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Quer vislumbrar o futuro da rede? É só olhar para as crianças. Para elas, o momento de viver num mundo onde todos se conectam simultaneamente com tudo já começou

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 31 out 2000, 22h00

Heitor Shimizu

De cada 20 pessoas no mundo, uma tem acesso à Internet. Há apenas seis anos esse número era 20 vezes menor. Se a taxa de crescimento continuar a mesma, teremos, até 2006, toda a população atual online. Até agora, a grande maioria dos internautas tem se ligado na rede com a ajuda de um micro. E daqui a 20, 40 anos? “A Internet estará em todos os lugares. Sempre acessível, sempre disponível. E invisível, assim como a eletricidade”, diz Leonard Kleinrock, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. É bom prestar atenção no que Kleinrock disse à Super. Ele é nada menos que um dos inventores da Internet, tendo comandado a primeira transmissão feita pela rede, em 1969.

A mudança já começou. Hoje, a Internet está disponível comercialmente via TV, com as web TVs, ou via telefone celular ou PDA (aparelhos do tipo Palm Pilot), com o wap. Se a web TV ainda é uma incógnita, o wap é um sucesso. No Japão, por exemplo, mais de 10 milhões de pessoas aderiram aos celulares com Internet desde o lançamento da tecnologia no país, em fevereiro de 1999. Claro que, pelo micro, a experiência de navegar pela rede é muito mais rica do que pelos pequenos navegadores dos celulares, mas o aperfeiçoamento do sistema é uma questão de tempo.

A expansão da Internet para além do computador não pára. Você já pode ter acesso à rede a partir do som do carro (AutoPC, da Clarion), da geladeira (Electrolux e Sanyo), do forno de microondas (NCR) ou da máquina de lavar (LG). Com eles, é possível, por exemplo, enviar um pedido ao supermercado para abastecer o estoque de leite que está no fim ou pegar uma nova receita em um site de culinária para incrementar o jantar. Quer mais? Pois terá. O Bluetooth, consórcio formado por algumas das maiores empresas do mundo, está desenvolvendo uma infinidade de aparelhos, como celulares, câmeras fotográficas digitais, computadores e aparelhos de som que conseguem trocar dados entre si, sem a ajuda de fios. O objetivo é criar um padrão mundial para que os aparelhos possam conversar entre si. Com isso, você poderá, por exemplo, entrar na Internet e, à distância, operar os eletrodomésticos da sua casa.

“Estamos vendo um enorme crescimento do que eu chamo de computação nômade. As pessoas andam com laptops, PDAs, celulares, pagers bidirecionais e querem ter a possibilidade de ter acesso à Internet de qualquer lugar, a qualquer momento”, diz Kleinrock. “Com o tempo, veremos que o ciberespaço estará disponível não apenas por esses dispositivos portáteis, mas também imbuídos em nosso meio ambiente. Nossas mesas, cadeiras, automóveis, paredes, óculos, livros e tudo o mais terá acesso à Internet.” Dessa forma, você não precisará mais ter que se remoer por ter esquecido o nome da pessoa que acaba de reencontrar. É só piscar nos pontos certos do seu óculos e entrar na Internet para ter acesso à sua agenda pessoal, que você consulta em uma minúscula tela de cristal líquido só vista por você e não por seu interlocutor. (É uma boa invenção também para fugir de discursos chatos.)

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E que tal se conectar à rede sem o auxílio de engenhoca nenhuma? Em 1998, o cientista inglês Kevin Warwick implantou um chip no braço, que transmitia e recebia sinais de rádio. Com isso, Warwick, professor da Universidade de Reading, na Inglaterra, podia ser monitorado à distância. Ao passar pela porta do seu escritório, o computador percebia a sua presença e avisava, por meio de uma gravação pré-programada, quantos novos e-mails o professor havia recebido. A experiência foi um sucesso e Warwick está estudando agora maneiras de implantar dispositivos semelhantes ligados ao cérebro.

Tudo muito bonito, mas nada disso vai dar certo se um obstáculo crucial não for superado: a lentidão da rede. Hoje, a maioria dos usuários recebe dados a menos de 56 000 bits por segundo. Nessa velocidade, carregar uma foto leva longos segundos, uma música longos minutos, um programa longas horas e um filme… bem, é melhor esquecer. Os avanços no campo das telecomunicações prometem dar um jeito nisso, com a substituição dos obsoletos fios de cobre por redes de fibra óptica  Com os milhões de bits por segundo transmitidos pela fibra óptica, a Internet dá um passo para outro estágio, que está sendo chamado de Internet 2. Através da Internet 2, os centros de pesquisa poderão trocar pesadas imagens feitas por satélite ou praticar a telemedicina, realizando consultas ou até mesmo cirurgias a distância.

Será que justamente por estar tão assim presente no dia-a-dia em tudo e em todos os lugares, a Internet vai passar despercebida para as novas gerações? Você consegue se imaginar lendo reportagens sobre as maravilhas possibilitadas pela luz elétrica, interessado em que tipo de melhoria seria possível a partir do ventilador de teto ou pensando no futuro da lâmpada? Será assim que nossos filhos vão olhar para a Internet?

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Faça essa pergunta para o americano Vint Cerf. Aos 57 anos, Cerf é conhecido mundialmente como o pai da Internet. Ele foi o criador do protocolo TCP/IP, em 1973, tecnologia usada para a transmissão de dados de computadores por linhas telefônicas, sem a qual não haveria a rede que temos hoje. Cerf preocupa-se com o futuro da rede que ajudou a inventar e continua a ser um de seus maiores arquitetos. Além de fundador da Internet Society e vice-presidente da World Com, Cerf trabalha para a Nasa no projeto da Internet Interplanetária (veja quadro abaixo).

“Se alguém está interessado em saber como vai ser o futuro da Internet, só precisa observar as crianças”, diz Cerf. “É na rede que elas conhecem amigos em salas de bate-papo, fazem pesquisas para a lição de casa e paqueram. Para elas, a Internet não é mais incrível nem mais incomum que a eletricidade ou o telefone. Para as crianças de hoje, o futuro da Internet já começou.”

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Faz um DDI – Discagem Direta Interplanetária

“Alô, alô, marciano, aqui quem fala é da Terra.” Se depender da Nasa, a chamada interplanetária cantada por Elis Regina logo se tornará realidade – e o melhor é que, além de ligar para Marte, também será possível mandar e-mails. A agência espacial americana está projetando a infra-estrutura de telecomunicações que tornará muito mais fácil e eficiente a exploração humana dos planetas do Sistema Solar. A base dessa nova rede é, como não poderia deixar de ser, a mais importante rede terrestre, a Internet. A Internet Interplanetária (IPN, na sigla em inglês) será baseada na transmissão de dados por pacotes de bits, divididos ao enviar e agrupados novamente ao receber as mensagens.

Para tirar a IPN do papel, a Nasa resolveu unir forças com um dos inventores da Internet, Vint Cerf. O objetivo é construir a primeira parte da IPN a partir de 2003, com o envio de seis satélites a Marte, que orbitarão o planeta e formarão a Rede Marciana. Segundo Cerf, as pesquisas em Marte serão extremamente beneficiadas com a rede. A transmissão daquelas inesquecíveis fotos panorâmicas do planeta vermelho, feitas pela Pathfinder em 1997, foi um trabalho hercúleo. A Pathfinder pingou dados a uma média de 300 bits por segundo, velocidade 180 vezes menor do que a de um modem comum. Quando os seis satélites estiverem operando, os dados chegarão da Rede Marciana a 1 milhão de bits. Também será possível receber imagens em realidade virtual, o que permitirá fazer turismo em Marte sem sair da Terra.

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A rede interplanetária será especialmente útil caso o projeto Mars Direct der realmente certo. Encomendado pela NASA à empresa Martin Marietta Astronautics, esse plano de conquista do planeta vermelho planeja enviar uma nave sem tripulantes para lá antes do final da década, a um custo de 40 bilhões de dólares. A nave terá tecnologia para fabricar oxigênio, água e combustível para foguete, tudo isso utilizando apenas os elementos da atmosfera de Marte. De acordo com o projeto, dois anos depois de sua chegada já seria possível o envio de humanos e o início da construção de uma grande base marciana.

Mas Marte é apenas o começo. “O objetivo, com a IPN, é criar uma infra-estrutura que sirva não apenas para uma determinada missão, mas para inúmeras delas no futuro”, diz Cerf. Até hoje, toda espaçonave tem que ser auto-suficiente e levar um aparato de telecomunicação composto de transmissores, antenas, equipamentos para armazenar dados e coletores solares para alimentar toda a tralha. Com a IPN, isso não será mais necessário e as naves poderão se tornar menores, mais leves, mais baratas e, conseqüentemente, muito mais comuns.

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