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Ex-funcionário do Facebook lança livro contando os supostos podres da empresa

Sexismo, assédio moral, humilhação e mais de 20h de trabalho por dia são alguns dos pedaços desse relato

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 4 jul 2016, 20h15

Vale do Silício, 2011, corredores do Facebook. O Google estava prestes a lançar o Google Plus – uma rede social concorrente -, mas Mark Zuckerberg não ia deixar barato. Adotando uma postura de general de guerra, ele proibiu que seus funcionários saíssem do prédio até que o Facebook fosse melhorado para fazer frente ao novo rival. Durante esse período, os empregados ficaram na empresa 24h por dia, 7 dias por semana – e as famílias só podiam visitá-los nos finais de semana. O mais assustador: o que mantinha as pessoas trabalhando não eram as portas trancadas, mas a sensação de que estavam fazendo um sacrifício pela equipe. Uma verdadeira lavagem cerebral.

Pelo menos é esse o relato de Antonio García Martínez, um ex-funcionário da empresa que, depois de ser demitido em 2013, foi trabalhar no Twitter. Ele está lançando o livro Chaos Monkeys: Obscene Fortune and Random Failure in Silicon Valley (algo como Macacos do Caos: Fortunas Obscenas e Falhas Aleatórias no Vale do Silício), em que relata situações terríveis. Antes de entrar nelas, vale ressaltar: Martínez não apresenta provas de nada, a não ser seu próprio depoimento. E, como ex-funcionário demitido, tem uma inclinação natural a carregar nas tintas contra a empresa. Procurado pela CNN, pelo Business Insider e pelo Telegraph, o Facebook não quis comentar o livro.

LEIA: O lado negro do Facebook

Segundo Martínez, trabalhar na empresa é como estar em um culto onde Zuckerberg é o líder. “Ele é seguido por ‘crentes fieis’ que têm como único motivo de vida trazer todas as pessoas do mundo para a rede social”, diz o ex funcionário em uma passagem do livro. Para manter a disciplina, existe uma polícia interna chamada The Sec, que monitora tudo que os funcionários fazem – a sensação de estar sendo vigiado é constante. 

Mas isso é só um detalhe. Assim que começam a trabalhar na empresa, as pessoas passam por uma série de palestras do RH que explicam o objetivo de quem trabalha por lá. Martínez transcreve uma dessas ‘palestras educativas’: “Não estamos aqui para f****. Vocês estão no Facebook agora e temos muita coisa pra fazer. Então só façam, p****”. 

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Nas paredes, supostamente há cartazes com mensagens agressivas e incitadoras como essas. “Nosso trabalho nunca está pronto”, “Abraçar a mudança nunca é o suficiente”, “Faça mais rápido”, “A jornada está 1% terminada” e “O que você faria se não tivesse medo?”. Segundo Martinez, há pessoas que chegam a trabalhar 20h por dia, fazendo todas as suas refeições na cafeteria da empresa. 

LEIA: A verdade sobre os likes

Martínez conta que o dia em que uma pessoa começa a trabalhar por lá se torna seu “Faceversary” (algo como “Faceversário”), uma data marcada por celebrações, bolo e balões – a cada ano passado na empresa, o empregado ganha balões com um número: 1, 2, 3, 4. A partir dos 4 anos, começa uma discreta pressão para a pessoa ir embora – ela está velha e acomodada demais para trabalhar ali. E quando o funcionário sai da empresa, ele é tido como morto: é removido de todos os grupos de chat da empresa e abandonado por muitos dos antigos colegas. Segundo Martínez, alguns demitidos do Facebook chegam a postar uma foto de seu crachá com uma espécie de epitáfio.

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No meio disso, a figura do “general” Zuckerberg é marcante, e provoca a sensação de que o Facebook está sempre em guerra. Martínez conta que, quando alguém vaza informações confidenciais da empresa, Zuckerberg manda um e-mail para todos os funcionários, com o assunto “Por favor, se demita” – e acusa o suposto culpado na mensagem de um jeito agressivo e direto. A ideia é aterrorizar todo mundo e, ao mesmo tempo, fazer a pessoa que vazou informações servir de exemplo. 

LEIA: Seu Twitter pode ter sido hackeado – e estar à venda na deep web

Martínez levanta outro problema: a esmagadora maioria dos funcionários é homem, e as mulheres sofrem algumas discriminações. Segundo ele, as funcionárias são proibidas de usar roupas curtas ou decotadas demais – e a justificativa é que esse tipo de vestimenta pode “distrair” os colegas homens. Quando novos funcionários chegam, o RH dá uma palestra sobre isso, e se alguma mulher desrespeita esse código de conduta, leva uma bronca. Mas, nota Martínez, os homens não recebem qualquer orientação do tipo. O livro Chaos Monkeys: Obscene Fortune and Random Failure in Silicon Valley ainda não tem tradução para o português. Ele já está à venda nos EUA, e seu autor liberou na internet um trecho sobre a guerra do Facebook contra o Google (em inglês).  

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