Marcelo Bortoloti
Nem tsunami, nem terremoto. Tragédia mesmo aconteceu há 4,5 bilhões de anos. Um planeta inteiro, do tamanho de Marte, caiu na Terra. A pancada lançou tantos destroços, e tão alto, que eles se juntaram formando uma pedra enorme no céu. Uma pedra que a gente agora chama de Lua. Essa é a teoria mais aceita sobre a formação do nosso satélite, já que funciona para esclarecer uma questão. O material da superfície da Terra é quimicamente parecido com o da Lua, mas o centro dos dois astros não. Isso abre para uma hipótese: a de que o satélite se formou com material da nossa superfície. E nada melhor para arrancar um teco tão grande de chão do que uma pancada com um objeto do tamanho de Marte. Só tem um problema: de onde veio esse tal planeta? Que órbita ele tinha? A resposta pode estar em um estranho asteróide descoberto há três anos, o 2002 AA29. Essa pedra do tamanho de um campo de futebol ocupa a mesma faixa de órbita que a Terra. Só que nesta viagem os dois fazem um jogo de perseguição. A cada século um vai na frente. Assim: imagine dois carros andando lado a lado num circuito oval. Durante 95 anos o asteróide vai mais rápido porque está mais perto do Sol, e aos poucos amplia a dianteira, até alcançar a Terra por trás. Quando ele está para colocar uma volta na Terra, atinge a distância mínima do nosso planeta: 5,9 milhões de quilômetros. É o que está acontecendo hoje, em 2005. Até o fim do ano, a corrida se inverte. Nossa gravidade o lançará como uma catapulta para mais longe do Sol. Então é ele quem passa a correr mais devagar, e a Terra ganha a dianteira por outros 95 anos. Os astrônomos Richard Gott e Edward Belbruno, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, acham que essa era justamente a órbita do velho planeta. E o asteróide poderia até ser um pedaço dele. Se for isso mesmo, estamos diante de uma relíquia espacial. Uma relíquia que pode explicar esse turbulento parto da Lua.