João Steiner
Basta observar o Sistema Solar para perceber que a atração gravitacional do Sol tem uma influência mais decisiva do que a gravidade dos planetas sobre seus próprios satélites. Os mundos maiores prendem as luas à sua volta, mas, ao longo dos milênios, a força solar pode tirá-las de sua órbita. Um exemplo é Venus, que possui mais ou menos a mesma massa e a mesma força atrativa que a Terra. Então, por que ele não tem pelo menos um satélite, como nós? A resposta é que Vênus possivelmente teve um ou mais companheiros logo depois de o Sistema Solar ter sido criado, há mais de 4 bilhões de anos. Só que esses satélites foram roubados e engolidos pela estrela central. O caso de Marte é ainda mais claro, pois tem uma gravidade menor do que a da Terra e apesar disso possui dois satélites. A conclusão, mais uma vez, é que nosso planeta provavelmente já esteve acompanhado por um cortejo maior de luas, mas elas foram perdidas para o Sol. Essa regra sugere que Urano e Netuno têm mais satélites do que os conhecidos. A única exceção é Plutão. Primeiro, porque está longe, situado a cerca de 5 bilhões de quilômetros do Sol. Segundo, porque é muito pequeno, pouco maior do que a Lua. Para ter uma idéia, seu satélite, chamado Caronte, é quase do seu tamanho. Só nesse caso a força da estrela não exerce seu efeito dominante sobre a quantidade dos pequenos mundos orbitais do Sistema Solar.
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João Steiner, astrônomo e astrofísico da Universidade de São Paulo (USP)