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Minerva, a universidade mochileira, quer ser melhor que Harvard por um quarto do preço

Start-up tenta reinventar curso superior com universidade sem campus e alunos que moram juntos em San Francisco, Berlin, Buenos Aires e Istambul. Brasil é um dos cinco países que mais manda alunos.

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 11 mar 2024, 10h11 - Publicado em 6 abr 2016, 14h15

Imagine uma universidade sem campus – sem sala de aula, sem auditório. Os alunos, que moram todos juntos num mesmo prédio, no meio da cidade, assistem às aulas pelos seus computadores, conectados a grupos pequenos, de no máximo 19 pessoas, num sistema bolado para forçar todo mundo a participar intensamente. Aí, a cada semestre, todo mundo se muda de cidade: o curso começa em San Francisco, nos EUA, depois zarpa para Berlim, aí Buenos Aires, Seul, Bangalore, Istambul e, por fim, Londres. Em quatro anos, não apenas o aluno terá estudado o currículo, mas terá vivido da Argentina à Coreia, da Alemanha à Índia, e aplicado seus recém-adquiridos conhecimentos em projetos reais mundo afora.

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Pois essa universidade existe, chama-se Minerva, e é uma entre tantas start-ups californianas que está tentando reinventar a educação superior. “Nossa filosofia é poupar com coisas que não são fundamentais para a educação – os prédios, por exemplo -, e investir apenas naquilo que realmente faz diferença para o aluno”, me explicou Robin Goldberg, “Chief Experience Officer” (algo como “diretora de experiência”) da Minerva. “E viajar com certeza é uma dessas coisas”, afirma Robin, que esteve em São Paulo esta semana para visitar alguns dos alunos do país que estão disputando vagas para começar as aulas em setembro – o Brasil está entre os cinco países com mais alunos na Minerva.

Estudar na Minerva certamente não é barato: a instituição cobra em torno de 10 mil dólares por ano. Contando moradia e viagem, o custo para o aluno sobe para pouco menos de 30 mil dólares ao ano (algo em torno de 10 mil reais por mês). Ainda assim, é bem menos do que o preço de uma universidade top dos EUA, como Harvard, Stanford ou Princeton – que cobram pelo menos 60 mil dólares ao ano só pelo curso. “Oferecemos uma série de bolsas, empréstimos e estágios para reduzir esse custo: nosso compromisso é que, se alguém se mostra qualificado para estudar na Minerva, teremos um pacote para que isso seja possível, de acordo com as condições financeiras de cada um”, diz Alex Aberg Cobo, diretor da instituição na América Latina. 80% dos alunos têm algum tipo de apoio para bancar os estudos.

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A ferramenta fundamental para que o modelo funcione é uma plataforma virtual que foi desenvolvida sob o comando do neurocientista americano Stephen Kosslyn, um ex-reitor da área de ciências sociais de Harvard que foi o reitor-fundador da Minerva. O sistema, desenvolvido para criar interações entre um professor e 19 alunos, foi todo baseado nas pesquisas mais recentes sobre a ciência da aprendizagem. Cada um dos 20 participantes passa o tempo da aula olhando para a imagem em vídeo dos outros 19 – é como se estivessem todos frente a frente. A participação é intensa: o professor pode por exemplo ir fazendo perguntas, que são respondidas por cada um em sua tela, e em seguida discutidas. Ou dividir a turma em grupos, a um toque de mouse, para que cada um desenvolva um projeto. Cada participação de cada aluno é imediatamente avaliada pelo professor – portanto está todo mundo sendo testado o tempo todo. E tudo fica registrado. “O que é incrível com esse sistema é que nenhum aluno fica na fila de trás: todo mundo tem que estar atento e participando”, diz Robin.

Mas o conteúdo das aulas, que ocupam 12 horas por semana da vida dos alunos, é só um pedaço da experiência da Minerva. Mais importantes que elas são os projetos que os alunos desenvolvem, em parceria com organizações de cada cidade. Em San Francisco, por exemplo, os estudantes se envolveram num projeto junto com a prefeitura para recuperar a UN Plaza, uma praça importante no centro da cidade. Além disso, trabalharam junto com a ópera da cidade, escrevendo músicas. E ajudaram a 500 Startups, uma aceleradora de novos negócios, a selecionar empresas para investir. A ideia é que projetos como esses, envolvendo ongs, governos e empresas de cada país visitado, sejam oportunidades de colocar em prática os conhecimentos teóricos aprendidos na aula – além de conexões que podem facilitar depois da formatura, na hora de encontrar trabalho.

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Os alunos estão satisfeitos. “Eu nunca me diverti tanto na minha vida, mas também nunca estudei ou trabalhei tanto”, diz Lara Bach, um dos três brasileiros na segunda turma da Minerva, que está terminando seu primeiro ano e se prepara para embarcar de San Francisco para Berlim. “Tem sido a experiência mais intensa da minha vida” concorda o também brasileiro Danilo Vaz, colega de Lara. “Acredito que minha curva de aprendizado nunca viu uma crescente tão longa e estável. Além disso, me sinto mais equipado para interagir com o mundo fora da universidade”, diz Danilo.

A Minerva foi fundada em 2014, com uma “turma-protótipo” de apenas 28 alunos, que foram “cobaias” para a elaboração do curso. Em 2015, os “cobaias” ganharam um ano de folga, enquanto pouco mais de 100 alunos entraram para o seu primeiro ano em San Francisco. Agora as duas primeiras turmas vão se juntar e todos os 139 embarcam para Berlim em setembro. Enquanto isso, uma terceira turma, de 306 alunos, começa o curso em San Francisco. “O interessante do modelo é que não é difícil escalar. Como não existe um campus físico, só precisamos de mais acomodações e mais professores para que mais alunos possam entrar”, diz Robin. 

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Para cada aula de 90 minutos, há 50 horas de trabalho de preparação e avaliação por parte do professor. “Por isso, cada professor pode ter no máximo quatro turmas – isso já é uma carga completa”, diz Robin. Um professor da Minerva pode viver em qualquer lugar do mundo, já que as aulas são remotas. Não à tôa, o emprego tem atraído gente boa, que inclusive está disposta a trocar universidades tradicionais pela experiência. “Acabamos de abrir vagas para professores e recebemos mais de 1.700 inscrições – 600 apenas na área de ciências e humanidades”, diz Robin. A concorrência entre os alunos também é grande: nesta última seleção, houve mais de 16 mil inscrições, de 160 países diferentes. Só 1,9% dos inscritos foi aprovado: uma relação candidato-vaga mais terrível que a de Harvard, por exemplo, onde o índice de aprovação é de 5,2%.

A Minerva é aquilo que os americanos chamam de undergraduate course – algo parecido com nosso “curso de graduação”, mas no geral menos especializado do que no Brasil. Os alunos decidem se querem se formar em ciências naturais, ciências da computação, negócios ou artes e humanidades – só depois, na hora de fazer a graduate school, ele terá a chance de escolher uma área mais específica.

Uma característica interessante é que a Minerva atrai um grupo extremamente internacional: só um quarto dos alunos são americanos, o resto vem de 50 países diferentes. Ao final do curso, espera-se que os alunos saiam com mais do que aprendizados: também com uma rede internacional de contatos, amadurecida por anos de companherismo de viagem e de experiências concretas de trabalho em diferentes partes do mundo.

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