Na passagem do equinócio, o Sol se põe exatamente sobre o ponto cardeal oeste
Características do fenômeno, em que o Sol se põe sobre o ponto cardeal oeste, dando para ver o exato momento em que o Sol toca o horizonte.
Augusto Damineli Neto
Este mês, o curso anual da Terra no espaço leva a uma mudança importante, batizada com o nome de equinócio da primavera. Até então, o norte terrestre ficava inclinado na direção do Sol, mas daí para a frente a situação se inverte: é a vez de o Hemisfério Sul ficar voltado para o Sol. A transição se dá no dia 22, às 16h43. Nesse dia, o Sol se desloca pela abóbada celeste exatamente sobre o equador. Quem tirar fotografia ou fizeram um desenho do horizonte no momento do ocaso, terá a chance de registrar o exato local em que o Sol toca o horizonte. Aí será o ponto cardeal oeste, a partir do qual, em qualquer época do ano, se poderão achar as outras direções: quem olha o oeste de frente, tem o leste às costas, o norte à direita e o sol à esquerda.
Na Europa, mesmo pessoas simples sabem dizer onde ficam os pontos cardeais de sua cidade; mas raros brasileiros, mesmo os que foram à universidade, têm esse senso elementar de orientação. Alguns pensadores dizem que é assim porque o Brasil se situa perto da faixa equatorial e são pequenas as mudanças na posição do Sol ou no fluxo de energia durante o ano. Por esse mesmo motivo, nossos índios não teriam conhecimento astronômico comparável aos dos povos antigos do primeiro mundo. Mas há um brilhante exemplo contrário a essa análise. Um dos ritos praticados no Brasil central – descrito na década de 30 – se desenrolava exatamente no dia do equinócio. Antes do amanhecer, o peje levava uma bola de látex ao extremo leste da avenida central, que dividia a aldeia em norte e sul. Então, ao nascer do sol, a bola era entregue a uma fileira de guerreiros do norte, que a passavam aos do sul. Ou seja, o ritual imitava a dança do Sol trocando de hemisfério no dia do equinócio. É admirável como um grupo olhado na floresta tenha encontrado o mesmo esquema de orientação de outras culturas distantes. E isso, sem terem sido impelidos por alguma necessidade primária de sobrevivência
Vênus na espiga da Virgem Ele é a atração principal nos crepúsculos da primavera. Não espere muito depois do pôr- do- sol para procurá-lo, ao menos no início do mês. Logo acima dele se vê uma bonita estrela – Spica, a mais brilhante de Virgem. Na fugira da constelação, Spica corresponde à espiga de trigo levada pelas virgens nas festas da colheita. O brilho aparente de Vênus é 100 vezes maior que o de Spica. Pode-0se notar, que dia após dia, à mesma hora, Spica estará mais baixa no horizonte e Vênus, mais alto, até se cruzarem na noite de 18.
Vêm aí os ventos solares
Por volta de 22, o campo magnético da Terra e o do meio interestelar se alinham, o que torna o planet pólo de atração do vento solar – partículas subatômicas, eletricamente carregadas, emitidas pelo Sol. Ao longo do ano, ao se chocar com a atmosfera, ele gera tempestades magnéticas com um máximo naquela data. Alguns crêem que tal ação magnética afeta a saúde, mas não há prova disso. Mesmo se houvesse influência, seria ínfima: o magnetismo dos fios elétricos, a que estamos sujeitos o tempo todo, supera em muito os efeitos extraterrestres.
Um mês com quatro primeiros de ano
Nada menos que quatro calendários têm ano-novo agora. Dia 11 começa o ano 1709 do calendário Diocleciano; dia 14, o ano 2304 do Selêucida e o 7501 do Bizantino; ao ocaso, dia 27, começa o ano 5753 do Judaico.
Planetas
Mercúrio: invisível, pois irá para o lado oposto do Sol (conjunção superior) no dia 15.
Vênus: astro mais brilhante após a Lua surge acima do horizonte leste ao pôr-do-sol. No inicio do mês se põe 1h30 após o Sol, e no final, 2h30.
Marte: em Touro, no inicio o mês, no fim da madrugada, acima do horizonte leste, passa para Gêmeos no meio do mês: ocultado pela Lua às 6h da manhã em 19.
Júpiter: cruza o céu de dia; a 17, passará atrás do Sol (conjunção superior).
Saturno: visível desde o inicio ate quase o final da noite, em Capricórnio; passa da Lua em 8.
Urano, Netuno e Plutão: não são visíveis a olho nu.
Augusto Damineli Neto é pesquisador do IAG/USP – Doutor em Astronomia