. E-mails, mensagens por celular e mala-diretas poderiam fazer promoções baseadas nos itens que, segundo mostram as etiquetas, costumam freqüentar sua casa.

Só que brincar de Big Brother não é tão fácil. As únicas etiquetas que são viáveis de ser produzidas em larga escala, as LF passivas (veja infográfico na página 74), só podem ser lidas a 10 cm de distância. Além disso, o alto preço dos chips ainda torna inviável etiquetar todas as embalagens. “Pode levar 20 anos até etiquetarem todos os itens. Pode ser que isso não aconteça nunca. O custo precisa cair para menos de 1 centavo de dólar, o que ninguém sabe se é possível”, diz Mark Roberti, editor do RFID Journal, uma publicação dedicada exclusivamente a essa tecnologia. Mesmo assim, é possível que essas dificuldades sejam rapidamente superadas. “Uma etiqueta que custava 1 dólar em 2003 hoje sai por 10 centavos”, afirma Marcelo Pandini, gerente do programa de RFID da HP Brasil, que acredita que em 5 anos todos os produtos dos supermercados terão essas etiquetas, o que ainda gera polêmica. A distância de leitura também pode não ser um obstáculo: “Quando as pessoas passam pelo corredor de um supermercado, 10 centímetros é o suficiente para escanear bolsas, carteiras e roupas”, afirma McIntyre.

Talvez exista outro fator que facilite ainda mais a adoção das etiquetas: para muitos consumidores, nada mais legal do que ser rastreado. Em Seattle, EUA, a companhia Awarea equipou 6 telefones públicos com antenas. Quando um transeunte portando um chaveiro-RFID passa perto da cabine, alto-falantes instalados nas proximidades emitem propagandas sonoras. O conteúdo das mensagens é baseado no perfil pré-configurado pelo pedestre. 130 pessoas aceitaram usar o chaveiro fornecido gratuitamente pela empresa porque declararam ter interesse em ouvir propagandas com seu perfil. “As informações de hábitos de consumo já são coletadas de qualquer forma em compras por cartões de crédito e de fidelidade. No final, será preciso fazer uma escolha entre comodidade e privacidade”, diz Roberti, do RFID Jounal. Por falar em cartão de crédito, a American Express já lançou um com uma etiqueta RFID. O objetivo é economizar alguns segundos na hora de pagar as contas: em vez de passar a tarja magnética em uma máquina, um leitor pode receber as mesmas informações a distância.

Nas mãos da lei

Mesmo que você aceite que empresas podem vigiá-lo, ainda há outro motivo para manter a paranóia: os governos. O maior exemplo disso está nos passaportes americanos que a partir de 2006 terão um chip RFID embutido. A medida faz parte dos esforços pós 11 de setembro para aumentar a segurança do país e diminuir as fraudes do documento – teoricamente, um chip desses é mais difícil de falsificar. Críticos dizem que o tiro pode sair pela culatra. “Qualquer pessoa mal-intencionada com um leitor pode copiar esses dados”, diz McIntyre. “Mas existe um problema maior: no futuro, esse passaporte permitirá que o governo crie uma enorme base de dados para monitorar as pessoas em suas viagens.”

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As propostas não param por aí: o estado americano de Virgínia estuda a idéia de criar carteiras de motorista com RFID. O medo é que, por questões de comodidade, as empresas passem a usar o documento como chave para todo tipo de serviço eletrônico. “Quem não carregar esse documento, não terá acesso a esses serviços e não participará da sociedade moderna”, diz McIntyre.

Não é só um problema americano. Em São Paulo, a prefeitura está começando a usar o sistema para monitorar o trânsito. Cerca de 500 carros e ônibus voluntários circularão com uma etiqueta no pára-brisa e terão seus movimentos rastreados por 7 antenas espalhadas na zona oeste da cidade. Analisando o movimento dos veículos, eles poderão saber a velocidade média em cada trecho, os caminhos mais usados e possíveis alternativas. “Para nós, seria ideal que todos os carros tivessem uma etiqueta dessas. Mas, por enquanto, a intenção é usar a tecnologia com esses voluntários para trazer informações precisas sobre o trânsito na cidade”, diz Pedro Cury, da Companhia de Engenharia de Trafego da cidade.

O outro lado da moeda é que, assim como o governo pode vigiar todo mundo, você também pode. Especialistas dizem que caso a previsão de um mundo onde tudo possua um dispositivo RFID se concretize, então qualquer coisa poderá ser encontrada online. Não só as páginas, mas também as etiquetas, teriam um endereço único na internet. Esse número gigante de coisas na rede poderá se concretizar graças a um novo protocolo de internet chamado de IPv6. Ele vai expandir, e muito, o espaço disponível no mundo virtual. A quantidade de possíveis endereços passará dos atuais 10 bilhões para um número tão grande que você precisaria enfileirar 39 algarismos para descrevê-lo. Na prática, ele permite que cada centímetro da superfície terrestre ou objeto que seja etiquetado ganhe um endereço único na internet. Em um futuro não tão distante, as etiquetas podem trocar informações por rádio entre si e com redes de computadores. Rastreado as tarjas RFID, você vai saber se seu filho está realmente na escola ou se sua mulher passou mesmo a tarde fazendo compras como disse. Claro, eles também vão saber por onde você andou. É por isso que precisamos escolher agora que tipo de futuro queremos. O avanço tecnológico é inevitável, mas não pode ser o bode expiatório dos tropeços da humanidade. Cabe a nós decidir o que fazer com ele.

Aulas de etiqueta

Algumas das aplicações revolucinárias do RFID

LIXO HIGH-TECH

A etiqueta pode ser uma boa aliada em um dos maiores desafios ambientais: gerenciar o lixo. O RFID pode avisar quando um item reciclável (ou perigoso) foi colocado na lata de lixo apropriada, e facilitar o desenvolvimento de programas de incentivo à reciclagem. Por outro lado, podem levar à punição daqueles que não colaborarem com o programa e jogarem lixo no lugar errado. Um primeiro teste desse tipo de controle de lixo está sendo feito pela empresa japonesa Kureha em parceria com a IBM, que está usando as etiquetas para rastrear perigosos dejetos hospitalares.

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ROBÔS LIDÁRIOS

A empresa japones Secom desenvolveu um robô para vigiar crianças portadoras de etiquetas RFID em parques e playgrounds – ele seria até capaz de fotografar e soltar fumaça em intrusos que se aproximassem. De forma parecida, a Universidade de Utah trabalha em um robô que ajude deficientes visuais a fazer compras, andar pelas lojas e encontrar mercadorias. Outra possibilidade é a invenção de uma máquina-enfermeira para cuidar de pessoas idosas ou deficientes. O robô controlaria remédios e atividades domésticas.

FIM DO DESMATAMENTO

Pesquisadores da Universidade de Berkeley, nos EUA, implantaram em sequóias tarjas RFID com sensores de umidade, temperatura, luz e pressão atmosférica. A idéia é avaliar as condições ideais de crescimento das árvores e melhorar projetos de preservação. Se o custo da etiqueta baixar, será possível monitorar cada metro de uma floresta e até identificar autores de desmatamento.

ANIMAIS MONITORADOS

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O governo português passou uma lei que obriga todos os cachorros a serem etiquetados até 2007. A idéia é ter informações para controlar epidemias de raiva: os chips, injetados sob a pele, trazem o histórico médico do cão e o endereço de seu dono. Nos EUA, essa prática se torna cada vez mais comum, mas por um outro motivo: reduzir as chances de perder um ente querido. Veterinários e abrigos de animais estão comprando leitores desses chips para localizar os donos de cães e gatos encontrados na rua. A empresa HomeAgain (www.homeagainid.com), que cobra 68 dólares pelo chip, já etiquetou mais de 2,8 milhões de animais de estimação e possibilitou a recuperação de mais de 260 mil. As etiquetas também podem ser úteis para pesquisar a vida selvagem. A americana Beigel Technology Corporation criou, a pedido de cientistas na Antártida, um chip para identificar o peso de pingüins ao sair e ao entrar na colônia de filhotes. Eles puderam, assim, determinar quanta comida é levada para os novos bichinhos.

SAÚDE REGISTRADA

Cerca de 50 pessoas nos EUA implantaram um chip no próprio corpo com dados como nome, endereço, tipo sanguíneo, alergias e contato de seus médicos. Em caso de emergência, essas informações agilizam os procedimentos médicos e reduzem o risco de erro. Sistemas parecidos são usados em hospitais para encontrar pacientes, médicos e enfermeiras. Para controlar epidemias, seria possível identificar lotes de alimentos ou remédios impróprios, acusar se um carregamento sofreu irregularidades (como temperaturas altas demais) ou até indicar por quais fazendas passou um animal diagnosticado com a febre aftosa.

Há celulares com leitores de RFID. Aponte para uma etiqueta e saiba tudo sobre o objeto.

Uma biblioteca não teria que classificar livros – é só grudar nele um RFID e jogar em qualquer canto.

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Para saber mais

https://www.rfidjournal.com – Principal veículo de mídia especializado em RFID

https://www.spychips.com – Defensores da privacidade criticam o RFID

https://www.nocards.org – Site do Caspian. Consumidores contra as etiquetas

Uma para cada gosto

As etiquetas variam de acordo com a freqüência em que operam e pelo modo como obtêm energia (passivas e ativas)

LF (Freqüência baixa)

Frequência: 125 ou 134,2 quilohertz.

Alcance: Até 10 centímetros.

Para que já é usada: Controle de animais.

Como funciona: Um chip do tamanho de um grão de arroz é injetado com uma seringa sob a pele do animal. Ao ser escaneado, também traz informações como o telefone de contato do dono e o histórico veterinário do bicho.

HF (Freqüência alta)

Frequência: 13,56 megahertz.

Alcance: Até 1 metro.

Para que já é usada: Cadeias de suprimentos.

Como funciona: Ao sair da fábrica, a caixa do produto recebe uma etiqueta RFID, com dados como origem, destino e tipo de produto. Ao longo do caminho, sensores vão registrando todos os passos da caixa.

UHF (Freqüência Ultra-alta)

Frequência: 860 a 956 megahertz.

Alcance: Até 5 metros.

Para que já é usada: Monitorar veículos.

Como funciona: Antenas identificam a etiqueta no pára-brisa do carro e acionam o mecanismo que levanta a cancela de praças de pedágio. Também pode ser usado por prefeituras para monitorar o trânsito.

Ativa:

Usa bateria para ativar o circuito e emitir sinais para os leitores de mão. É um sistema parecido com o que os celulares usam quando querem se comunicar com as estações-base.

Passiva:

Não usa bateria. A energia que ela usa vem dos próprios leitores RFID, que emitem ondas eletromagnéticas e induzem a corrente na etiqueta. Por isso, tem um alcance muito menor do que as ativas.

O futuro em suas mãos

Enquanto alguns temem as etiquetas RFID, outros estão literalmente absorvendo a novidade. O técnico em computação Amal Graafstra, cansado de carregar tantas chaves, comprou um chip RFID e contratou um cirurgião para implantá-lo em sua mão. Agora, tudo o que Amal precisa fazer para entrar em casa, no carro ou no escritório é estender a mão esquerda e todas as portas se abrem. Ele gostou tanto que 3 meses depois repetiu o procedimento na outra mão. Veja o que pensa o homem que prefere sofrer cirurgia a usar um chaveiro.

Há quanto tempo você tem os implantes? Quais são os prós e contras?

Em março eu implantei o chip na minha mão esquerda e em junho na direita. Até agora não existe nenhum contra, não sinto os chips em nenhum tipo de atividade. Eu pratico mergulho, viajo muito de avião e passo sem problemas no detector de metais. Só às vezes, quando fecho a porta do carro, sinto uma pressão na mão que me faz lembrar que tenho um implante.

Você fez os implantes apenas para parar de carregar chaves?

Mais ou menos. Eu fiz o primeiro implante porque sabia que poderia usar a tecnologia para criar coisas que eu fosse usar, como acesso direto à porta da minha casa, ao meu carro e ao meu computador sem necessidade de chaves ou senhas. Também é possível usar os chips para substituir cartões bancários e outros que somos obrigados a carregar, como os de academia, convênio médico e biblioteca. Eu sou aquele tipo de pessoa que sempre perde chaves e carteiras. Por isso a idéia de ter essas irritantes peças de plástico e metal “grudadas” no meu corpo me parece tão sedutora. Mas eu sei que vai demorar para que bancos e outros estabelecimentos se adaptem a esse sistema.

O que você diria para pessoas que ficam paranóicas com a idéia de serem etiquetados, identificadas e monitoradas por dispositivos como os que você implantou?

É quase impossível localizar chips de curto alcance como os meus. Seria necessário aproximar o leitor a 10 centímetros da minha mão. Além disso, uma luva especial de malha metálica pode bloquear a transmissão das freqüências de rádio. Quem usa celular, cartão de crédito e carros já tem grande probabilidade de ser monitorado. Novas tecnologias em desenvolvimento usam biometria (informação biológica) para localizar e monitorar indivíduos. Eu posso me livrar facilmente de meus chips, mas não posso alterar minha face, impressões digitais ou DNA. Então, quem gosta de ser paranóico deveria se preocupar mais com essas coisas e deixar RFID no fim da lista.

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