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Sem saber, usuários de Pokémon GO treinaram uma IA para andar pelas ruas

A empresa por trás do jogo, Niantic, anunciou que os escaneamentos de locais feitos por usuários serão utilizados para alimentar uma IA que será capaz de navegar espaços físicos

Por Bela Lobato
30 nov 2024, 12h00

Você já jogou Pokémon Go? O jogo viralizou quando foi lançado em 2016, utilizando uma tecnologia que inovadora de navegação no mundo real. Os jogadores andam pela cidade para capturar novas criaturas e batalhar com oponentes.

No Brasil, a febre ocasionou um bocado de situações inusitadas, como condições que atraíam usuários para a Cracolândia de São Paulo ou para o interior do Senado durante a Comissão que discutia o impeachment.

O sucesso caiu depois de alguns meses, mas o jogo mantém uma base fiel de usuários até hoje. Agora, a empresa por trás do Pokémon Go, a Niantic, anunciou que está utilizando os dados coletados pelo jogo para criar um modelo de IA capaz de compreender e navegar pelo mundo físico.

Em uma postagem de blog, a Niantic diz que está construindo um Large Geospaciel Model (LGM), ou “Modelo Geoespacial Grande”. O nome é uma referência direta aos Large Language Models (LLMs), treinados em grandes quantidades de texto extraído da Internet para processar e produzir linguagem natural. É esse tipo de tecnologia que embasa ferramentas de IA como o Chat GPT e o Gemini.

A nova ferramenta deve ser capaz de se localizar e compreender espaços tridimensionais de uma forma mais complexa do que a atual. Quando diferentes jogadores escaneiam um mesmo local, o jogo começa a construir uma base de dados que compreende aquele local sob diferentes ângulos, luzes e épocas do ano.

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Para a empresa, também é relevante que os locais em que os jogadores navegam, geralmente, não são acessíveis por carros. Justamente por isso, são espaços mais difíceis de serem mapeados – a não ser que você seja uma empresa com um acervo de mais de 10 milhões de locais no mundo.

Imagem do grande modelo geoespacia (Mapa Mundi).
Locais mapeados em 3D pela Niantic, empresa por trás do jogo Pokemon GO. (nianticlabs.com/Reprodução)

“A LGM permitirá que os computadores não apenas percebam e compreendam espaços físicos, mas também interajam com eles de novas maneiras, formando um componente essencial dos óculos de realidade aumentada e de outros campos, incluindo robótica, criação de conteúdo e sistemas autônomos.” diz o post no blog da Niantic. 

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A Niantic afirma que a inteligência artificial geoespacial “se tornará o futuro sistema operacional do mundo.” O post cita um exemplo prático que ilustra o que a LGM deve ser capaz de compreender:

“Imagine-se atrás de uma igreja. Vamos supor que o modelo local mais próximo tenha visto apenas a entrada da frente dessa igreja e, portanto, não será capaz de dizer onde você está. O modelo nunca viu a parte de trás do prédio. Mas, em escala global, vimos muitas igrejas, milhares delas, todas capturadas por seus respectivos modelos locais em outros lugares do mundo. Nenhuma igreja é igual à outra, mas muitas compartilham características comuns. Um LGM é uma forma de acessar esse conhecimento distribuído.”

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Assim, o sistema seria capaz de compreender o conceito da igreja e utilizar o conhecimento genérico sobre esse tipo de local para fazer suposições, mesmo sem saber informações específicas.

Um sistema de IA desse tipo poderia orientar robôs a navegarem autonomamente pelo mundo, uma capacidade que pode ser valiosa por várias razões – seja para entregar encomendas em vizinhanças ou armas em campos de guerra.

A obtenção dos dados

Segundo a empresa, os dados utilizados para treinar a IA foram obtidos em uma interação específica de escaneamento local, e não em qualquer interação do jogo. 

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“Esse recurso de escaneamento é totalmente opcional – as pessoas precisam visitar um local específico acessível ao público e clicar para escanear. Isso permite que a Niantic ofereça novos tipos de experiências de realidade aumentada para as pessoas aproveitarem. O simples fato de andar por aí jogando nossos jogos não treina um modelo de IA.”, afirma um adendo que foi acrescentado ao post após a repercussão do anúncio.

Esse tipo de escaneamento é o que permite o funcionamento de recursos como o “Pokémon Playgrounds”, em que o usuário pode colocar um Pokémon em um local específico, e ele permanecerá lá, para que outros vejam e interajam. Com o mapeamento detalhado dos espaços, a correlação entre os locais do mundo virtual e do mundo real chega a ter “precisão de centímetros”.

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