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Sistema solar: o primeiro de muitos

Acharam um irmão da Terra fora do sistema solar. Será que tem vida lá?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 jan 2023, 18h17 - Publicado em 31 Maio 2007, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Pegue um calendário de 2007, marque o dia 24 de abril e arquive para mostrar para os netos. Com sorte, você vai poder contar para eles que presenciou o momento em que a solidão cósmica da Terra terminou – o dia em que foi anunciada a descoberta do primeiro planeta a abrigar vida fora do sistema solar.

Verdade que é cedo para se empolgar com o Gliese 581c, como é conhecido o planeta (até que alguém pense num nome mais legal). Ainda não conhecemos quase nada sobre o astro, detectado de forma indireta pela equipe do astrônomo suíço Michel Mayor, do Observatório de Genebra. Mas já sabemos o crucial: ele gira em torno de sua estrela no interior da chamada zona habitável – a faixa na qual a temperatura é amena o suficiente para haver água líquida.

As informações sobre o Gliese 581c são vagas porque tudo que Mayor e companhia viram foi uma sutil oscilação no brilho de uma estrela. A oscilação é indício seguro de que há por lá um corpo pesado o suficiente para que sua gravidade desvie os raios de luz. O método permite que se estime o tamanho do planeta, até agora sem muita precisão. A melhor estimativa sugere um diâmetro 50% maior que o da Terra, mas com uma massa que seria cerca de 5 vezes maior.

A faixa de tamanho indica que o Gliese 581c é um planeta rochoso, tal como o nosso, ou quem sabe um mundo totalmente coberto por mares, como representamos aí ao lado. Essa idéia é respaldada pela presença de outros planetas no mesmo sistema estelar. Um deles, uma bola gigante de gás mais ou menos do tamanho de Netuno e muito próxima da estrela, só poderia ter chegado até onde está migrando de regiões mais distantes (os gigantes gasosos, como Netuno ou Júpiter, não se formam tão perto de sua estrela mãe). Se ele migrou, pode ser que o Gliese 581c tenha viajado também, diz Mayor, vindo de regiões do sistema que deveriam estar cheias de gelo. Ao chegar perto da estrela (muito perto, aliás, já que o planeta dá uma volta nela a cada 13 dias), o gelo teria derretido, deixando no lugar um legítimo planeta-oceano.

Mesmo que o Gliese 581c se revele inabitável, o simples fato de que ele foi achado aponta para um futuro promissor na busca por novas Terras. Isso porque ele gira em volta de uma anã vermelha. Segundo Cássio Leandro Barbosa, da Universidade do Vale do Paraíba, “é de longe o tipo de estrela mais comum do Universo” – corresponde a cerca de 70% das existentes no Cosmo (anãs amarelas, como o Sol, não chegam a 10%).

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O número de candidatos a planetas habitáveis deve aumentar um bocado nos próximos anos, graças a satélites como o euro-brasileiro Corot (lançado no fim de 2006). Mas só uma nova geração de sondas cujo lançamento deve acontecer a partir de 2020 vai ser capaz de enxergar diretamente a luz refletida pelos planetas. Para isso, é preciso lançar mão de uma série de truques complicados, como usar vários pequenos telescópios dispostos de maneira que a luz das estrelas seja “cancelada” e a dos planetas ganhe uma turbinada, finalmente ficando visível.

Só aí teremos informações mais completas sobre candidatos à vida. A luz direta dará pistas sobre que tipo de atmosfera o planeta tem (pois cada gás reflete a luz de maneira diferente) e, conseqüentemente, sobre a presença ou não de vida. Uma aposta segura será procurar atmosferas que pareçam “desequilibradas”. É que a vida recria substâncias continuamente, enquanto a tendência seria de que tais compostos desaparecessem depois de um tempo, alcançando o que se chama de “estado de equilíbrio”. Por exemplo, se houver oxigênio e metano ao mesmo tempo, deve haver algo vivo lá. Senão os dois gases tenderiam a se combinar, formando gás carbônico e água. Se eles convivem, é indício de que algum tipo de planta está soltando oxigênio, enquanto outras formas de vida “arrotam” metano (o gás da flatulência).

Todos esses pontos de partida, claro, baseiam-se apenas no que se sabe sobre a vida na Terra. Pode parecer bairrismo, mas até hoje cientista nenhum viu um ser vivo que não fosse terráqueo. Quer dizer: não temos, ainda, nenhuma razão para acreditar que as regras que permitiram o surgimento dos seres vivos no nosso cantinho do Universo sejam diferentes das que valem no resto do Cosmo.

Um em muitos

Já foram descobertos 206 planetas fora do sistema solar, mas até agora nenhum despertava muitas esperanças de conter vida

• Dos 206 planetas, 152 são gigantes gasosos imensos – maiores que Júpiter. E vida lá é improvável porque a pressão é insuportavelmente alta e a atmosfera não tem nada mais que hidrogênio e hélio.

• Dos 54 que sobram, 44 são também gasosos, mas um pouco menores (maiores que Netuno, porém, e inóspitos à vida). Pior: 36 deles ficam mais perto de seu sol que Mercúrio do nosso: ou seja, são quentes como o inferno.

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• Sobram então 10 planetas. Só que 3 giram ao redor de pulsares, cadáveres de estrelas gigantes que emitem raios mortais. Não exatamente o melhor lugar para morar.

• Dos últimos 7, 5 são esquisitices cósmicas: uns são Terras imensas, outros Júpiteres anões. Podem até abrigar vida, mas os cientistas não botam muita fé porque eles não se parecem com nada conhecido.

• Sobram então só 2. E 1 deles, oOGLE-05-169L b, é gigantesco e gelado, embora seja rochoso como a Terra. Provavelmente frio demais para algum ser vivo.

• Logo, dos 206, apenas 1 é parente próximo da Terra e uma aposta razoável de abrigar vida: nosso amigo Gliese 581c.

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