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Um chip chamado dinheiro e carteira de identidade, habilitação de motorista, cheque, cartões de crédito…

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h34 - Publicado em 28 fev 1998, 22h00

Nira Worcman, de Nova York, e Wanda Nestlehner

Esqueça a carteira abarrotada de cartões, documentos e, quando a coisa vai bem, até de dinheiro. Em breve tudo isso estará embutido num único supercartão. Ou melhor, um chip com boa memória e capacidade de processar dados. É o smart card.

O futuro é testado no Brasil

Abra sua carteira. O que tem aí? Dinheiro – tomara – e mais talão de cheques, identidade, habilitação de motorista e um monte de cartões: de crédito, do banco, do plano de saúde, da locadora de vídeos, do telefone público. Que tal trocar tudo por um cartãozinho apenas, um só? Não falta muito para isso acontecer.

A tecnologia já existe, chama-se smart card (cartão inteligente, que vem com um chip capaz de processar dados), e sua eficiência está sendo testada em vários cantos do mundo, inclusive no Brasil.

Em Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo, já circulam quase 40 000 cartões que substituem o dinheiro (veja o infográfico da página ao lado) em 800 lojas, restaurantes e outras casas comerciais. O projeto é da Visa, mas há outros. Em Itu, também interior de São Paulo, 450 comerciantes aceitam 13 000 cartões distribuídos pelo Bradesco. No mundo todo, são quase 1 bilhão de smart cards. A previsão é de que serão 2 bilhões no ano 2000 (mais ou menos um para cada três habitantes do planeta). E um deles deverá estar no seu bolso. “Os mercados que mais esquentam são Coréia do Sul, Estados Unidos e Brasil”, avalia Alyxia Do, analista da empresa de consultoria americana Frost & Sulivan, de olho no novo mercado.

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A tecnologia tem tudo para substituir as formas atuais de pagamento eletrônico, que viraram mania nesses três países. Para você ter uma idéia, no ano passado houve uma queda de 25% no valor total de dinheiro impresso nos Estados Unidos, o que levou o Federal Reserve, a casa da moeda americana, a prever que até 2008 notas e moedas terão deixado de ser a principal forma de pagar contas. Pelo jeito, bolsas e carteiras podem mesmo sair de moda. E os mendigos terão que se informatizar.

Sob o risco da gatunagem eletrônica

A maioria dos smart cards que circulam por aí tem chips capazes de guardar 8 quilobytes de dados, algo como o texto desta reportagem. Parece pouco, mas já é sessenta vezes mais do que cabe num cartão magnético. E logo logo virão modelos 200 vezes melhores, com espaço de sobra para embutir todos os documentos de um cidadão.

Em Cingapura, já dá para pagar contas e usar telefone público com o mesmo plástico. Na Tailândia, pedágios aceitam a nova moeda. Há ainda cartões para o sistema de TV pay per view, para guardar dados de saúde e até aqueles que servem como documentos. “Logo, em vez de colocarmos o cartão na carteira, ela é que vai ser colocada no cartão”, disse à SUPER o americano Edmund P. Jensen, presidente da Visa.

Isso só não aconteceu até hoje porque havia o medo de falcatruas. O que está destravando a porteira é a evolução da capacidade do chip de processar criptografia, a transformação de mensagens em códigos incompreensíveis para quem não está autorizado a lê-las. No estágio atual, não dá para dizer que o smart card é 100% seguro, mas é bem difícil que ele venha se prestar à gatunagem eletrônica. Uma das garantias é que ele produz uma assinatura única para cada transação (veja o infográfico ao lado), que só pode ser lida por quem tem o decodificador adequado. Isso diminui o risco – que apavora governos e bancos – de que alguém descubra o segredo para carregar o chip com mais e mais crédito, transformando seu próprio cartão numa microfábrica de caraminguás. “A segurança é uma batalha constante”, disse à

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SUPER Bill Barr, presidente do Fórum do Smart Card, entidade internacional que reúne 300 empresas ligadas ao setor. “Precisamos estar sempre identificando os desafios para preparar defesas contra eles”, revela Barr. Os hackers não dão mesmo sossego.

Praticidade versus privacidade

A praticidade oferecida pelo smart card é tentadora, mas ele pode roubar um bem precioso do cidadão: a privacidade. Muitos dos cartões que estão sendo testados hoje nascem totalmente anônimos. O de Campinas é um. Ele não traz senha, nome, número de conta, nada. Durante o uso, porém, o anonimato deixa de ser assim tão anônimo. Para começar, as últimas dez transações ficam gravadas. Se alguém roubar o seu cartão, saberá que tipo de estabelecimento você anda freqüentando. E quanto mais aplicações forem embutidas, mais indiscreto o chip será. Terá a identificação do dono, talvez um histórico de saúde, até que um dia tudo estará ali, dentro do chip, desde o passaporte até a carteira profissional. Sua vida será um verdadeiro cartão aberto.

E como garantir que um larápio não se passe por você? Na hora de fazer um pagamento, ele terá de provar que é você, o que será impossível. O chip conterá dados biométricos para ser comparados com os do portador, por meio de um mecanismo parecido com o usado nas Olímpiadas de Atlanta, em 1996. Ali, os 40 000 donos de crachás eletrônicos eram identificados pela geografia da mão.

A tecnologia básica para que o chip substitua a carteira já está pronta. É boa e está cada vez mais segura. A França, onde o smart card nasceu e é adotado pelos bancos desde 1993, já enfrentou uma série de fraudes, mas hoje elas foram reduzidas a preticamente zero. De acordo com a companhia telefônica francesa, além de todas as vantagens, o smart card ainda falha sete vezes menos que os magnéticos comuns. O que falta é ver como vão se casar todos os interesses e necessidades dos consumidores, dos governos, dos comerciantes e dos bancos. Aí, sim, vão surgir produtos realmente interessantes. Sem fantasmas como o do Grande Irmão – a entidade fictícia que mantinha controle absoluto da vida de todos no livro 1984, de George Orwell –, ou da falsificação ou lavagem de dinheiro. Antes de ir para o lixo, portanto, é bem provável que a sua carteira surrada ainda sirva para carregar vários smart cards, cada um com sua função. E isso já será ótimo. Por mais que pareça estranho, você pode estar certo de que, desta vez, vai agradecer por ter o bolso aliviado.

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Do gado ao chip

Em suas várias formas, o dinheiro acompanha o homem há pelo menos 10 000 anos.

Há 10 000 anos

O homem começa a produzir mais do que consome e passa a trocar o que sobra. Mercadorias como o sal ou o gado funcionam como moeda.

Há 3 000 anos

A China já adota moedas de bronze, com formato de ferramentas. Acima, uma moeda-faca do século IX a.C.

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Século VII a.C.

São produzidas as primeiras moedas em forma de disco, na Lídia, Ásia Menor. Eram feitas de electro, uma liga natural de ouro e prata.

Século IV a.C.

O reinado de Alexandre, o Grande, na Macedônia, inaugura o costume de imprimir a estampa do soberano nas moedas.

Século IX

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A falta de cobre na China leva à invenção do papel-moeda (a foto mostra nota do século XIV, com 25 x 30 centímetros). No Ocidente, a Suécia é a primeira a imprimir notas, no século XVII.

Século XIV

Templos na Babilônia guardavam mercadorias há 3 000 anos e havia banqueiros na Grécia Antiga, mas eles proliferaram na Idade Média. No século XIV, em Florença, havia mais de 100.

Século XV

Leonardo da Vinci esboçou máquinas para tornar a cunhagem de moedas mais fácil e eficiente.

Século XVI

A falsificação corria solta. No final do século, havia 846 tipos de dinheiro na Europa. O astrônomo Nicolau Copérnico sugeriu a unificação da moeda por país.

Século XVIII

Começam a ser usados cheques na Europa. Eram cartas de crédito emitidas pelos bancos e nominais, portanto mais seguras.

1914

A companhia de telégrafo americana Western Union dá cartões de crédito aos funcionários. Eram de metal. Na década de 50 surge o Diners Club e a moda pega.

1960

O turco naturalizado americano Luther Simjian inventa o caixa eletrônico, mas ele só é adotado em meados da década de 70.

1974

O jornalista francês Roland Moreno inventa um chip com memória para estocar dinheiro para pagamentos. A primeira idéia era usá-lo num anel.

1979

O também francês Michel Ugon cria o primeiro cartão inteligente. O chip não só tem memória como processa informação. A França começa a testá-lo.

Anos 90

O cartão inteligente é experimentado em todo o mundo e empresas investem em criptografia em busca do comércio seguro na Internet.

Pra que dinheiro?

A vantagem do smart card é a rapidez. Ele não depende de autorização do banco.

1. O smart card é dado por um banco. Mas não é preciso ser cliente nem fornecer dados pessoais para conseguir um.

2. Quem não tem conta precisa ir a uma agência para “pôr dinheiro” dentro do cartão. Máquinas que passam o valor de notas direto para o cartão estão sendo testadas.

3. Quem tem conta pode usar caixas eletrônicos ou a Internet para injetar essa carga monetária. Os limites ficam em torno de 200 reais.

4. Na compra, o lojista digita o valor num terminal. O cliente confere, passa o cartão na máquina dá o OK. O valor é debitado do cartão e depositado no terminal. Em geral, não se pede senha. É dinheiro vivo. Perdeu, dançou.

5. Alguns cartões com funções específicas (para metrô ou ônibus, por exemplo) dispensam o contato físico. Basta passar com ele no bolso perto de um sensor e a transação é feita por ondas de rádio.

6. Tudo é feito off line, sem telefone, que só é acionado na hora que o lojista for transferir o total do dia para a sua própria conta. O serviço custa cerca de 2% da transação.

Computador de bolso

Em cerca de 25 milímetros quadrados, o chip carrega três tipos de memória.

1. EEPROM é o nome da memória que cuida do mecanismo de assinatura virtual (veja o infográfico na página ao lado).

2. Uma CPU controla os movimentos de entrada e saída dos dados e os processa. É o cérebro do chip.

3. A memória RAM é igual à do seu micro, uma área de trabalho, como um papel de rascunho. Só funciona quando recebe energia, depois é apagada.

4. A memória ROM é como o disco rígido dos computadores. Traz o programa básico de funcionamento e não se apaga sem energia.

Medidas do cartão

Largura: 85,6 mm

Comprimento: 53,98 mm

Espessura 0,76 mm

Uma chave para cada operação

Conversa criptografada dificulta fraudes com o smart card. O código usado uma vez não pode ser aproveitado de novo.

1. Um código chamado chave pública, um “aperto de mão” entre o smart card e a máquina leitora, faz o reconhecimento. Só depois a máquina libera a operação e envia ao cartão um “cheque nominal” virtual a ser preenchido.

2. O que o smart card faz é preencher e assinar o cheque. Só que, para isso, usa um outro código, a chave privada, produzindo, na hora, uma senha nova, que será descartada imediatamente após operação.

3. As informações voltam à máquina leitora a bordo do cheque do qual falamos antes. O dinheiro então é debitado do cartão e depositado na maquininha. Nunca mais a senha que fez a operação será reutilizada.

Compras na rede

Criptografia também possibilita o uso do cartão na Internet. Veja como.

1. Você acessa o site da loja e pede o produto. Depois, encaixa o cartão no Smarty, um leitor e gravador para smart cards parecido com um diquete, e o insere no drive comum do computador.

2. Para negociar na rede, consumidor e comerciante deverão se cadastrar em instituições que lhes fornecerão códigos criptografados garantindo sua identidade. Na hora da transação esses códigos precisam se reconhecer.

3. Dado o OK das duas partes, o sistema de chaves descrito à esquerda criptografa a mensagem retirando o dinheiro do cartão e depositando-o no software do comerciante. Mais tarde ele será depositado numa conta. O recibo é emitido e a mercadoria segue pelo correio.

Ele é a sua cara

Veja os sistemas que estão sendo desenvolvidos para personalizar o cartão.

A idéia é gravar no chip fotos do rosto, da íris ou da mão, a voz ou mesmo a impressão digital do dono.

Quando o cartão for apresentado, as mesmas informações serão colhidas na hora por uma máquina e comparadas.

Se os dados não baterem, o cartão será rejeitado e logo se saberá que o portador não é o dono. O larápio será desmascarado.

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