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O futuro dos notebooks

Até 14 horas de bateria. Liga e desliga imediato. Veja como os processadores com arquitetura ARM aproximam os laptops Windows dos MacBooks – e confira o teste de dois modelos.

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 mar 2024, 14h39 - Publicado em 14 set 2023, 14h49

OO celular, o Kindle, o console de games… no mundo moderno, as coisas eletrônicas simplesmente funcionam. São tão confiáveis quanto uma geladeira. Fazem o trabalho e estão sempre prontas, sem dor de cabeça. Com uma exceção: o notebook.

Ele demora para ligar e desligar, aguenta pouco longe da tomada, às vezes drena a bateria sem motivo aparente… é como um bebê, você sabe que vai dar trabalho e tem de ficar atento.

No fim de 2020, a Apple resolveu a questão: lançou um novo processador, o M1, que gastava muito menos energia. Graças a isso, a bateria dos MacBooks alcançou 16 a 18 horas, um patamar inédito. Isso significa que eles podem ficar em modo de espera, ligados e prontos para responder, o tempo todo – como os smartphones. 

O mundo Windows tentou igualar isso, mas não chegou nem perto. O problema é que os chips da Intel e da AMD são baseados na “microarquitetura” x86, que prioriza o poder de processamento, não a economia de energia – quando ela foi criada, em 1976, nem existiam notebooks.

A Apple também usava processadores do tipo x86, mas migrou para ARM: essa arquitetura, inventada pela empresa inglesa de mesmo nome, permite desenhar CPUs que consomem bem menos eletricidade.

Por isso ela é adotada nos MacBooks, e em todos os smartphones: segundo a Arm Limited, que fica sediada em Cambridge e tem 5.700 funcionários, até hoje já foram fabricados mais de 250 bilhões de chips baseados nessa tecnologia. Cada vez mais, o mundo roda em ARM.

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E agora existem laptops Windows com essa arquitetura. Dois chegaram recentemente ao Brasil – e nós testamos. Curiosamente, ocupam os dois extremos do mercado.

 

Ilustração 3D de diversos notebooks, com um box escrito “Uma nova era para os PCs” e um botão de “Clique aqui” que direciona para o infográfico completo.

 

O Compaq Presario 5320 é básico e barato: foi lançado por R$ 2.699, mas está em oferta por menos de R$ 1.700. Já o Lenovo ThinkPad X13s é de luxo, com preço à altura: R$ 11.699. Ambos usam processadores ARM (da linha Snapdragon, produzida pela Qualcomm) e vêm com uma versão especial do Windows 11, refeito para rodar nesses chips.

Ele é visualmente idêntico ao Windows comum – e funciona perfeitamente, com um porém (mais sobre isso daqui a pouco). Vamos começar pela máquina mais simples.

Talvez você nunca tenha ouvido falar da Compaq, mas ela já foi uma potência – e teve um papel fundamental na história. No começo dos anos 1980, conseguiu fazer “engenharia reversa” (decodificar e copiar a BIOS, a camada mais básica de software) do primeiro PC, criado pela IBM.

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Com isso, abriu caminho para que muitas empresas fabricassem clones daquele computador – o que derrubou os preços e espalhou bilhões de desktops pelo mundo. A Compaq se tornou líder do mercado global.

Mas, nos anos 1990, sofreu com a concorrência da Dell e perdeu fôlego; em 2002 acabou comprada por outra rival, a HP, que pagou US$ 25 bilhões (US$ 42 bilhões em valores atuais). E seu nome foi desaparecendo do mercado aos poucos.

O Presario 5320 que tenho em mãos é fabricado pela empresa brasileira Positivo, que licenciou os direitos de uso da marca.

Ele é todo de plástico, mas surpreendentemente bem construído: o teclado é sólido (a estrutura não “afunda” durante a digitação), o trackpad é preciso e a tampa abre e fecha com suavidade.

A máquina é fina, leve e bonita, não parece um laptop barato. Seus pontos negativos são a tela de 15 polegadas, que não é Full HD e tem ângulo de visão restrito (se você não estiver bem em frente a ela, as cores ficam lavadas). E a webcam, cuja imagem é meio borrada. Coisas típicas dos notebooks nessa faixa de preço.

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Já o processador não é nada típico. Trata-se de um Snapdragon 7c Gen2, com oito núcleos, que trabalha a até 2,55 GHz. Combinado aos 8 gigabytes de memória RAM e ao SSD de 256 GB presentes no laptop, ele proporciona um desempenho bem razoável.

Mesmo com dez abas do navegador abertas, incluindo textos e planilhas do Google Docs, o WhatsApp Web e música por streaming (Tidal), o notebook não ficou lento.

Um detalhe curioso é que, nos vídeos do YouTube, o áudio sempre ficava ligeiramente fora de sincronia com a imagem. Pesquisando na internet descobri ser um bug, que o navegador Edge apresenta ao rodar no Snapdragon 7c. Bizarro. Mas, felizmente, foi fácil de resolver (basta entrar nas configurações do Windows e desativar o item “Aprimoramentos de áudio”).

E a bateria? Ela dura muito, sim. Com todas essas coisas rodando e o brilho da tela ajustado para 30%, consegui impressionantes 12h18min – o dobro de um laptop similar com processador x86. Já é o suficiente para atravessar um dia inteiro de trabalho, com folga.

Mas, para ver se o Compaq conseguiria ir além, mexi em algumas configurações: desliguei o Bluetooth e ativei o modo de economia de energia do Windows e do Edge. Não fez diferença: 12h16 de bateria. Esse parece ser o limite.

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É um resultado muito bom. Até porque a bateria do Compaq é relativamente pequena, com capacidade de 40 Watt-hora – bem menos que os 66,5 Wh de um MacBook Air de 15 polegadas, por exemplo.

Isso significa que, em consumo de energia por hora de uso, o processador da Qualcomm é tão econômico quanto os chips da Apple. Inclusive quando o notebook está fechado porém ligado, em modo de espera. Ou seja, você não precisa mais ficar desligando o laptop para economizar bateria. Excelente. Mas com uma ressalva.

Imagem da sede da empresa Arm Limited.
Sede da empresa inglesa Arm, em Cambridge. Ela criou e desenvolve a arquitetura ARM – que licencia para algumas fabricantes de chips, como Apple, Qualcomm e Samsung. (Arm Limited/Divulgação)

O Compaq é rápido e gasta pouca energia quando está rodando softwares “nativos”, ou seja, que foram refeitos para rodar em chips ARM. O Windows 11, o Edge e o pacote Office já ganharam versões assim, mas a grande maioria dos outros programas não.

Se você tentar rodar o Chrome, que só tem versão x86, não vai gostar do resultado: o notebook fica lento, engasgando até na rolagem das páginas, e também gasta mais bateria (dura aproximadamente 9h, se você não arrancar os cabelos e desistir antes).

Isso acontece porque o Windows tem de “traduzir”, em tempo real, as instruções do navegador de x86 para ARM, o que consome poder de processamento – e sobrecarrega o chip.

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Então é recomendável evitar programas x86, e priorizar os ARM. Trata–se de uma limitação. Mas, ao mesmo tempo, não é tão problemático quanto parece.

Isso porque o Edge é uma cópia do Chrome: ambos usam o mesmo “motor” de renderização de páginas, e por isso rodam os sites e serviços online exatamente do mesmo jeito, com a mesma compatibilidade (até truques bem específicos, como um que utilizo ao operar o site da Super, funcionam nos dois).

Então não se perde nada, na prática, trocando o Chrome pelo Edge. Se você consegue resolver a sua vida só com o navegador e o Office (o suficiente para muita gente), o Compaq dá conta. E oferece, em troca, muita economia de energia. Sua autonomia não fica tão atrás dos MacBooks – por 1/5 do preço de uma máquina Apple.

Mesmo assim, seria bom que mais programas do Windows fossem convertidos para a arquitetura ARM. Atualmente, são pouquíssimos: tirando o Edge e o pacote Office, os principais são o Photoshop, o Spotify e o tocador de vídeo VLC.

A Microsoft vem tentando estimular a migração de outros. Em 2022 ela lançou nos EUA um computador desktop, o Project Volterra, com processador Snapdragon e Windows 11 – o público-alvo dessa máquina, que custa US$ 599 e parece fisicamente com o Mac mini, são justamente os desenvolvedores de software.

Também há rumores de que a empresa esteja desenvolvendo seu próprio chip ARM, para tentar bater de frente com os da Apple. Essa tese ganhou força em maio, quando ela publicou ofertas de emprego para uma nova divisão interna chamada “Microsoft Silicon”.

Enquanto esse suposto processador não chega, a Qualcomm segue aperfeiçoando seus chips para notebook. Sem muita pressa, é verdade: o Snapdragon 8cx Gen 3, atual topo de linha, foi apresentado no final de 2021.

Esse é o chip presente no ThinkPad x13s, o outro notebook ARM a ser lançado, este ano, no mercado brasileiro. Ele custa seis vezes o preço do Compaq, e tem muitas diferenças em relação a ele.

A começar pelo corpo, que não é de plástico: a máquina é feita com uma liga de magnésio, cuja leveza é espantosa (o ThinkPad pesa 1,06 kg, quase 200 g a menos que o MacBook Air 13, de tamanho equivalente).

Sua tela – Full HD, claro – é de 13 polegadas, menor que a do Compaq, e a bateria é maior: 49,5 Watt-hora. Por essa combinação de coisas, o ThinkPad tem autonomia ainda mais longa. Rodando as mesmas coisas que o Compaq, ele aguentou 13h52min longe da tomada.

Um diferencial interessante é que o Lenovo tem internet 5G. Você coloca um chip de celular, e aí nunca mais fica dependente do Wi-Fi (ou de acionar o modo “hotspot portátil” do seu celular).

Isso transforma a experiência de uso do notebook: ele passa a ter conexão  sempre, em todos os lugares, como um smartphone. As conexões 5G trabalham em frequências altas, e são famosas por consumir muita bateria.

Como a máquina emprestada pela Lenovo era um protótipo, ainda sem o 5G habilitado, não conseguimos avaliar o impacto disso. Mas testes realizados pela imprensa dos EUA apontaram que não chega a ser um problema: se você só usar o 5G, vai sacrificar um pouco mais de 1 hora da autonomia do ThinkPad. Ainda sobra bastante.

Só vale lembrar: para ter 5G no laptop, é preciso pagar um plano de internet separado (o ThinkPad aceita chips de todas as operadoras).

Ele vem de fábrica com 16 gigabytes de memória RAM e SSD de 512 GB, o dobro do Compaq. Seu processador, o Snapdragon 8cx Gen 3, também é sensivelmente mais potente.

Ele se saiu melhor com os programas x86: não engasgou tanto com o Chrome, por exemplo. Mas também sofreu um pouco e consumiu mais bateria com eles (no ThinkPad, se você só usar programas x86, a autonomia cai para aproximadamente 10h). Ou seja: continua sendo melhor priorizar os softwares ARM. Com eles, o ThinkPad é excelente.

Ao contrário da Apple, que rapidamente conseguiu migrar quase todos os softwares do Mac para a arquitetura ARM, o mundo Windows deve continuar com os dois pés plantados na x86 por enquanto. É compreensível.

A Microsoft não tem o poder de ditar quais CPUs serão usadas nos computadores (como a Apple faz nos Macs). E há muito mais programas para Windows do que para Mac – a conversão, se acontecer, levará tempo.

Mas, como o Compaq 5320 e o ThinkPad x13s mostram bem, a arquitetura ARM é o futuro: com ela, os notebooks Windows dão um grande salto de bateria, e se aproximam dos MacBooks.

Se a Qualcomm conseguir criar uma CPU Snapdragon mais forte, que seja capaz de rodar os programas x86 um pouco melhor, já pode ser o suficiente para uma migração em massa.

Talvez ela consiga. Em 2021, a Qualcomm comprou a Nuvia, uma empresa de chips que foi fundada por ex-engenheiros da Apple, e vinha sendo disputada a tapa: o Google, a Microsoft e a Intel também estavam no páreo para adquiri-la.

A Nuvia é valiosa porque criou um novo tipo de chip ARM, que promete ser tão potente quanto os melhores x86, só que gastando muito menos energia. Exatamente o que a Apple fez nos seus processadores M1 e M2.

O Snapdragon 8cx Gen 4, que a Qualcomm vai lançar no ano que vem, deverá ser o primeiro baseado no projeto da Nuvia. Se esse chip entregar o que promete, poderá revolucionar o mercado. Pelo bem dos notebooks, tomara que sim.

***

O fim da obsolescência
Novo tipo de laptop permite o upgrade das peças, como se fosse um PC de mesa.

A americana Framework Computer pretende transformar os notebooks em algo tão consertável e atualizável quanto os PCs de mesa – que são modulares, e por isso podem ter as peças trocadas pelo próprio usuário.

Imagem do notebook da Framework Computer.
No Framework, só não dá para trocar a tela. Todo o resto, sim. (Framework Computer/Divulgação)

A empresa foi fundada em janeiro de 2020, bem no começo da pandemia, o que atrasou as coisas: seu primeiro modelo, o Framework 13, só chegou (aos EUA) um ano e meio depois.

Fez sucesso, e a empresa lançou mais dois: o Framework 16 e o Framework Chromebook – que roda o sistema Chrome OS, do Google. As máquinas custam de US$ 949 a US$ 1.699, preços comparáveis aos dos demais fabricantes.

Imagem de um jovem trocando as peças do notebook da Framework.
Além de trocar a placa-mãe, onde ficam os componentes, também dá para substituir os conectores. Se um dia existir o padrão USB 5.0, por exemplo, o Framework irá aceitá-lo. (Framework Computer/Divulgação)

A diferença é que elas podem ser atualizadas: a Framework periodicamente lança novas placas-mãe, com CPUs e chips de vídeo mais modernos. As placas custam a partir de US$ 299, e são compatíveis com todos os modelos da empresa.

O upgrade é relativamente simples, e não requer ferramentas especiais: basta seguir um guia passo-a-passo publicado no site da companhia.

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