Internet: Ligação direta com o mundo
A Internet, uma super-rede mundial de computadores, é uma cidade eletrônica onde há de tudo ¿ museus, universidades, revistas, correio, bibliotecas. Ela já é freqüentada por mais de 20 milhões de pessoas.
Fátima Cardoso
Você já foi à Internet?
É o lugar da moda. Com uma população que já é igual à das cidades de São Paulo, Paris e Nova York juntas, reúne pessoas de todo tipo: estudantes e pesquisadores, militares, fãs de esporte ou de jazz, turistas, gente disposta simplesmente a conversar sobre qualquer coisa ou a discutir Física Quântica. É um lugar onde existem lojas, universidades, museus, bibliotecas, bancos, centros de lazer, correio, bancas de jornais, centros de computação, trânsito caótico, filas de espera.
Parece uma metrópole. Mas não é. A Internet não existe fora dos fios e chips. Ela é uma gigantesca rede mundial, que une computadores espalhados por todo o planeta. Na verdade, a Internet não é uma só: é a união de muitas redes existentes em vários países; podem se comunicar entre si porque utilizam o mesmo protocolo para troca de dados, ou seja, falam a mesma língua.
Algumas redes chegam a ter milha-res de computadores. A Internet liga milhares de redes. Ao contrário das redes de computadores normais, ela não tem um servidor (um computador central que controla todo o imenso tráfego de informações). Do mesmo modo que não há uma companhia telefônica mundial, e sim várias companhias telefônicas nacionais interligadas. E mesmo assim um cidadão consegue falar com qualquer parte do mundo onde haja uma linha telefônica.
A Internet tem a peculiaridade de não ter dono. Não é administrada por nenhum órgão central. E, especialmente, ninguém controla as informações que circulam por ela. A conta é paga por todos os centros de supercomputadores que fazem as transferências de dados, cada um mantendo seu pedaço.
Muita gente já aprendeu os atalhos e os passos certos para viajar nessa rede. Um pesquisador da NASA, por exemplo, pode trocar informações com seus colegas espalhados pelos Estados Unidos. Um europeu pode comprar um CD de uma loja nos Estados Unidos. Um pesquisador brasileiro pode rodar um programa num supercomputador da rede a partir de seu simples micro ou pode admirar as obras da biblioteca do Vaticano. Parece uma bagunça. E realmente é.
“O que tem na Internet? Não sei, a cada cinco minutos aparecem coisas novas”, diz Demi Getschko, gerente de informática da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A Fapesp é uma das duas únicas entidades pelas quais se faz o acesso à Internet a partir do Brasil. A outra é a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essas linhas são pagas por órgãos como o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), que mantém a Rede Nacional de Pesquisa. Só para você ter uma idéia, a linha entre São Paulo e Chicago, nos Estados Unidos, custa 30 000 dólares ao mês. Por isso, só instituições acadêmicas têm acesso a essas linhas. O único serviço liberado a qualquer pessoa é o correio eletrônico, uma espécie de caixa postal usada para trocar mensagens.
Isso é o que de mais simples se pode fazer via Internet, pois dentro dela há vários níveis de troca de informações. Até alguns anos atrás, cada vez que alguém queria usar um desses serviços, precisava acessar computadores e protocolos diferentes. Uma vida difícil. O problema era que os zilhões de arquivos na Internet não tinham nenhum tipo de índice. Para acessar algum arquivo, o usuário precisava saber o nome dele. Se não soubesse, a busca seria tão produtiva quanto tentar achar o telefone do morador de uma cidade sem catálogo. Por isso, a Internet não era amigável. Entrar nela pela primeira vez era como chegar a uma metrópole inóspita.
A Internet, no começo, não oferecia tantas facilidades aos iniciantes. Pobre de quem entrava num grupo de discussão, por exemplo, e fazia perguntas típicas de um calouro — ou recebia respostas não exatamente gentis, ou era simplesmente ignorado. Foi criado até um arquivo chamado FAQ (frequently asked questions, ou questões freqüentemente formuladas). Consultando o FAQ, os novatos deixavam de perturbar os veteranos com questões ingênuas.
Esse pântano começou a virar um jardim quando Tim Berners-Lee, pesquisador do CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear), cansou-se de ter que acessar um computador diferente cada vez que usava um dos serviços da Internet. Em 1989, ele criou um programa que integrava todos os sistemas, e o chamou de WWW (WorldWide Web, ou teia mundial). Foi um grande passo. O WWW não só integrou tudo, como permitiu usar multimídia (sons e imagens) e hipertexto (um texto com palavras-chaves que, acionadas pelo mouse, remetem a outros textos, e assim por diante).
Mas era preciso dar uma cara para esse programa, ou uma interface. Só assim qualquer pessoa poderia utilizá-lo. O desafio foi aceito por um grupo de pesquisadores do NCSA (Centro Nacional para Aplicações em Supercomputação), em Illinois (EUA). No início de 1993, o NCSA jogou na rede o Mosaic, a interface que transformava as antigas telas, cheias de comandos complicados, em agradáveis páginas com cores, fotos e comandos facílimos de usar. Para os freqüentadores da Internet, principalmente os recém-chegados, era quase o paraíso.
O Mosaic está na Internet para quem quiser copiá-lo de graça para seu computador, e em versões para qualquer equipamento, seja Macintosh, PC ou estação de trabalho, que são computadores médios. O sucesso foi estrondoso. Em apenas um ano, o número de pessoas que acessaram o programa cresceu absurdos 220 000%. “Não tínhamos idéia de que o programa seria tão popular”, afirma Eric Bina, engenheiro de software do NCSA. Ele foi um dos que ajudaram a desenvolver o Mosaic. Recentemente, esteve no Brasil. “Agora estamos trabalhando em funções cooperativas”, diz Bina. “Quando uma pessoa estiver vendo uma página, poderá acrescentar informações e fazer comentários de viva voz para quem está do outro lado ouvir.”
Com o Mosaic, uma pessoa que entra no banco de dados da NASA não lê apenas um texto, mas pode ver imagens de satélite ou fotografias da Terra tiradas pelas tripulações dos ônibus espaciais. Pode fazer turismo em Paris e entrar no Museu do Louvre. Ler revistas. Conversar, fazer entrevistas— para isso, basta entrar no programa Talk.
Quando se conhece alguém, ou se tem pelo menos seu endereço (a identificação de cada usuário na rede), é só chamar e ver se a pessoa responde. A conversa, então, acontece numa tela dividida ao meio: a parte superior é reservada para a pessoa que fala e a parte inferior, para a pessoa que responde.
O Mosaic é um programa tão amigável que qualquer um pode facilmente criar suas próprias páginas. Foi o que fez Rodrigo de Almeida Siqueira, estudante de engenharia elétrica na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “Quando comecei a usar o Mosaic, achei que a USP precisava mostrar seus serviços na rede”, conta ele, que já passou uma noite inteira tran-cado num laboratório da Poli navegando pela Internet. “Em 10 minutos, já tinha aprendido a fazer uma página”.
Qualquer pessoa no mundo, portanto, pode entrar no pedaço brasileiro da Internet e obter informações sobre a USP: que faculdades existem, ou quais são os eventos culturais programados. Até o currículo dos pesquisadores pode ser consultado. No Laboratório de Sistemas Integráveis, na própria USP, inventou-se a moda de acoplar câmeras de vídeo aos computadores, para que as pessoas do outro lado da linha possam ver os usuários trabalhando.
É graças à facilidade de inserir informações na rede que aparecem novas páginas e serviços a cada minuto. Embora isso faça da Internet algo parecido com o caos total, uma das diversões é justamente sair navegando pelos programas e descobrindo o que há nesse oceano de informações. Uma pessoa é capaz de passar horas em frente a uma tela embrenhando-se nesse mundo que não pára de crescer. Quando o usuário encontra algo interessante, faz uma marcação naquela página, sob pena de nunca mais conseguir encontrá-la de novo.
Embora no Brasil a Internet só esteja disponível no meio acadêmico, em países como os Estados Unidos há empresas que oferecem acesso irrestrito à rede a qualquer um. Só é preciso ter um microcomputador e um modem em casa, e pagar uma módica mensalida-de (a partir de 20 dólares; mas pode chegar a centenas de dólares). Aqui, por enquanto, os usuários comuns têm que se contentar com o correio eletrônico. Quando houver uma linha brasileira ligada à rede que possa ser explorada comercialmente, os brasileiros também terão acesso irrestrito à Internet — e aí vai começar a graça.
Para saber mais:
Telas em língua de gente (SUPER número 3, ano 6)
Internet S. A.
(SUPER número 11, ano 8)
Internetiqueta
(SUPER número 1, ano 9)
Internet
(SUPER número 4, ano 9)
As novas estrelas da comunicação
(SUPER número 5, ano 9)
Entrevista pela rede
Estudante americano fala de suas aventuras pelo universo eletrônico
O estudante americano Chad Brown, que trabalha no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) no desenvolvimento de serviços de rede, respondeu ao chamado de SUPERINTERESSANTE numa tarde de maio. Conversamos com ele por um computador da USP que tem acesso à Internet. Chad Brown passa a metade do seu dia em frente à tela de um computador. “Eu uso a Internet para me manter informado sobre novos programas e serviços com os quais eu trabalho. Também procuro ficar em contato com os amigos, gosto de visitar museus e estou sempre vendo as imagens da NASA.”
Ele achou “legal” ter sido entrevistado desde o Brasil, e gosta de conversar com pessoas pela rede. “Um dos meus melhores amigos aqui no MIT é da Croácia”, contou. “Quando ele volta para casa, nós ainda podemos nos comunicar.” Trabalhando diretamente ligado à Internet, Brown, 22 anos, contou que está se acostumando “a uma rede verdadeiramente global”.
Telnet: o mais sofisticado, permite entrar em outros computadores da rede e até rodar programas neles.
• FTP (file transfer protocol, ou proto-colo de transferência de arquivo): possibilita enviar ou resgatar arquivos de computadores que estão fora ou den-tro da própria rede.
• Usenet: é por este nível que se pode conversar com outras pessoas, nos grupos de discussão, atividade muito comum na Internet.
Filha da Guerra Fria
Rede nasceu para resistir a um ataque nuclear soviético
A Internet começou a nascer na década de 60, no auge da Guerra Fria, quando o Departamento de Defesa americano imaginou uma maneira de proteger o sistema de comunicações em caso de ataque nuclear soviético, pois as estações de rádio, de televisão e telefônicas são os primeiros alvos de um bombardeio. Em 1964, um pesquisador chamado Paul Baran projetou uma rede de computadores que não tinha uma central de controle de informações. A rede continuaria funcionando mesmo se algumas de suas partes fossem atingidas. As mensagens eram divididas em pacotes e enviadas em partes, para aumentar a segurança.
Nos anos 80, a NSF (Fundação Nacional de Ciência, americana) criou uma poderosa linha de transmissão, que se tornou a espinha dorsal da rede. Além dos militares, pesquisadores e grandes empresas também ganharam acesso à rede. Há cerca de dois anos, as portas da Internet foram finalmente abertas ao público.